Um

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Fly

Eu estava sentada no telhado de uma casa, analisando onde — segundo nossos
espiões — era a casa de Morgana.
Fui contratada para pegá-la e levá-la até Phanmor-one, nosso mundo fantástico.
Como eu sou apenas um soldado, não me deram maiores informações de quem é
ela ou por que devo levá-la. Mas existem boatos.
Seres fantásticos não devem se envolver com mundanos, simples assim.
De acordo com as conversas que ouvi no palácio antes de ser mandada para
cá, Morgana foi um infeliz deslize. Não me disseram de quem, mas deve ser
importante para ser exigido de nós tanto sigilo. E principalmente para mandar
buscá-la. Mestiços precisam ativar os poderes para saberem que são de fato
mestiços. Alguns nem têm poderes e em geral são esquecidos e vivem uma feliz
vida mundana. Mas não Morgana.
— Não achei muito do seu néctar, Fly. Então trouxe um pouco daquele que você
menos gosta.
— De qualquer forma, obrigada, Dex. — Dexter é meu companheiro de aventuras
e mais fiel — ou único — amigo. Estávamos juntos nessa como sempre.
— Então... algum sinal dela?
— Não, desde quando ela chegou da escola se enfiou no quarto e não saiu mais.
— Como sabe?
— A luz do quarto dela está acesa e posso ouvir a música. Acho que ela não teve
um bom dia. Seis horas presa no quarto é o mais novo recorde! — Dex se sentou ao
meu lado. Eu beberiquei meu néctar.
— Arght! Fala sério, Dex. Néctar de violeta?
— Foi mal, Fly, mas foi o máximo que consegui, não tem muitos girassóis
por aqui.
— Certo... tudo bem — suspirei. Eu sou uma fada, não esse ser pequenininho e
inofensivo. Eu, como mediana na espécie tenho 1,65 m, somos do tamanho de seres
humanos e não temos magia, só o bastante para nos ajudar em nossas missões.
Estamos mais para guerreiros do que encantados, no masculino porque também
temos homens, assim como Dex.
— Como vamos levá-la, Fly? — Dex me perguntou enquanto encarava a janela
do quarto.
— Na hora certa vamos saber. Ele me olhou como quem diz “não faça besteiras”,
mas eu o ignorei.

Ana

Quantas coisas podem tornar o mundo insuportável... mas a pior de
todas é a traição.

Não é como ver seu namorado beijando uma outra garota, é como ver
seu namorado — agora ex — beijando sua melhor amiga — agora ex. Parece
que o mundo desabou na minha cabeça. Não, eu não estou presa no quarto
chorando. Eu estou presa no quarto ouvindo música. Acho impressionante
o poder da música de evitar um crime. Por que se ela não estivesse me
acalmado agora... — respirei fundo — eu queria poder sumir e não ter que
vê-los amanhã, mas eu não fujo dos meus problemas.
Me levantei e abri um pouco a porta, meu pai ainda estava conversando
com aquela vadia da Nelly. Fechei a porta e aumentei o som, abri a janela
e pulei, precisava tomar um ar. Passei pela cerca do jardim, a rua estava
pouco movimentada, coloquei meu capuz e me dirigi para o único lugar
capaz de melhorar meu humor.
O Weapon Club não parecia muito cheio, agradeci por isso. Cheguei até
o “guarda-roupa” que vigiava a entrada e entreguei minha identidade.
— Morgana?
— Algum problema?
— Não, nenhum, é só que você é bem frequente no Weapon, não?
— Dei de ombros.
— É... posso entrar?
— Ah, claro! — Ele me entregou minha identidade e me deu passagem.
— Obrigada!
O Weapon Club é um lugar onde as pessoas usam armas legalmente,
mas não umas contra as outras, infelizmente. Temos alvos e pagamos para
acertá-los. A maioria do público são manés que trazem suas garotas aqui
no primeiro encontro e pagam mico não acertando nada. Algo eu tenho
que agradecer a Felipe, meu ex, ele foi um mané que fez isso, e aqui acabou
virando um dos meus lugares favoritos do mundo.
— Senhorita?
— Ah, me desculpe, estava distraída. — Entreguei meu cartão e a
identidade para a mulher do caixa. — Arco e flecha, por favor!
Peguei as luvas, os óculos, o arco e a bolsa de flechas na bancada e segui
para a ala destinada ao arco e flecha.
Dei um sorriso malicioso quando o alvo virou, na minha cabeça, a cara
de Felipe. Acertei a flecha bem no meio dos seus olhos verdes. Da segunda
vez, magicamente o alvo virou o rostinho perfeitinho da Melina, minha ex
melhor amiga. Acertei flechas no rosto dela. A cena deles se beijando veio na
minha cabeça e acertei várias vezes a bolinha vermelha, de forma que minhas
flechas quase partiam uma a outra. Respirei fundo e me virei para ir embora,
todos me encaravam, não entendi bem o porquê, até que vi Melina entre eles.
Além de clube oficial dos manés, o Weapon também era o clube oficial da
galera da escola, quer dizer, todo mundo da escola ia lá se distrair depois de
afundar nas provas. Conclusão: todo mundo sabia que eu era corna.
— Ana...
A voz de Melina parecia cortar cada membro do meu corpo. Tudo em mim
parecia tremer. Foi quando percebi que o chão também estava tremendo.

MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora