Piloto

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- Point Of View - Ramona -

Tive uma infância feliz, quase perfeita, mas "quase" não é "perfeita". Meus pais eram muito atenciosos comigo, sempre tive o que precisava e nunca nada me faltou. Papai era dono de uma fábrica de meias, ele sempre trazia um par pra mim quando voltava do trabalho, uma nunca era igual a outra, com cores e estilos diferentes, a que eu mais gostava era de uma preta com bolinhas brancas, 3/4 que separava cada dedo do pé. Meu pai era bem alto, quando eu era pequena achava que ele era o homem mais alto do mundo, tinha um bigode que ele ajeitava o tempo todo e o cabelo fosco e bem escuro assim como o de minha mãe.

Mamãe era uma mulher muito bonita, pra mim ela era a mulher mais bonita desde que nasci. Ela ficava em casa comigo enquanto papai ai trabalhar de manhã, e eu adorava pentear seus longos cabelos pretos, cujo os quais eu herdei, papai chegava antes do almoço, mamãe e as cozinheiras faziam o melhor almoço de todo Reino Unido, claro que minha mãe não precisava ajudar as cozinheiras, mas ela fazia questão.

Eu me lembro bem que até meu aniversário de nove anos eu descia escorregando pelo corrimão da escada em espiral e nosso mordomo, Alfred, me chamava atenção dizendo que eu podia me machucar. Depois disso, não desci mais.

Minha casa pegou fogo  por causas desconhecidas dois dias depois dos meus nove anos. Eu fiquei sem casa, e sem meus pais. Depois que morreram fui morar com meu Tio Lúcio em sua casa. Ele era uma pessoa legal quando o nosso advogado Arnold Parker me apresentou a ele, mas assim que o o Sr. Parker saiu pela porta Tio Lúcio mudou completamente.

O meu quarto que era para ser o maior da casa virou o sótão, não se cabia mais de uma pessoa naquele lugar, então meu tio nunca entrava. Eu trabalhava como sua escrava e tinha que fazer qualquer coisa que me ordenasse ou era agredida. Ele também abusava de mim e já tentou me estuprar várias vezes, mas sempre dei um jeito de escapar. Alfred se ofereceu para trabalhar na casa de meu tio, mas ele recusou e desde então não vi mais meu tão amado mordomo.

Quando fiz 18 anos botei na minha cabeça que eu precisava sair daquele lugar, nem que fosse fugindo. Mas nunca tive coragem, a dois dias atrás meu tio tentou me assassinar para ficar com a minha herança, sem sucesso. Foi então que finalmente fugi, e de Oxford, onde eu morava, já estou em Londres. Foi muito difícil chegar aqui, foram muitas caronas e ainda pretendo sair do país.

*   *   *

Corro para longe dos policiais que me reconheceram a algumas quadras atrás, quando me convenço de que os despistei começo a caminhar. É uma noite de chuva forte e a única coisa que uso para me proteger é um moletom com um capuz sobre a cabeça, uma calça jeans preta é um All Star surrado. Olho para o chão molhado quando esbarro em um garoto com alguns cadernos.

- Point Of View - Annabeth -

- Senhorita Campbell, você já pode ir - Meu chefe, James, falou da porta da sala dele;

Acabo de servir a última caneca de café e largo a bandeja no balcão, indo para o banheiro feminino. Paro de frente ao espelho, onde só tinha uma mulher se maquiando, e tiro o avental e o vestido vermelho curto que mandavam eu usar, ficando apenas de calcinha e sutiã. A mulher esguelha seu olhar para o vestido e fala, com uma voz abafada:

- Deve ser difícil andar com esse vestido a tarde toda sem atrair os olhares de desconhecidos.

- Você não tem idéia - Respondo, tirando uma jeans preta e uma camisa da mochila;

Ela termina de se maquiar e dá um último sorriso, andando naquele salto para fora do banheiro. Ponho a minha roupa e vou até a sala do meu chefe:

- Já sei o que você quer - Ele fala, tirando um envelope de uma gaveta e me entregando;

Abro o mesmo e vejo duas notas de cinquenta dentro:

Doll HouseOnde histórias criam vida. Descubra agora