Prometida à Máfia

27

Abri levemente os meus olhos, e a claridade que me incomodara quando acordei mais cedo, já não estava mais lá. O quarto estava iluminado por uma aura laranja. Olhei para a porta de vidro da varanda, que diferente de mais cedo, estava aberta, revelando os últimos raios do sol, que se punha ao horizonte.

Reuni as forças que tinha e me sentei na cama, o meu corpo inteiro doía, e não era somente pelas chicotadas que Matteo havia me dado, era por algo mais.

O que eu tanto temia que acontecesse, aconteceu. Ele havia me tomado para si. Não apenas o meu corpo, mas agora o mais íntimo de mim, e também a minha alma.

Eu, Natalie Martinelli, que nunca idealizei me casar tão cedo, ou qualquer tido de relação conjugal, agora estava presa nos braços dele. Havia dado tudo o que eu prometi a mesma que nunca daria.

Mas o pior de tudo isso, é que mesmo com Matteo sendo tão cruel comigo, eu não conseguia odiá-lo. Eu o queria, não adiantava negar. Já estávamos juntos a alguns meses.

Todas as torturas que ele me fez passar, cada dor que ele me causou, ainda estava viva na minha memória como uma brasa acesa que jamais poderia ser apagada. Mas não era só isso, havia algo mais. Algo mais grandioso, mais sombrio, que nem eu e nem ele tínhamos o controle. E eu estava falando dos nossos sentimentos.

Perdida nos meus pensamentos, senti algo mexer ao meu lado. Olhei e vi Matteo deitado da mesma forma que eu tinha visto mais cedo. De bruços, suas costas tatuadas a amostra.

O silêncio do entardecer opressor, mas meu corpo não conseguia relaxar, principalmente por vê-lo ali deitado ao meu lado. Ele sempre tinha esse efeito sobre mim, uma mistura de medo e fascínio que me prendia como uma corrente invisível. Eu sabia que ele estava acordado. O quarto estava escuro, desviei o olhar dele, ainda sentada, mas eu sentia o peso de seu olhar fixo em minhas costas, um lembrete constante de que, mesmo quando estava quieto, Matteo era perigoso.

Eu me virei novamente para encará-lo, mas ele já estava esperando. Seus olhos claros pareciam mais escuros no breu do quarto, mas ainda brilhavam com aquele misto de crueldade e posse que sempre me desarmava.

— Não consegue dormir, Natalie? — ele perguntou, a voz baixa e sem qualquer vestígio de gentileza.

— Não... eu consegui dormir um pouco. — murmurei, minha voz quase um sussurro.

Ele se aproximou deitando de lado, sua mão deslizando por meu braço até segurar meu pulso com firmeza. Não havia força suficiente para machucar, mas o gesto ainda era dominante. E em seguida me puxou, me fazendo cair de frente para ele.

— Talvez seja porque você ainda está tentando resistir a algo que já perdeu.

Eu sabia exatamente do que ele estava falando. Matteo tinha o hábito de usar palavras para me desestabilizar, para me lembrar que, por mais que tentasse, eu nunca teria controle enquanto estivesse sob o mesmo teto que ele.

— Eu já me rendi a você, Matteo. O que mais você quer? — minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas meu coração estava disparado. Ele riu baixinho, uma risada sem humor, que me fez estremecer.

— Rendida? Não me faça rir. Você está aqui, mas ainda tenta esconder partes de si. Ainda tem essa ideia absurda de que pode manter algo só para você.

— Eu não... — tentei negar, mas ele me interrompeu, aproximando-se mais até que nossos rostos estivessem a poucos centímetros de distância.

— Você acha que pode me enganar, Natalie? Eu vejo tudo. Sei quando você tem medo. Sei quando está mentindo. Sei até mesmo quando você quer correr, mas fica porque não consegue se afastar. — suas palavras foram como um golpe, acertando cada uma das minhas inseguranças com precisão cirúrgica.