Epílogo

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Agora, na sala de estar, Bartolomeu estava nervoso e já estava vestido para partir. Verônica trajava um roupão vermelho e seu cabelo estava preso por um coque. E, da estante, tirou sua última garrafa de vinho tinto e a abriu, enchendo a taça dele.

— Você está bem, Bartô?

— Sim — sussurrou ele, de forma nostálgica.

— Essa foi a nossa última noite, não é?

Bartolomeu balançou a cabeça em sinal positivo e, displicente, deixou a taça de vinho cair. Não queria que fosse a última. Ele a amava muito.

— Deixa que eu limpo.

— Amanhã eu viajo bem cedo — disse ele. — A empresa vai inaugurar uma filial na Europa. E eu, como o queridinho do chefe, terei que administrar aquela droga. Eu lhe contei que tentei recusar? Pois é, mas ele disse que eu sou o mais indicado para o serviço. O chefe me ofereceu todas as mordomias para viver por lá, tudo que você pensar, plano de saúde para minha família, escola para meus filhos, um ótimo salário, enfim, o blábláblá de sempre.

— Não diga mais nada, Bartolomeu, eu compreendo a sua situação. Posso não ser graduada nem doutorada, mas entendo os rumos da vida. Esqueça-me e pense no futuro da sua esposa e dos seus filhos.

— Não gosto da minha esposa.

— E dos seus filhos?

— Amo eles.

— Aí está, Bartô. Pense no futuro dos seus filhos. As coisas ficarão melhores no exterior.

Bartolomeu pegou a mão dela.

— Mas e o nosso futuro, Verônica?

— Não se faça de ingênuo, Bartô. Desde o início, você sabia que nosso relacionamento não iria durar por muito tempo. Um ano já é um bom tempo. Conformei-me em ser sua amante, pois assim me sentia feliz.

Bartolomeu franziu o cenho.

— Não faça essa cara. Sabe muito bem do que estou falando. Quando você não encontra refúgio em casa, eu sou sua caverna, quando você está desesperado com a rotina do seu casamento, eu sou o seu calmante. E assim eu vivo, existo por sua causa.

— Mas, se eu for embora, você não poderá mais ser a caverna nem o calmante. Não quero que morra. Não quero.

— Não se preocupe, viverei das lembranças do nosso amor, Bartô. Lembrarei de cada noite que passamos juntos, principalmente desta. Já disse para não se preocupar comigo, enquanto tiver as lembranças, não morrerei. É uma promessa. E você sabe muito bem que sempre cumpro o que prometo.

Houve um silêncio entre eles. Fitaram-se. No fundo, Bartolomeu sabia que ela estava certa. Tinha que ser assim. Ele beijou-a na testa. O beijo durou cinco segundos e foi tão suave que Verônica provavelmente pôde sentir o frescor doce emanando da boca de Bartolomeu.

— Tem certeza de que está tudo bem, Bartô?

A resposta foi sincera.

— Sim, Verônica — ele seguiu na direção da saída. — Sentirei saudades!

Desta vez Verônica não disse nada. Ele não se sentia bem. Era difícil respirar. Por algum motivo sua garganta se fechou totalmente. A cada instante o ar da sala de estar parecia ficar mais pesado e, aos poucos, tentava esmagá-lo. Claro, ele jamais pensou que iria ser fácil, mas não esperava que fosse daquela forma. A dor era dilacerante.

— Verônica, eu só queria que... — dizia ele, abrindo a porta.

Ela correu e o abraçou. Um abraço apertado.

— Não torne isso mais difícil do que já é, Bartô.

Bartolomeu assentiu e disse: "Adeus, Verônica."

— Adeus — sussurrou ela.

Verônica o beijou na testa e o deixou ir.

Quando a porta se fechou, ele percebeu que o vazio se instalava ao seu redor. Contudo, ele já esperava por isso, afinal, sabia que jamais conseguiria sentir algo sequer parecido por outra pessoa da mesma maneira que sentira com Verônica. Não havia outra solução. Bartolomeu respirou e, desde então, começou a viver das lembranças.

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