Único

266 13 0
                                    

Os demais tributos ainda vivos foram resgatados, porém ainda assim não consigo me sentir totalmente aliviada. Para falar a verdade, nada neste lugar me agrada. Estou num caos de claustrofobia, cercada de gente que nunca vi - apesar de estar na companhia dos que também me fazem bem - e nada me motiva a permanecer aqui, a não ser a minha vontade de permanecer viva.

Logo após o pronunciamento da Coin sobre o resgate, rumei para o meu compartimento novamente. Este é o único lugar que faz eu me sentir segura comigo mesma. Abro o pequeno armário encostado na parede e fito o vestido cor-de-rosa quase terminado. Desejando, com todas as minhas forças, poder usá-lo um dia, quando sair daqui.

Suspiro e volto a fechar o armário, quando ouço, então, alguém bater na porta.

- Pode entrar - digo, desanimada.

Viro-me para ver quem estava batendo e vejo Haymitch entrar no compartimento, fechando a porta atrás de si. Ele acena com a cabeça, cumprimentando-me.

- Você está bem? - ele pergunta.

- Estou... estou - digo, sem ter total certeza. - Exceto por essa roupa ridícula que sou obrigada a usar, este ambiente horrível, essa gente estranha...

Haymitch deixa uma breve risada escapar.

- Qual é a graça? - pergunto e ele balança a cabeça.

- Nada - ele diz. - Só queria saber se estava bem. Só isso.

- Você sabe, Haymitch - digo e encolho os ombros. Sento-me na cama com o olhar baixo. - Não me sinto eu mesma sem... você sabe.

Noto com o canto do olho Haymitch se aproximar com as mãos nos bolsos. Então ele senta ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns instantes, até eu sentir sua mão pousar na minha perna.

- Haymitch - começo a dizer. Umedeço os lábios e olho para ele. - É verdade aquilo que você disse? Que você gosta mais de mim sem toda aquela maquiagem?

Uma expectativa começa a surgir dentro de mim quando o vejo sorrir. Então ele concorda com a cabeça e sinto as batidas do meu coração acelerarem.

- É sim - ele diz. Uma sensação estranha começa a tomar conta de mim, mas não faço ideia do que se trata. Eu apenas presto atenção, desejando que ele fale mais. - Você não é feia, Effie. Nunca foi, para falar a verdade.

Sinto meu rosto corar e mordo o lábio, olhando para baixo. Percebo sua mão ainda pousada na minha perna e ponho a minha em cima. Então ele a vira e segura a minha, puxando-a para mais perto. Sou induzida a olhar para ele e quando me dou conta, nossos lábios se encontram e ele me beija, mas em momento algum penso em recusar.

Não sei por quanto tempo os beijamos, mas quando tomamos distância eu não consigo tirar os meus olhos dele. Seguro suas mãos nas minhas e presto atenção nelas por alguns instantes, até voltar a olhar em seus olhos.

- É... - começo a dizer. - Definitivamente, eu prefiro você sóbrio.

I like you better soberOnde histórias criam vida. Descubra agora