3: Boneca de Porcelana

153 16 11
                                    

Encostada no portão de três metros da famosa escola Saints Paul, vi a limusine preta estacionar no meio-fio. A janela abaixara, onde pude ver o rosto de desaprovação de Carrie.
"Qual o problema dela? Sempre me olha assim."
- Onde está o meu pai? - Perguntei, sem sair do lugar. Ela inspirou fundo, como se estivesse prestes a vomitar um oceano de ignorância - o que era provável - fitando-me desgostosa.
- Acabei de deixá-lo no aeroporto - respondeu. Sua voz me dá arrepios desagradáveis. Nos encaramos. - Vai entrar ou não, boneca de porcelana?
Rangi os dentes, cerrando os punhos.
- Prefiro ir à pé - rosnei. Ela riu, debochando, desmoralizando-me como se fosse o motivo de sua alegria - o que também é bem provável.
- Você não tem querer - sorriu cínica, abrindo a porta, retirando-se. Fuzilei-a, arfando de ódio.
Ela parou em minha frente, levando as mãos à cintura, equilibrando-se nos saltos estupidamente altos.
- Então no caso, irei na frente - sussurrara, jogando os cabelos recém pintados. Revirei os olhos, desviando, mantendo a maior distância possível dela. Adentrei o carro, suspirando incomodada.
"Todas as madrastas são assim, ou o meu pai que tem um péssimo gosto?"
Afaguei meu couro cabeludo, acalmando-me. Imagens voaram em minha mente, num fragmento lento de segundo.
Foi numa noite fria. Meu pai viajava a trabalho enquanto Carrie pintava as unhas no pátio principal da casa. Eu brincava pela casa, correndo com minha boneca de porcelana nos braços. No instante em que tropecei e caí em Carrie, nossa relação virou transparente, onde trocávamos olhares e palavras sinceras, demonstrando nossas reais percepções com relação uma a outra.
- Cristal - sorrira, apanhando a boneca num movimento bruto. - Alguém já lhe disse o quão parecida com essa boneca você é?
Suei frio, assustada pela nova aura que ela transmitia. Tal aura que só revela com a ausência de meu pai. Apenas sacudo a cabeça, negando.
- Certamente - sorriu, ajoelhando-se em minha frente. Dei dois passos pra trás. - Você é uma boneca de porcelana.
Engoli em seco, intimidada. Seu sorriso clareado artificialmente me ofuscava a visão. Ela agarrara a boneca pela cabeça, socando-a no chão, deformando-a por completo. Arregalei os olhos.
"-Você é uma boneca de porcelana."
Ela alargou o sorriso, dando um risada nervosa, levantando-se novamente.
- Captou a mensagem? - Perguntou. Apenas franzi o cenho pra ela e corri.
Me estiquei no banco, suspirando.
- Para onde papai foi? - Perguntei.
- Não tenho a obrigação de respondê-la - Carrie disse. Revirei os olhos.
- Falei com Richard - retruquei. Nosso motorista freiou num semáforo, virando-se para mim.
- Ele foi numa conferência de negócios com a agência da família Allen - respondeu, amigável como sempre, tendo as rugas muito bem marcadas pelos seus sorrisos sempre esbanjadores. Sorri de volta, agradecida. Ele me deu as costas, voltando os olhos ao trânsito. Agarrei meus cabelos, revoltada.
"Droga!"
Rangi os dentes, enfurecida. Bufei, cruzando os braços, visando meu reflexo emburrado na janela.
"Ou seja, não terá ninguém na casa dos Allen."
Resmunguei, esfregando meu rosto, desaprovando a ideia.
"Então Aquiles terá que ficar na minha casa."
Ao chegarmos em casa, me dirigi imediatamente ao meu quarto, abrindo a porta num solavanco, nada supresa com a imagem que tinha.
- Ne morem spati s tabo ta čas?* - Aquiles sorriu, já fluente, desfrutando meus travesseiros. Revirei os olhos, gemendo irritada.

___________________________________
* "Ne morem spati s tabo ta čas?": Posso dormir com você dessa vez?
___________________________________

- Primeiro japonês, agora esloveno? - Murmurei, adentrando o aposento, fechando a porta. Arfei, jogando a mochila em qualquer canto, sentando com as costas na porta.
- Japonês, esloveno, turco e ucraniano - disse, levantando-se, vindo em minha direção. - São os seus ponto fracos.
Corei, bufando.
"Ele acertou até a ordem."
- Claro que não - bufei, amarrando meus cabelos. - Sou boa em tudo.
Ele sorriu de canto, agachando-se na minha frente.
- Kaj sem takrat rekel? - Sorriu, inclinando a cabeça.

___________________________________
* "Kaj sem takrat rekel?": O que eu disse, então?
___________________________________

Seus cabelos dançaram por cima dos olhos azul cobalto, arrepiando-me só de assistir o movimento tão lento. Corei, tampando meu rosto.
"Nunca reparei desse jeito."
- Você é chato - minha voz soou abafada pelas munhas palmas. Ele riu, bagunçando meus cabelos num movimento reconfortante.
- E você é baixinha - sussurrou, biliscando-me. - Número 2.
Rangi os dentes, fuzilando-o.
- E quem deixou você entrar no meu quarto?! - Rosnei, levantando num movimento brusco, empurrando-o. Ele gargalhou, desviando pra longe de mim. Arfei, agarrando-o, chutando-o pra fora do meu quarto.
- In spali stran od mene!* - Ralhei.
- Vi ste me izziv?* - Sussurrou próximo da porta. Arregalei os olhos, sentindo sua voz subir pelas minhas pernas, arrepiando todo o meu corpo. Mordi meus lábios, atiçada.
- Sim - Respondi.

___________________________________
* "In spali stran od mene!": E durma longe de mim!
* "Vi ste me izziv?": Está me desafiando?
___________________________________

___...___...___...___...___...___...___...___...___
NOTA: o próximo capítulo começará a melhorar, prometo! Postarei daqui a três dias, sem falta! Obrigada por lerem até aqui T-T <3, não se esqueçam de votar e comentar! É super útil e importante! Ass. Grott

Os Benefícios do Ódio.Onde histórias criam vida. Descubra agora