08.

399 30 6
                                    

Já passou uma hora desde que o Alain me trouxe para casa dele — ou pelo menos assim esperava que fosse — e não trocámos mais do que olhares. Ele era calado, e eu estava com demasiado medo para dizer o que quer que fosse. 


Mais tarde, pude ouvir a televisão ser desligada. O rapaz levantou-se e agarrou no meu braço com tanta força que por momentos pensei que mo fosse arrancar. Em seguida, conduziu-me até uma casa de banho bastante pequena, mas onde ainda cabiam pelo menos três pessoas. 

"Vou buscar roupa para ti. Queres alguns calções ou uma camisola chega?" Ia dormir ali? Isso não estava nos meus planos. Não tinha avisado a minha mãe e agora também não tinha como o fazer, pois deixara cair o telemóvel na rua e não pude apanhá-lo sequer.

"Tanto faz." Falei num tom praticamente inaudível, abraçando-me à minha barriga. Não por ter fome, apenas por ser hábito meu de quando estava nervosa. 

Consegui ouvir os passos de Alain pelo corredor, sabendo mais ou menos quando ele estava longe e quando estava perto. Ao chegar novamente à porta da casa de banho, atirou-me uma camisola para as mãos, que eu logo agarrei.

"Veste-te. Fico à tua espera no quarto." Fechou a porta após sair e não o ouvi mais. Deixei o meu corpo cair no chão e agarrei-me aos meus cabelos, puxando as minhas pernas para junto de mim até as encostar à barriga. Estava a entrar em pânico graças a tudo aquilo. 

Que quer ele afinal? Porque tinha de dormir ali? Porque é que tinha de passar 10 minutos sequer no mesmo espaço que ele? Eu tinha tantas perguntas e em todas as respostas possíveis, a única que encontrava era apenas "não sei, mas ele diz que com o tempo hei de descobrir".


[...]


Saí da casa de banho longos minutos depois, já com a camisola que o rapaz me tinha dado vestida. Levava as minhas roupas na mão enquanto procurava pelo quarto, que rapidamente encontrei por ser a única divisão iluminada naquele corredor estreito. Entrei no mesmo e pousei as minhas roupas no primeiro local que me ocorreu, em cima da poltrona que ele ali tinha. 

Cruzei o meu olhar com a sua figura, podendo agora reparar melhor nele. Era alto, calculei ter um metro e oitenta. A comparar comigo, ele era uma girafa. Tinha cabelos loiros, mas não demasiado claros. E os olhos eram normais, apesar de terem uma cor tão escura que eu mal conseguia reparar na pupila desses. 

"Zorah? Zorah, estás a ouvir-me? " Abanei a cabeça ligeiramente ao ver os seus lábios mexer, sinal de que estava a falar comigo e eu não tinha ouvido absolutamente nada. Riu de canto ao se aperceber porque tinha entrado naquele transe, no entanto não mostrou o sorriso. "Já olhaste para mim o suficiente? Ou melhor, já me estás a prestar atenção?" Falou ainda num tom algo cómico, fazendo com que eu baixasse a cabeça por estar algo envergonhada. Desfez o sorriso nesse momento, voltando ao estado normal. "Disse-te para te deitares. Já é tarde." Desfez a cama e sentou-se na mesma, preparando-se para se deitar.

"Aqui? Conti-" Parei de falar ao perceber que ia começar a reclamar. Mas eu tinha uma certa razão. Ele ainda me era um desconhecido e eu não ia dormir na mesma cama que ele. Mesmo que eu nem fosse dormir sequer, mas não ia ficar ali a vê-lo dormir por tantas horas. Já passar uma madrugada inteira com ele para mim era um inferno, — talvez pior do que ir à escola — quanto mais ter de estar a vê-lo dormir.

"Sim. Qual é o problema?" Encolheu os ombros, olhando para mim com uma expressão séria e confusa ao mesmo tempo.

"Eu não te conheço para passar uma noite sequer na mesma casa que tu." Acabei por falar, já aborrecida por ele estar a agir como se fossemos amigos há anos.

It Was a Mistake ⇉ Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora