Brésil

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O dia da viagem finalmente chegou. O grupo se dirigiu ao aeroporto de Paris com a animação e a expectativa típicas de quem está prestes a embarcar em uma nova aventura. O itinerário era relativamente simples: um voo direto para São Paulo, seguido de uma rápida conexão rumo ao Espírito Santo.

Já acomodados na classe executiva, Lauren e Louise se instalaram lado a lado, trocando comentários empolgados sobre o que fariam ao chegar ao Brasil. Atrás delas, Conrado e Julieta conversavam de forma descontraída, os assuntos variando entre expectativas para a viagem e histórias casuais do dia a dia.

No entanto, o cansaço logo venceu Conrado. Depois de alguns minutos de conversa, ele reclinou a poltrona e adormeceu, o rosto relaxado sob a luz suave da cabine. Julieta, sem intenção inicial, acabou deixando seu olhar repousar sobre ele. Observou atentamente os traços marcantes do moreno, a linha forte da mandíbula, os cílios longos que contrastavam com a pele bronzeada, a respiração tranquila que denunciava um sono profundo.

Por um instante, permitiu-se esse momento de contemplação. Conrado, sempre tão atento aos detalhes e meticuloso em tudo o que fazia, agora parecia completamente entregue ao descanso. Havia algo curioso nisso, uma dualidade entre o controle absoluto que ele sempre buscava e a vulnerabilidade de alguém que, naquele momento, simplesmente dormia.

A menor sorriu de leve, desviando o olhar ao perceber que seus pensamentos estavam indo longe demais. Ajustou-se na poltrona e tentou se concentrar em outra coisa, mas, mesmo sem querer, a imagem dele continuava presente em sua mente.

Julieta estava plenamente ciente do acordo de amizade que tinham. Desde o início, havia aceitado os limites impostos e se comprometido a não os ultrapassar. No entanto, por mais que sua razão compreendesse essa barreira invisível, seu coração às vezes teimava em desafiar as regras.

Ela buscava respostas no olhar de Conrado, mas toda vez que seus olhos se encontravam, qualquer pergunta que pudesse ter se dissipava no ar. Era como se a intensidade daquele olhar a desarmasse, apagando suas dúvidas e a deixando vulnerável a sensações que não ousava nomear.

Ainda assim, gostava da maneira como ele a via. Havia algo ali, sutil, que a fazia sentir-se notada de um jeito diferente. Talvez fosse imaginação dela, ou talvez fosse algo que o chefe não verbaliza, mas que se manifestava na forma como seus olhos a acompanhavam, mesmo nos momentos mais triviais.

Ela suspirou e desviou o olhar para a pequena tela à sua frente. Precisava manter o foco. Era apenas uma viagem, apenas amizade. Ainda assim, uma parte dela sabia que certas fronteiras não eram desenhadas com tinta permanente, às vezes, tudo o que bastava era um instante de descuido para que se tornassem borradas.

A viagem transcorreu sem imprevistos, e após horas entre conexões e voos, finalmente chegaram a Vitória. O avião começou sua descida, e o grupo, cansado, mas ansioso, voltou os olhares para as janelas.

A cidade se revelava aos poucos sob o céu dourado do entardecer, com o mar brilhando sob a luz do sol e as montanhas se erguendo ao fundo, formando uma paisagem que realmente tirava o fôlego. Nenhum deles disse nada por alguns instantes — o silêncio não era incômodo, mas sim uma forma de respeito diante da beleza que se desenrolava diante de seus olhos.

Julieta apoiou a cabeça contra o vidro, absorvendo cada detalhe da vista. Lauren e Louise trocaram um olhar cúmplice, enquanto Conrado, sempre observador, acompanhava a cena em silêncio, como se quisesse gravar aquele momento na memória, já se fazem anos que ele não pisava em solo capixaba, a energia que ele sentia de estar ali, era impagável. Estava feliz por sua decisão. 

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