Os ponteiros do relógio movimentavam-se devagar, fazendo com que eu batucasse o pé contra o chão nervosamente. Bufei, fixando os olhos nele com mais raiva.
"Vamos, mais rápido!"
O professor, cobrira o quadro com fórmulas algébricas estranhas, mas que eu já tinha conhecimento.
- Certo - disse, cruzando os braços. Apenas ignorei-o, fuzilando o relógio com mais vontade. Gemi, ansiando pela campa.
"Vai logo, pelo amor de Cristo!"
- Tragam-me um formulário com uma revisão de todas regras algébricas que estudamos até hoje, criando questões e resolvendo-as - ele disse, já recolhendo seus mateirais, pronto para sair. Por um instante arrastei os olhos por cima do ombro, vendo pelo canto do olho o rapaz que dormia sobre os braços. Suas madeixas negras refletiam o sol de meio dia que viajava pelas janelas distribuídas à minha esquerda, tendo fios microscópicos roçando em seus longos cílios. Franzi o cenho, desviando o olhar imediatamente.
"Como posso perder pra uma coisa preguiçosa dessas?"
A campa bateu finalmente. Antes que eu pudesse correr para fora da sala, Amélia agarrara meu pulso, ajeitando os óculos de grau no rosto.
- O mural não vai sair do lugar - murmurou. Revirei os olhos, virando pra ela. Abanei a saia quadriculada com as mãos, desamassando-a, enquanto Amélia recolhia seus cadernos. Fitei Aquiles se espreguiçar, acordando finalmente. Desviei o olhar, involuntariamente grudando os olhos em seu vago reflexo reproduzido na janela. Ele afagou os cabelos suavemente, esfregando os olhos, demonstrando sua sonolência.
"Ele é sempre tão quieto."
- Precisamos pegar as cópias da próxima reunião de classe - ela disse, espantando-me por um segundo. Nos encaramos.
- O quê? - Resmunguei. Ela cruzou os braços, visando Aquiles de canto. Fiz o mesmo, encontrando meus olhos com os dele, caindo naqueles precipícios afiados por puro azul. Senti arrepios, fuzilando-o. Ele sorrira.
- Kon'nichiwa* - dissera com a voz rouca pelo sono, já pegando sua mochila. Bufei orgulhosa.
"Japonês? Sério?"
- Raisensu?* - abanei a mão pelo ar, expulsando-o. Ele deu um suspiro profundo, dando as costas.
- Anata ga kidzuku toki?* - sussurrou discretamente, retirando-se. Franzi o cenho, engasgando.
"Anata... Ga... Hã?"
- Droga - murmurei, insatisfeita.
- Conforme-se - Amélia disse, ajeitando as alças da mochila nos ombros. Suspirei.
- Não precisa me pedir isso - resmunguei, acompanhando-a para fora da sala.
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* "Kon'nochiwa": Olá.
* "Raisensu?": Licença?
* "Anata ga kidzuku toki?": Quando vai notar?
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Após buscarmos as benditas cópias, fomos ao mural, que estava rodeado por uma desagradável multidão.
- Quer apostar quanto que eu fiquei abaixo de 100? - Amélia perguntou, indo ao fim do mural. Fui ao canto superior esquerdo, sendo empurrada por todos os lados. Rangi os dentes, incomodada, até sentir uma mão fria agarrar meu ombro. Virei-me, dando de encontro com Aquiles. Nos fitamos por um instante.
"Por que você tem parecido tão..."
- Parabéns - sorrira. Arregalei os olhos, virando-me para o mural. Foi quando pude enxergar claramente.1º Lugar: Aquiles Allen.
2º Lugar: Cristal Wright."...Diferente?"
Rangi os dentes, empurrando-o.
- Ora, não é uma posição ruim - riu, agarrando meu pulso suavemente, impedindo-me de socá-lo.
- Qual o seu problema? - Ralhei, louca para avançar nele.
"Eu tirei 10 em tudo. Como?"
- Eu ganhei um acréscimo de 2 pontos extras, quando substituí Patrick na peça do festival - sorriu, aproximando seu rosto do meu. Ele tocara a ponta de seu nariz no meu, fitando-me com toda a vontade do mundo. Engasguei nervosamente.
- Qual vai ser a próxima, grão de arroz? - Sussurrou.
"Ora, é assim?"
Sorri de canto, desafiando-o.
- Os jogos escolares estão chegando, marinheiro babão - bufei. Ele dera um sorriso satisfeito, afastando-se.
- Te vejo lá - acenara, dando as costas.
"'Te vejo lá'? Me poupe, provavelmente nos encontraremos daqui a, no máximo, 30 minutos."
Observei ele caminhar cabisbaixo até o fim do corredor, onde dobrara, sumindo de minha vista. Por algum motivo, meu peito doeu de forma desconfortável e preocupada. Franzi o cenho.
"Algo está errado."
- Adivinha - Amélia voltara boquiaberta, segurando nos punhos os cabelos finos e curtos.
- Ficou em centésimo primeiro? - Sorri, apoiando as mãos na cintura.
- Fiquei em nonagésimo nono - dissera, desacreditada.
Ri, agarrando seus ombros.
"Certo, isto também está errado..."
- Tá aí um motivo pra comemorarmos.
"... Mas sinto que algo vai acontecer."___...___...___...___...___...___...___...___
NOTA: o capítulo 3 já está em andamento! Desculpem, o começo ainda está completamente sem graça -.- Não esqueçam de votar! Lembrem-se que o comentário de vocês é fundamental! Obrigada desde já, sjsjsjsjsj s2 Ass. Grott.
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Os Benefícios do Ódio.
LosoweDuas crianças destinadas uma a outra, se posso dizer assim. Os fatos, no final das contas, acabavam resultando numa fuga que só podia ser corrida em círculos, fazendo com que os dois acabassem reencontrando-se novamente. Eram como o pólo negativo e...