05.

447 36 8
                                    

Terça feira, 14 de outubro de 2014. 07:31am

Acordei há meia hora atrás e a primeira coisa que fiz foi ler a mensagem de Alain. No entanto, não lhe respondi. Não lhe disse bom dia. Não lhe disse absolutamente nada. Guardei apenas o telemóvel dentro da bolsa de fora da minha mochila e fui-me despachar para ir para a escola.


Estava um bocado atrasada pois tinha combinado encontrar-me com a Monique para podermos ir juntas para a escola, pelo que tive de correr assim que saí de casa. Parei minutos depois, dobrei o meu corpo e coloquei as minhas mãos suadas nos joelhos descobertos, por estar a usar umas calças pretas que eram rasgadas nos mesmos, para normalizar a minha respiração acelerada.

"Então? Pensei que nem vinhas." Ouvi a voz da loira ao meu lado, que passou a mão pelo meu braço como se isso me fosse ajudar. 

"Bom dia para ti também." Elevei o olhar, dando um sorriso simpático. Voltei a levantar-me, esfregando as mãos nas minhas pernas para limpar o suor, e em seguida, guardei-as nos bolsos do casaco de cabedal que trazia vestido.

"Bom dia." Sorriu e agarrou nas alças da mochila dela, começando a andar ao meu lado a passos calmos. Ainda tínhamos bastante tempo até chegarmos à escola, por isso não havia necessidade de andar como se fossemos apanhar algum comboio.


"O Zac ontem falou contigo?" Questionei após alguns minutos, quebrando assim o silêncio. Algo que eu gostava na Moon era mesmo isso, o facto de ser uma pessoa que gostava de conversar, mas que ainda assim gostava bastante do silêncio, quando não era constrangedor. E naquela altura era bastante agradável, ainda não eram sequer 8h e para além de estarmos com sono, o silêncio da manhã era agradável de se ouvir. E eu sei que o silêncio não se ouve.

"Sobre o Alain? Sim." Rodou a cabeça na minha direção, olhando para mim enquanto falava. "Ele mostrou-me os perfis dos Alains que encontrou, e para ser sincera, o Fitzroy parece um pedófilo. Esse não deve ser, acho que tem... 33 anos." Falou meio na dúvida, não tendo a certeza se aquela era a idade certa.

"O Alain pela voz parece estar perto dos 30, mas não parece ter 33." Enruguei o meu nariz, achando aquela idade não se enquadrar com o rapaz que tivera falado comigo ao telemóvel há uns dias atrás. 

"Não sei se era mesmo 33. O Zachary depois fala disso contigo, sabes que ele tem melhor memória que a minha para essas coisas." Uma gargalhada fraca saiu dos meus lábios ao ouvir o seu comentário. Zac era um rapaz com uma memória excelente, e ao contrário do que parecia graças ao seu aspeto, era também bastante inteligente. Era um génio da matemática e dos computadores, e aprendia as coisas com uma grande rapidez. 


O resto do caminho foi passado em silêncio até chegarmos finalmente à escola. Ainda é de manhã mas as pessoas já falam pelos cotovelos. É algo que me faz confusão, mas também algo a que já nem ligo por lidar com há tanto tempo.


[...]


A primeira aula passou a passo de caracol, mas já estou no intervalo, finalmente. Como de costume, fui encontrar-me com o Zachary no bar, que estaria sentado numa mesa longe de toda a gente, para estar no portátil à vontade. Abanei a cabeça segundos depois ao reparar melhor nisso. Ele trouxe o portátil para a escola?

Depois de pedir o meu pequeno almoço, caminhei com a Monique até junto dele. Sentei-me e fiquei a observar o que ele estava a fazer, dando dentadas na minha tosta ao mesmo tempo.

"Alain Cooper. 23 anos. Faculdade concluída. Desempregado. Rapaz loiro. Anda sempre com o seu grupo de amigos pelas zonas todas do país. Gosta de se fazer a qualquer uma para sexo apenas. Mata pessoas para ter dinheiro para sustentar a família. Ou quando não querem sexo com ele." Zachary falava num tom baixo, para que apenas nós pudéssemos ouvir as suas palavras. Parecia concentrado nas suas pesquisas sobre esse tal Alain Cooper. Será que era mesmo aquele o rapaz que falava comigo? 

"É o Cooper? Ele é giro." A Monique comentou, levando depois o copo de sumo à boca, dando um gole no mesmo. 

"Monique? Ele mata pessoas, achas que ser giro é o que importa mais?" O Zac cuspiu tais palavras, como que ofendido com o seu comentário. Ela acabou por não dizer mais nada, e ele suspirou. "Bem, eu acho que é este. Preciso de ver se consigo obter mais informações, onde se encontra no momento, quem são as companhias... Entre hoje e amanhã digo-te mais alguma coisa." Olhou para mim ao mesmo tempo que baixava a tampa do portátil, voltando a guardá-lo na mala. Puxou depois o seu café para junto dele bebendo-o de uma só vez. Devia estar já frio, de há tanto tempo que ali estava.


Começou a tocar. Despachei-me a comer e levantei-me ao terminar, indo para junto da Moon.

"Obrigado, Zac." Disse-lhe com um sorriso nos lábios, seguindo depois disso atrás da loira até à nossa sala. Ela parecia chateada desde que o Zachary tivera aquela reação com ela. Não estava a pensar comentar sequer sobre isso, não queria dar razão a nenhum dos dois. Por muito que concordasse com ela, o Zac também tinha razão. Ele ser giro não importava para nada quando ele tirava a vida a alguém.

Sentei-me junto da Monique e abri o meu caderno, vendo uma folha dentro do mesmo. Eu tinha feito a mala de manhã e depois andara sempre com ela, e não me lembro de ter posto nenhuma folha dentro daquele caderno. Nem daquele nem de nenhum. Respirei fundo e desdobrei a folha, lendo o que lá estaria escrito.


EU ESTOU AQUI.


"Quem é que está aqui? E aqui onde?" A loira perguntou soltando uma gargalhada, como se aquilo fosse a piada mais engraçada do mundo. Encolhi os ombros simplesmente, nem eu sabia a resposta àquela pergunta. 


[...]


As aulas já acabaram por hoje, felizmente. Era suposto ir com a Monique para casa mas acabou por não dar, o pai dela foi buscá-la, pelo que percebi, ela tinha visitas. Até ia com o Zachary, mas ele veio de carro e eu não lhe quero dar mais trabalho. Fui para casa a pé então, sozinha. Aproveitei para agarrar no meu telemóvel, lendo as mensagens que tinha recebido durante a manhã.


Mãe: Vais passar a almoçar sozinha a partir de hoje, a mãe recebeu um aumento no trabalho e vai ter de trabalhar mais horas. Vou-te deixar o almoço sempre já feito, está no frigorífico. Amo-te, beijinhos. - 09:52am

Desconhecido: Já tens o teu querido computador de volta. Está em cima da tua secretária, não garanto é que tenha vindo como estava antes. - 10:05am

Desconhecido: Vejo que o Zachary ainda não parou de procurar pela minha pessoa. Admito que estou a achar isto bastante divertido. - 10:09am

Desconhecido: Acabou de chegar a casa e já está à procura outra vez. Ele é persistente. - 12:58am

Desconhecido: Precisas de companhia para almoçar? Sei que a tua mãe não te vai fazer companhia. O que é uma pena. - 01:00pm


"Mas ele não desiste?!" Resmunguei para o nada, indo o resto do caminho com o telemóvel na mão. Ou ele a esteve a vigiar até a ver sair de casa, ou deve ser alguma mosca para conseguir ver as mensagens que eu recebo. E seja qual delas for, começa a assustar-me. Tenho medo daquilo que ele é capaz, porque acho que isto ainda não é nada comparado ao que ele realmente consegue fazer.



──────────────────────────  


Eu demoro imenso tempo a passar um dia, desde o capítulo 02. que estive a escrever sobre segunda feira e só agora no capítulo 05. é que é terça, tenho de ver se consigo ser mais rápida a passar os dias. Enfim, mas pondo isso de parte, estão a gostar? 

It Was a Mistake ⇉ Evan PetersOnde histórias criam vida. Descubra agora