Triangulo - Capitulo X

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Eu fiquei paralisado por alguns instantes, aquilo não estava acontecendo, não estava. Eu o via olhando para mim, e tive a leve impressão que ele sorria. Ele não conseguia falar nada, apenas foi de encontro ao chão. Eu saltei a primeira fila enquanto algumas das pessoas presentes saiam correndo em pânica em direção a saída do teatro, e eu só queria uma coisa. Salvar o meu garoto, o meu bebe. Foi que então cheguei perto dele, o seu traje estava completamente já vermelho e ensopado com o sangue. Eu fiquei com receio de toca-lo e acelerar o processo de fuga do sangue. Eu não sabia o que fazer.

Olhei para a entrada do teatro de onde poderia ter vindo os tiros e vi, na entrada, ele, Lencey. Com a arma na mão e abaixada. Eu fui tomado por um desejo de vingança, um desejo de mata-lo, e isso estava aflorando cada vez mais dentro de mim. Eu seria capaz de fazê-lo em pedacinhos, de queimá-lo ali mesmo se tivesse fogo, ou algo do tipo.

— Amor! – Falou o Gustavo entre um sussurro e outro.

— Não se esforce, a ajuda vai chegar logo.

— Sabemos o que vai acontecer, isso é diferente do que ele fez semanas atrás, não me recuperarei disso. E eu só queria poder agradecer. – Falou ele.

— Não, não ouse me deixar, não ouse. Você não tem essa permissão, você não pode fazer isso comigo, não agora, não hoje, não tão cedo.

Eu já estava derramando rios de lagrimas. O sangue saia do corpo dele mais rápido do que era capaz para ganhar tempo e salva-lo. Eu queria poder ser um conjurador, eu queria poder ser uma espécie capaz de salva-lo. De não o deixar morrer, não dessa forma e muito menos pelas mãos dele.

— Só quero que me prometa uma coisa. – Falou ele – Que não vai parar sua vida por causa disso, que não vai ficar preso a mim, que não vai se lamentar por nada disso, pois o tempo que passei com você foi precioso e não desperdicei nenhum, só quero que busque sua felicidade. E eu estarei te esperando, seja lá onde eu for.

— Por favor, não me deixa não.

Eu cair de rosto no peito dele, sentia o cheiro do sangue dele. Era adocicado, não era nojento, não tinha odor forte, e não parecia nem sangue. Mas eu sabia que era, eu sentia o sangue escorrer pelo corpo dele, e percorria pelas minhas roupas, que rapidamente ficou coberta de sangue também.

Antes que eu não pudesse mais, eu o beijei. Foi o beijo mais intenso que ele tinha me dado, sentir a necessidade de chorar um pouco mais, porque a dor aumentava a cada segundo. Eu ainda não estava acreditando que estava o perdendo e tudo por culpa dele.

— Quero que me prometa mais uma coisa. Vá em busca do Rafael, salve a humanidade, ajude minha mãe, salve o Gabriel, faça tudo isso por mim. E não deixe esse amor que você sente por mim, morrer! – Ele falou – E leve o meu troféu, desde o início ele sempre seria seu. E saiba que... que...

A voz dele começou a falhar!

— Saiba que eu te amo...

Foi as últimas palavras que eu ouvir antes dele cair em sono profundo. Antes dele ser levado para qualquer outro lugar longe de mim. Foi então que nesse momento eu sentir algo dentro de mim, uma forca descomunal aflorar. Sentir minha pele queimar. Meus cabelos começaram a flutuar, meu corpo se ergueu involuntariamente.

O pai do Gustavo olhou para mim enquanto ia ao encontro do corpo do filho.

— Saia daqui, leve-o. – falei.

Virei-me para o lado onde o Lencey ainda estava e na hora não sei como fiz isso, apenas movimentei a mão, o corpo dele se ergueu, a arma caiu no chão. E puxei ele diretamente para mim. O teatro começou a tremer. E veio em minha mente que era eu o causador disso tudo. Em minha mente veio as palavras da Jane, "Quando seus poderes aflorarem, me procure". E tive certeza que nessa hora era o que estava acontecendo.

Otávio - Amor Destruído - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora