Acordar com minha mãe gritando no meu ouvido já era habitual, por mais que fosse chato, era engraçado e aquilo me mostrava que para ser mãe, não era preciso dar à luz. A minha mãe não era exatamente a minha mãe, mas era como se fosse, cuidou de mim desde que eu nasci e nunca escondeu nada de mim. Talvez ela pudesse ter escondido algo que eu gostaria de não saber, mas ela me contou.
O fato é, que minha mãe, a mãe biológica, não me gerou como todos os garotos foram gerados. Ela participou de um ritual de magia negra, que segundo minha mãe (a que eu considero), deu errado e eu acabei sendo gerado. Não me perguntem como, porque nem mesmo eu sei, e nem mesmo eu quero saber.
Descobrir que eu sou fruto de um ritual foi tremendamente aterrorizante. Imagina você crescer pensando que pode ser filho de um demônio, ou até mesmo do próprio satã. Deus me livre disso. Eu nunca levei isso ao extremo, então, seja lá o que tenha sido isso, eu não quero ir mais afundo nisso, ou eu até poderia não querer, se minha vida não tivesse tornado o caos que ela se tornou.
Para começo de história, eu sou gay, mas não aquele tipo de gay que você nota que é gay mesmo você estando em Nova York e o gay em Paris, você nota de longe. Não, eu não sou assim. Sempre fui o discreto, ou talvez sempre fui o solitário e me mantinha longe das pessoas, longe mesmo. Até eu me apaixonar por um garoto chamado Lencey. Tudo parecia ser o certo. Um parecia ter sido feitos um para o outro. Até eu imaginar que as coisas não estavam indo tão bem como deveria ir. As coisas mudaram de rumo, os planos que fizemos para o futuro não eram mais o que ele queria, ou melhor, eu não era mais o que ele queria. Pensei por vários dias que o problema poderia estar em mim, e quando eu tinha decidido mudar as coisas, me tornar a pessoa que ele queria que eu fosse, eu passei a maior decepção que um adolescente poderia passar. Eu o peguei na cama com outro.
Foi então eu nesse dia eu mudei, escancarei para todos o tipo de pessoa que ele era, só faltaram lixarem ele no meio da escola quando todos ficaram sabendo. Eu nunca imaginei que eu era notado na escola até aquele dia, pois todos ficaram ao meu favor, acabei me tornando o garoto mais popular da escola. A coisa foi tão vergonhosa que o Lencey teve que sair da cidade depois de dois anos de namoro jogados no lixo e eu me sentir mais aliviado. Mas se vocês acham que isso tinha acabado, estão muito enganados.
Era abril de 2014, eu estava na cama como qualquer outro dia quando minha mãe me perguntou se eu não iria para escola. Eu realmente tinha esquecido que as aulas estavam começando, um pouco tarde demais, mas estavam. Eu quase que não queria ir para a escola, mas tive que ir. Tomei um banho rápido e depois de um pequeno café da manhã eu fui para o carro da minha mãe.
— Como acha que será esse ano? – Perguntou minha mãe animada.
Eu não queria estragar a felicidade dela, porque ela ainda achava que eu sofria por causa do Lencey, mas isso já tinha passado, a gente acaba convivendo com a dor que ela se torna parte de nós, até percebermos que não dói mais.
— Como qualquer outro ano. – Respondi sem muita animação.
— Otávio, você tem que se animar, aliás, é seu último ano, e você está a um passo de terminar os estudos.
— Eu sei mãe, mas terminar os estudos com apenas 15 anos é um pouco cedo sabe.
— Isso mostra o quanto você tem potencial e o quanto é inteligente. Tenho orgulho de ter você como filho.
Eu não respondi nada, pois não era necessário, ela viu o sorriso que esbocei no meu rosto, era mais do que gratificante saber que você é o orgulho da sua mãe e isso eu não negaria. Eu a amava como minha mãe.
Depois que cheguei na escola, dei um beijo nela e comecei a andar para o interior da escola. Foi quando o Caike chegou perto de mim.
— Cara, tem um moleque novato aí que, Uiiii. Daria tudo para dar uns pegas nele. Estou até sentindo o cheiro. – Falou ele.
— Cheiro de quê? – Perguntei curioso.
— Do sexo selvagem que eu e ele vamos protagonizar. – Respondeu ele.
Eu quis cair na gargalhada, pois o Caike não sabia fingir ser gay. Todos sabíamos que ele era hétero e aquilo tudo que ele estava falando era só uma forma de me fazer acordar para vida. Depois de minha decepção amorosa eu nunca mais tinha me entregado para alguém, nem muito menos ficado, e ele inutilmente tentava me provocar.
— Aí. – Apenas respondi.
— Eu soube que ele dança ballet, mas não parece ser gay, é um hétero completo, o sonho de qualquer garota. – Falou a Danielle se aproximando do meu lado.
Serio cara, tenho que rever meus conceitos ao fazer novos amigos.
— Eu já falei para vocês que não estou em depressão nem preso ao passado. – Falei quase gritando.
Os dois não responderam nada, apenas ficaram com cara de sínicos. Eu já estava me irritando com eles logo no primeiro dia de aula. Eu sei que teriam novos alunos, pessoas vindas de outras escolas, mas e daí? O que tenho haver com isso.
Para evitar uma briga com eles logo no primeiro dia, eu dei alguns passos para trás e me virei rapidamente, foi então que quase atropelei um garoto que estava mais perdido do que cego em tiroteio. Ambos caímos no chão e a mochila dele se abriu deixando cair os materiais. Sem olhar para ele eu comecei a ajudá-lo a recolher os pertences dele. Foi que então ao olhar para ele.... Me sentir no céu. Era o garoto mais lindo que eu vi na fase da terra. Ele tinha uns olhos escuros que me fez tremer de vontade de alguma coisa. O cabelo dele castanho escuro penteado para cima e uma expressão de assustado.
— Desculpa. – Falei quase gaguejando.
— Eu que peço desculpas por andar distraído. – Falou ele.
— Prazer, eu sou o Otávio. – Falei dando-lhe a mão para levantá-lo.
— Gustavo. – Respondeu ele se levantando com minha ajuda.
Ele apenas olhou para o lado e saiu apressado, me deixando ali, com a cara mais boba possível. Caike e Danielle me olhavam com cara de cínicos que estavam a momentos antes.
— Quem ser esse garoto? – Perguntei quase sussurrado.
— Esse... –falou Caike – É o garoto que te falei.
Pela primeira vez depois de um bom tempo, eu estava me sentindo atraído por alguém. Mas a pergunta que eu me fiz.... Arriscar ou não arriscar?

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Otávio - Amor Destruído - Volume I
RomanceEle foi feito a partir de Magia Negra, nunca soube o porque de ter sido gerado por essa maneira... Talvez por isso ele ache que sua vida tende a ser uma maldição, que nada que ele possa querer, vai conseguir. Otávio é um garoto comum, como qualquer...