Quatro

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Ana

Aquilo tudo ainda parecia banal demais para mim. Fadas, bruxas, princesas,
“conto de fadas”. Mesmo sabendo que não era sonho, me perguntava quando é que
eu acordaria. Eu tinha pedido um tempo sozinha, e agora, Dex e Fly discutiam em
algum lugar longe de mim, mas de vez em quando eu escutava um grito ou outro.
Eram 3h30 e eu não sabia a que horas o meu sono resolveria aparecer para eu ir
embora, pensar em tudo isso deitada, sem eles para tirar dúvidas era pior.
E apesar de parecer tudo uma brincadeira de mau gosto, o que aconteceu no
Weapon me parecia uma boa prova de que era real. “Droga!”, pensei, “por que
minha vida já não estava suficientemente uma merda, não é?”. Me levantei para
caminhar um pouco, queria respirar. Sem querer encontrei o lugar onde Dex e Fly
discutiam. Não queria ouvir tantos gritos. Eu odiava discussões.
— Ei! — falei, mas ninguém me ouviu.
— EI!! — Dessa vez eu gritei, um leve tremor de terra aconteceu antes dos dois
olharem para mim.
— Será que dá para vocês pararem de brigar? Parecem duas crianças! Até parece
que isso vai adiantar alguma coisa.
— Estamos discutindo o que é melhor para você. — Dex disse soando calmo, mas
visivelmente alterado. Sorri irônica.
— O melhor para mim? Vocês ferram com a minha vida e ainda acham que
sabem o que é melhor para mim?
— Não fomos nós que começamos com isso, ok? — Fly se intrometeu. — A culpa
não é nossa, foi sua mãe que fez isso, só estamos tentando te ajudar.
— Que seja — bufei. — Vocês não sabem o que é bom para mim!
— Nós sabemos o que te espera. — Dex disse com um sorriso vitorioso e eu o
fuzilei com os olhos. De certa forma ele estava certo.
— Merda! — reclamei revirando os olhos.
Talvez eu esteja sendo injusta com eles, mas alguém tinha que levar a culpa. E
minha mãe não estava aqui para que fosse ela.

Fly

Essa garota já estava me dando nos nervos. Ela conseguia ser extremamente
irritante às vezes. Como ela ousa colocar a culpa disso na gente?
— Olha aqui, Ana — comecei. — Eu não quero e não posso te obrigar a nada,
então é o seguinte: o seu olho esta descaradamente roxo — notei seus olhos
arregalarem, só um pouco. — e, provavelmente daqui a algum tempo, não muito por sinal, o seu cabelo vai mudar, não sei como, mas vai. Sua pele provavelmente
não, porque bruxas se parecem muito com os humanos, mas geralmente essas são
as características que costumam divergir dos humanos, ou seja, a não ser que você
aprenda o feitiço para disfarçar suas feições fantásticas, você vai ser rotulada como
aberração. O único lugar que você tem é o nosso mundo, se não quiser viver lá, o
que eu duvido muito depois de você o conhecer, vai ter que ir aprender a droga
do feitiço, então para de agir feito uma adolescente revoltada e comece a pensar
responsavelmente como uma bruxa!
Dex me encarava. Nós servíamos as bruxas, e isso incluía respeito total, e não foi
assim que falei com Ana, mas que se dane! Essa garota mesmo sendo uma bruxa
tinha que ouvir umas verdades.
— Ok. — Ela disse depois de alguns segundos me encarando. — Pode ser que eu
esteja mesmo como você falou, a essa altura não duvido de nada. Mas, então? O
que faremos?
— Você decide. — Dex tomou a palavra. — O que você decidir nós faremos. —
Dex parecia um bocó se curvando para Morgana, eu não faria isso, não enquanto
ela não merecesse. Ela me olhou e nos encaramos por uma fração de segundos
que mais pareciam horas, seus olhos roxos eram ao mesmo tempo hipnotizantes e
intimidadores, mas me mantive firme.
— Vou pegar algumas coisas e deixar uma carta para o meu pai.
— Morgana! — Dex chamou enquanto ela se virava e ela o olhou de novo. — Ele
não sabe o que sua mãe era, e muito menos o que você é, para ele ela apenas sumiu.
Ela assentiu.
— Saímos antes do amanhecer — disse por cima do ombro enquanto ia em
direção ao jardim de sua casa.

MorganaOnde histórias criam vida. Descubra agora