Capítulo 2

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"Como ele sabia meu nome?" perguntava a mim mesma, me acomodando no acento e tentando controlar a respiração. Alguns passageiros me lançavam olhares indignados, mas naquele momento, eu estava muito assustada para me importar com aquilo.

Eu definitivamente não era uma pessoa popular, meu circulo de amigos era tão pequeno, que nem era um circulo, já que Sydney era minha melhor e única amiga. Eu nunca havia visto aquele homem, acredite, eu iria me lembrar, por isso essa inquietação sobre ele saber meu nome, porém, de todas as coisas daquele encontro, isso era o de menos que deveria me preocupar.

Sua voz me causou calafrios, se tivesse vindo de qualquer pessoa da minha idade, ou até mesmo um pouco mais velha, não iria estranhar, até achei atraente, mas ela não podia pertencer a aquele homem, não fazia sentido.

Também tinha o fato dele ter sumido de uma hora para outra, minutos depois que passei por lá, ele não parecia ser capaz de ficar em pé por conta própria, como ele poderia ter pego suas coisas e saído dali num piscar de olhos?

"Ok Melinda, vamos tentar preservar o pouco de sanidade mental que ainda te resta", era mais fácil falar do que fazer.

Fiquei inquieta em todo o percurso, parecia que alguém estava me observando, uma olhada rápida em volta, mostrava que ninguém mais parecia prestar atenção na garota exprimida no canto do ônibus. Aquele encontro mexeu comigo de tal forma, que agora eu estava ficando paranoica.

Ri de mim mesma.

Sydney iria rir de mim quando eu a contasse o que tinha acontecido, já podia imaginar. Meu celular vibrou me fazendo saltar, tateei na bolsa a procura do aparelho, que obviamente parecia ter se perdido, atendi quando a melodia estava quase no final, agora, definitivamente, havia pessoas me olhando.

"Onde você está?", falou uma voz feminina, "Essa vai ser a terceira vez na semana que você chega atrasada, não vamos pode ir ao cinema se você ficar até tarde na detenção", Sydney sussurrava do outro lado da linha.

"Bom dia para você também Syd e não precisa se preocupar comigo, não está tão tarde assim", afastei o celular para olhar a hora e fazendo a conta, agora eu tinha três horas de detenção me esperando, "Já estou chegando. Tente enrolar o McGregor".

A linha ficou muda. Não era sempre que eu chegava atrasada, essa semana havia sido uma exceção. Na maioria das vezes eu era mandada para detenção por conta de minhas brigas com Henry ou por responder ao professor. Quando eu chegava atrasada, geralmente nas aulas de história, Sydney me ajudava distraindo o professor, enquanto eu tentava entrar na sala sem ser vista, infelizmente, nunca dava certo, mas valia a pena tentar.

Syd nunca ia para detenção, não que eu quisesse que ela fosse, mas isso só fortificava minha teoria de que Jonah, o professor de história, tinha uma fixação por mim. Fixação ou não, esperava que a distração funcionasse dessa vez, não queria passar mais tempo do que o necessário com Henry na detenção, porque eu sabia que ele ficaria lá até tarde.

A escola ficava na avenida Cayuga, agradecia internamente toda vez que chegava atrasada por ter um ponto de ônibus tão perto de lá, desci rapidamente, e corri o máximo que consegui, eu não era uma pessoa atlética, então, em poucos passos eu já estava suada, ofegando e praguejando a mim mesma por não ter aceitado ir nas aulas de yoga com Sydney.

A avenida já estava movimentada a essa hora, tive que desviar de algumas pessoas que entravam em meu caminho, e na metade dele, eu as estava empurrando. Não tinha tempo para ser educada. O sentimento de que alguém me observava ainda continuava bem vivido, tentei abstrair isso da minha cabeça, se não iria enlouquecer.

A escola tomava um quarteirão, e metade do outro onde ficava o campo de futebol americano. O prédio havia sido recentemente pintado de cinza, ficando ainda mais cara de prisão. Desisti de passar pela trilha que contornava o campus, e assim cruzei o lugar pela grama. As altas janelas me davam uma boa visão do lado de dentro e pude constatar que os corredores estavam vazios, mas não adiantava mais correr, não com meu condicionamento físico fodido, já estava no limite.

Assim que pisei nos degraus da entrada, meu celular começou a tocar novamente. Devia ser Sydney avisando que não havia conseguido distrair o professor, decidi então passar na sala do diretor primeiro, assim pouparia saliva para o Jonah.

No momento que atendi a ligação, o telefone simplesmente desligou sozinho, e não importava o que eu fizesse para liga-lo, nada o fazia voltar à vida. Sinceramente, isso era a ultima coisa que eu precisava no momento, travei uma verdadeira batalha com meus pais para consegui-lo, com certeza, eles não me dariam dinheiro para comprar outro, tão pouco estariam dispostos a por no concerto.

Meus dedos não deixavam o botão de ligar. Havia uma placa amarela, próxima a entrada avisando que o chão estava molhada, "Tanto faz, eu não ia correr mesmo". Olhei para aqueles armários vermelhos desejando que o meu fosse perto, e não praticamente do outro lado da escola, longe da sala de história.

Joguei o aparelho dentro da bolsa, desistindo, por enquanto, de tentar ligá-lo, quando colidi com a parede. Dei alguns passos para trás tentando não cair no chão.

"Mas... o que?", sussurrei confusa. Era um fato eu ser desastrada, mas bater de cara com a parede era uma novidade para mim.

Levantei a cabeça para ficar cara a cara com Henry. Aquela era a maldita parede. Respirei fundo algumas vezes, tentando controlar minha raiva, minha hostilidade a flor da pele naquele momento. Massageei minha barriga que doía um pouco por conta da colisão.

"Está ficando cego, idiota?", por mais que fosse tentador implicar com ele, eu não tinha tempo para isso.

O empurrei, abrindo caminho para eu passar e minha mão pareceu queimar sobre seu peito. Retrai imediatamente.

"Deus, Henry", exclamei. Sua feição se contorceu por um minuto, "Não tenho tempo para suas esquisitices".

Continuei a andar, sentindo que ele me seguia. Não era de seu feito permanecer em silencio na minha presença, piadas e insultos sempre vinham dele e por mais que tê-lo calado, pela primeira vez, fosse maravilhoso, seu silencio estava me deixando nervosa. "Ignore, apenas ignore".

Seria o melhor a fazer no momento.

Minha hostilidade, aos poucos ia sendo substituída por um medo crescente, alguma coisa estava errada. Era estupidez de minha parte estar com medo, aquele encontro ainda estava me abalando, aquela sensação de estar sendo observada me perseguia desde o encontro mais cedo. Não podia ser Henry, o cara podia ser tudo, menos assustador.

Os corredores estavam em silencio, nenhum som parecia vir das salas, o que era estranho, pois mesmo em aula os alunos dessa escola pareciam animais, que precisavam fazer barulho para ter sua existência notada, foi então que eu comecei a ouvir os sussurros. Em um momento a escola estava no mais profundo silencio, agora pareciam que os sussurros vinham de todos os lados do corredor. Bem, considerando meu estado atual, qualquer coisa me deixaria com medo.

Isso provavelmente era apenas minha mente tentando pregar uma peça em mim.

Bom, eu esperava.





O capitulo demorou, mas chegou.

Vou tentar postar outro capitulo o mais rápido possível, para compensar a demora.

Espero que gostem, deixem seus votos e seus comentários.

Criticas construtivas são sempre bem vindas.

(ps: playlist que escuto para escrever https://soundcloud.com/jackieblue-2/sets/fight-off-your-demons)

Apenas um dia NormalOnde histórias criam vida. Descubra agora