3ºCapítulo

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A minha mente não parava de se fixar naquelas palavras, naquelas palavras que colocaram o fim a réstia misera de felicidade que tinha já fazendo hoje duas semanas do ocorrido, duas semanas completamente tremidas de pura escuridão em torno de mim, eu não consigo sentir-me melhor, aliás eu acho que estou ainda pior que aquele dia devastoso.

No entanto, como se já o meu interior não estivesse descompassado, tinham agora que o fazer com o meu ser exterior. Sendo assim, um liquido gélido e viscoso se escorregou pelo meu corpo e roupa límpida, deixando-me totalmente suja de algo de tonalidade azul clara, apercebi-me que um grupo de raparigas, com aspeto de serem aquelas vulgares raparigas que todos no colégio conhecem, tinha despejado um balde enorme de tinta azul em cima do meu corpo vagueante daquele corredor escuro pelas poucas janelas devidamente abertas.

As gargalhadas do seres eram cada vez mais altas e irregulares, eu sentia-me sufocada, o ar fugia dos meus pulmões como quem fugia de uma chama ardente para salvar a sua vida. Eu não entendia. Eu simplesmente não me deixava acreditar como é que as pessoas podiam ser assim, eu acho que nunca compreenderei, eu nunca serei como eles, não me deixarei cair na vulgaridade deles.

Estranhamente, sem saber se seria algo que um bom sinal, algo que sabia perfeitamente que sendo para mim só podia ser algo do mal. Um corredor luminoso inquirido por pessoas se revelou dando-me uma possível escapadela a todos aqueles olhares de malícia sobre o meu corpo todo encharcado de tinta azul clara. Era a minha hipótese, assim pensei antes de todas as minhas poucas esperanças fossem mortas no único tiro certeiro quando um grupo de sete rapazes me bloqueou a passagem deixando aquela luz ao fundo túnel se desligar para mim atirando o facto que eu ia sofrer a cara desgostosa.

" Olha só se não é a famosa Park Angel que todos falam " murmura um rapaz alto, de olhos penetrantes, com uma estrutura corporal bastante alta, pelo menos para mim era, mas também, acho que tudo para mim seria sempre mais alto do que na realidade é. " Bem esperava que fosses menos... azul " deixa delineado um tom de voz trocista enquanto que os rapazes que o acompanhavam deixavam as suas gargalhadas fluírem assim como as dos outros alunos ali encontrados.

" Então Jong In? Isso são maneiras de tratar uma pobre rapariga? " pronuncia-se um rapaz que sai por de trás do rapaz que agora sabia qual o seu nome. Era um pouco mais baixo que o outro, mas não deixava de ser um poste para mim, literalmente com todas as forças da palavra. Ele parecia-me sensato, apenas parecia.

Em poucos passos, o mesmo que me tinha feito saber o nome do maior, ficou frente a frente com o meu corpo agora azul, esboçou um doce sorriso sobre aqueles lábios, aquele lábio inferior grosso que me chamou atenção, mas logo acordei dos meus devaneios. " O azul combina contigo. " murmura deixando-me completamente com a mente confusa sem saber se ele estava a ser trocista ou.. sim ele estava a ser trocista, quem eu queria enganar? " Bem, continuo achar, que o que te fizeram não foi correto, acho que te deviam de ter feito bem pior. És uma triste, nem deves estar a perceber o que estou a dizer. "abre um pouco mais a sua boca desejosa deixando uma gargalha maldosa escapar por si. " Nem sei porque te deste ao trabalho de sair da sala, deves mesmo ter um desejo enorme que as pessoas fiquem a rir-se das tuas pobres figuras onde não tens onde cair morta. Quem és tu? Quem é a Park Angel que tem nome coreano mas não sabe a língua nem tem características de tal? Quem ser a rapariga que está a minha frente num estado que só te enfiar num caixote do lixo e enviar-te para uma lixeira é que ficas bem? Tu és mesmo horrível, tu não pertences aqui, toda a gente não te quer neste colégio, estavas bem numa lixeira, porque tu és um lixo. " esboça um sorriso puro de maldade enquanto que se afastava de mim voltando para o seu grupo. " Chora pequena, deixa toda a gente ver o quanto frágil a florzinha azul é" murmura enquanto que se distanciava.

O ar fugiu do meus pulmões como se não quisesse mais me alimentar, como se quisesse que o sangue deixa-se de pulsar oxigénio para o meu corpo destroçado, como se não quisesse que as minhas células sobrevivessem . Eu percebera bem as palavras deles, todas as suas palavras, eu sabia coreano, apenas não conseguia falar e escrever, como em casos destes, me dava vantagens para saber o que os outros realmente pensam sobre o meu respeito, mesmo eu nem a um dia eu me presenciar neste estabelecimento.

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