Capítulo 2 - Sophie from Boston

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--Sophie White--

Londres superou todas as minhas expectativas. A cidade é exatamente com que crescemos vendo na televisão. A metrópole cinza possui um fluxo intenso do mais variado de pessoas, conquistando um lugarzinho especial no meu coração.

Logo, chego no meu hotel estrategicamente escolhido para poder me deslocar com facilidade  rapidez entre os lugares que eu tenho que ir. No caminho entre o saguão e o quarto, fico imaginando como serão os próximos dias. Me encontro sozinha, à milhares de quilômetros de casa sem ideia por onde começar. Porém, eu tenho um objetivo traçado e não vai ser agora que eu vou dar para trás.

Tento dormir e me ajustar ao fuso horário, mas as borboletas no meu estômago me impedem de isso acontecer. Levanto e ando de uma extremidade do quarto à outra, o que não diminui a minha ansiedade de maneira alguma. Ainda é muito cedo para começar a minha busca. Talvez tomando algo da minha farmácia ambulante me ajude no sono. 

Consegui ficar pronta em incríveis vinte e cinco minutos. Saio do prédio e sinto um vento frio cortar a minha face. Puxo o cachecol até cobrir as minhas bochechas. Estou com os pés congelando. As minhas botas não eram tão quentes quanto deveriam ser. Mas são bonitas e a primeira impressão é a que fica. Não quero que o meu pai tenha uma visão ruim de mim.

Saio do hotel e tento conseguir um táxi. Depois de cinco tentativas fracassadas, decido ir caminhando até o local, mas paro quando ouço uma voz atrás de mim.

- Você parece precisar de ajuda. - disse a pessoa.

Girei os calcanhares e me deparei com um garoto de cabelos loiros espetados e um sorriso debochado no rosto. Fiquei encarando-o por tanto tempo que me esqueci de responder.

- Hã? É. Sim. Eu estou há meia hora tentando pegar um táxi.- falei.

-É turista?- ele perguntou. Seus cabelos balançavam rebeldes com o vento que corria na manhã fria.

-Sim, sou de Boston. Meu nome é Sophie. - me apresentei.

Ele assobiou e apareceu um táxi na mesma hora. O garoto me fitou por alguns segundos e depois piscou.

- Até mais Sophie de Boston. - disse e saiu.

Entrei no táxi ainda perplexa pelo garoto. Acabo por esquecer que saí em horário de pico, e a ida até empresa na qual ele trabalha acaba sendo mais longa que o esperado, aproveitei o tempo para falar com a tia Jen e Steve. Tudo continua o mesmo em Boston e na Califórnia. Apenas a minha vida que está tomando outro rumo. Eu deveria estar indo para uma faculdade. Formei-me no ensino médio poucos meses antes de mamãe falecer. E o tempo depois, passei com ela no hospital. Mas depois que eu resolver as coisas em Londres, depois que eu ver e falar com meu pai vou cuidar da faculdade.

Quando chego à frente do prédio, não acredito. Eu sabia que ele tinha dinheiro. Mas não tanto. A entrada do prédio tem duas portas imensas de vidro. O primeiro andar é cheio de seguranças. Eu corro até o elevador antes de fechar. O único problema é que eu não sei em qual andar eu posso encontrá-lo. Provavelmente é no último. Espero um longo tempo até os funcionários chegarem aos seus respectivos andares. No último tem uma mesa grande a poucos passos do elevador, onde se encontra uma mulher de meia idade falando ao telefone. Ela me avista e desliga o mesmo.

- Bom dia, o que deseja? -diz a mulher com uma voz nasalada.

-Bom dia, eu queria falar com Robert Watson. Seria possível eu falar com ele no momento? - falei com a voz trêmula por conta do intenso nervosismo que eu sinto.

- Você tem horário querida? - falou a senhora. Eu neguei com a cabeça. - Então não posso fazer nada se não estiver marcado na agenda.

- Mas pode mandar um recado para ele? Se não tiver problema. - disse em tom de súplica.

Ela hesitou por um momento, mas eu continuei insistindo até ela ceder. Eu disse para ela falar para Robert que era sobre Lauren White. Se ele se lembrar dela, já é um imenso ponto ao meu favor. Ela se comunicou pelo telefone enquanto eu espero nos sofás que tinham para espera. Imediatamente ela se levantou e me guiou até a sala do Robert.

A porta da sala era igual a da entrada do prédio, porém menor. A sala era bastante ampla. Só tinha uma mesa, poltronas, e uma cadeira grande na qual eu creio que ele esteja sentado. A cadeira giratória estava de costas para mim, portanto, não o vi. Logo a cadeira virou e um homem levantou-se dela.

Ele era realmente bonito para a idade. Tinha olhos castanhos, os cabelos meio castanhos, meio grisalhos estavam completamente despenteados. Era alto, ao contrário de mim, que sou baixa assim como grande parte da família da mamãe. Ele mantém uma cara séria, a mesma que aparecia nas fotos que eu achei na internet. Mas a expressão séria passa para um grande ponto de interrogação estampado no rosto.

-Quem é você? Onde está Lauren? - ele perguntou apreensivo

-Bom, não sei como começar essa conversa. De longe é a mais difícil que eu já tive. - falei com a voz afetada pelo nervosismo. - Eu vou explicar tudo. Depois você pode fazer o que quiser. Gritar, me expulsar, qualquer coisa.

-Mas isso é inadmissível, eu vou chamar os seguranças. - e pegou o telefone. Eu não quero sair do prédio carregada pelos brutamontes que estavam na entrada do prédio. A única solução é ser direta.

- Eu sou sua filha. - falei quase sussurrando. Mas ele obviamente ouviu. Caso contrário, não teria largado o telefone no chão. - Então, como eu disse antes, ouça o que eu tenho para dizer e pode chamar os seguranças se quiser. Mas faça isso depois que eu acabar. - disse com uma confiança e coragem que não sei de onde saiu.

Ele assentiu e eu prossegui.

- 19 anos atrás a Lauren, minha mãe, estudou em Oxford onde conheceu você. Pouco tempo depois ela foi embora sem dar satisfações. O que realmente aconteceu foi o seguinte. Ela engravidou. E estava com medo da rejeição por parte do pai da criança. Voltou para os Estados Unidos para viver com a mãe dela e acabou terminando a faculdade lá mesmo. Ela criou a criança sozinha, sempre a escondendo quem era seu pai. Anos depois, ela descobriu que tinha uma doença grave. Ela não resistiu e acabou falecendo este ano. Só que ela deixou uma carta para a criança ir procurar o pai como seu último pedido. A criança o fez. E cá estou eu. - Tirei todo peso das minhas costas. Eu olhei para cima a fim de descobrir a reação dele, e o encontrei olhando para o chão com a boca aberta

- Então você é minha filha? - Robert perguntou com a voz mais calma.

Eu assenti e ele, sem reação, sentou-se na cadeira respirando com dificuldade. Assustada, com a ideia de que algo acontecesse fui auxiliar, porém ele claramente não gostou da ajuda. Quieto, tentava processar a notícia direito. 

Seria hipocrisia da minha parte dizer que não entendo a reação dele. Afinal, não é todo dia que aparece alguém afirmando que é o próximo na sua árvore genealógica. Mas confesso que esperei uma expressão melhor. Um abraço, talvez. A coisa que eu sempre via meus colegas fazerem quando encontram o pai quando saía da escola. Sempre quis saber como era o abraço de um pai. Mesmo não o conhecendo, eu esperava o mínimo.

- Você é igual a ela. - ele disse enquanto me analisava dos pés à cabeça.

- Mas ainda assim, devemos fazer um teste de DNA - disse com firmeza.

Então, comecei a conversar com ele. Contei da minha mãe, da minha vida em Boston, da tia Jen, do Steve, dos meus amigos. Ele, ainda um tanto receoso, não me contou muito sobre ele. Mas sei que mora com a mãe, a mulher e o enteado dele. E disse que Violet, a sua mãe, iria ficar muito impactada com a notícia. Ela havia conhecido a mamãe quando eles eram jovens. E sua esposa, Samantha, pelo o que eu entendi, é uma mulher muito vaidosa e vem de uma família da alta sociedade. O seu enteado, Henry é nove anos mais novo que eu, e considera Robert como um pai. Quando ele se casou com Samantha, Henry tinha dois anos. Os dois tem um grande vínculo. O pai dele faleceu em um acidente quando Robert tinha quinze anos. Os três são a única família dele.

Quando saí de lá, era final de tarde e estava esfriando mais ainda. Fui chamar o táxi, e, ao invés disso, 

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