O Último Oráculo de Melkat

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Zaim Mamat subia silenciosamente a escadaria esculpida no enorme pilar de pedra questionando-se do porquê de não o deixarem viver seus últimos anos em paz. Uma mão apoiava-se na rocha nua enquanto a outra segurava a túnica sobre o peito que pulsava em desespero. Não queria olhar para baixo ou para o lado, para evitar uma vertigem que encerraria sua brilhante carreira como líder militar e político com uma vexaminosa queda certamente atribuída a sua idade avançada.

Meses preso a um forte isolado cuidando de uma rebelião nas minas de cobre, e agora isso. Quando voltaria a deitar-se em seu colchão de plumas cercado por suas amadas esposas? Não que tivesse qualquer pretensão de obter qualquer coisa além de carícias, música e comida na boca. Em sua idade, não tinha nem saúde nem vontade para quaisquer outros prazeres.

Os degraus finalmente terminaram no que restava de uma plataforma de pedra esculpida de forma tosca pelos antigos habitantes daquela terra. Uma dupla de lanceiros imperiais o cumprimentaram com o respeito devido ao líder da província. O Zaim apenas fez um sinal com a cabeça, preferindo não arriscar-se a falar. No ritmo em que seu coração pulsava, resultado de anos de sedentarismo pós-conquista, um simples "boa noite" poderia sair como um ganido patético.

Eram ambos jovens demais para conhecerem a era antes da chegada do Império de Diamante, mas nem o uniforme nem os cabelos presos sobre a cabeça no estilo do povo escolhido ocultavam o tom de pele mais claro, quase como mogno. Eram descendentes locais, filhos ou netos da dinastia extirpada pelo Zaim.

Atrás dos lanceiros estava o portal de pedras empilhadas e mais um lance de escadas oculto pelas sombras. O Zaim fingiu estudar os entalhes no portal enquanto recuperava o fôlego. Já havia visto muito daqueles entalhes na juventude enquanto saqueava a cidade de Lugdasa e tantas outras naquelas região. Retratavam os cultos hereges aos demônios invisíveis que supostamente habitavam aquele lugar.

O Imperador fora bastante claro em relação ao que fazer com aquela religião e seus oráculos. Não era a toa que o Zaim se surpreendeu em descobrir que uma daquelas malditas mulheres ainda estava viva. Seu assistente Dulani, um jovem filho de nobres da capital, ousara questionar a fé no deus-vivo, dizendo que, talvez, os demônios a tivessem protegido do onipotente Imperador.

Zaim Mamat sabia que não era o caso. Se aquele oráculo estava vivo era porque assim desejara o Imperador.

Mamat nem deu ordens para que Dulani fosse fisicamente punido pela sua descrença. Que diferença fazia? O último membro do clero do deus-vivo deixara Melkat dois anos antes. Não era o Zaim que perderia seu tempo fazendo o trabalho daquela corja gananciosa. Estava velho demais para perder tempo com isso. Além do mais, se os jovens questionavam o poder do Imperador de Diamante, de quem era a culpa se não do próprio clero omisso?

Ligeiramente recomposto, o Zaim passou pelos dois lanceiros e recomeçou a subida. Ao menos dessa vez as escadas estavam contidas por duas paredes estreitas que mal permitiam a ele passar sem raspar os ombros nas pedras mal lapidadas empilhadas para formar o templo. Não era à toa que a construção estava em ruínas.

Por que esses malditos oráculos precisavam se esconder em um lugar tão inacessível? Qual era o problema em fazer esconderijos perto do chão? Havia inúmeras cavernas na costa perto de Sukutai, onde o clima era muito mais agradável, e comida e bebida decentes eram abundantes. E que não culpassem o próprio Zaim por isso! Sabia bem que oráculos de Melkat já se empuleiravam em lugares como aquele bem antes de seu tempo.

O Zaim emergiu no que parecia ser o único cômodo de um templo primitivo. Pouco do teto e das paredes restava de pé. O lugar provia pouquíssima proteção para alguém que era considerada santa para seu povo. Era, afinal, alguém capaz de falar com os demônios que cultuavam, não é mesmo?

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⏰ Última atualização: Jul 30, 2015 ⏰

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