Ginger Cake

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       Quando cheguei em casa e minhas malas já estavam todas prontas, minha mãe havia deixado o dinheiro no lugar de sempre com um papel que continha todos os números de telefone dela – não sei como alguém aguentaria três celulares e mais uns quatro telefones no trabalho, sem contar o aqui de casa – deixou também uma lista com todas as comidas que eu tinha probabilidade de ter alergia e mais a minha bombinha pra caso eu tivesse um ataque de asma.  Ela estava praticamente me empurrando pra casa da minha tia, que eu mal conhecia, devia ser uma hippie e as histórias que minha mãe contava dela só me faziam achar que ela morava no meio do nada com uma plantação de cogumelos – deve ser uma “delicita” como o Jesse adora dizer, mas ele fala isso mais pras garotas com quem ele sai. Eu estava me mudando para algum lugar na Califórnia, longe de todos os meus amigos, de toda a minha vida praticamente.

          Percebi a nota bem grande grudada na geladeira que meu táxi chagaria às sete  e Jesse ainda não havia chegado aqui em casa, teríamos apenas umas cinco horas pra prever a minha vida na praia, como as vagabas dariam em cima dele quando eu fosse embora daqui e  como eu iria perder um monte de festas. Provavelmente ele ia trazer o Tyler: irmão gêmeo gostoso que eu tinha uma forte queda – um abismo, eu era afim dele pra caralho... E ele era um cego por não perceber, até a minha Vó percebeu, e ela é surda.

         Depois de uns quinze minutos o interfone tocou:

           -Ta senhorita Sprouse, abre logo o portão e tudo mais porque eu to com fome ok? E o Tyler tem uma festa de sei lá quem em sei lá aonde...

          Odeio esse sobrenome “Sprouse”, é do meu pai, com meu nome sendo Ginger, Ginger! Quem dá para a sua própria filha de comida?! A porta já estava aberta e eu estava procurando uma coca na geladeira pois o Jesse praticamente berrou estar faminto quando alguém pulou e me deu um super abraço de urso, xinguei baixinho até me virar e  ver minha amiga, simplesmente dei um gritinho ridículamente agudo.

           - Caramba Gi, a sua voz ta mais fina do que no telefone.

           Olhei pra ela com um sorriso gigantesco e gargalhei ao ver seus óculos, ninguém que conhece a Marie desde a quinta série acharia que ela fosse ficar bem de óculos, mas até que ficou legal. Eu não a via faz um tempão, desde as férias de verão... Caramba.

           - Não vou me acostumar a ver você de óculos, nunquinha. Você parece a nossa professora de biologia, e com esse suéter verde... Praticamente gêmeas.

           Ela me deu um tapa no braço mas continuei rindo, até que vi o Tyler. Ugh, porque o Jesse ainda traz ele aqui?  

           - Ginger, onde é que fica a pipoca?

           - Se você continuar comendo desse jeito Ty, vai ficar igual o Jesse,  já era os músculos tonificados! Se quiser engordar uns dez quilos, comprei um milk-shake de morango além da batata frita em cima do balcão.

           A minha comida favorita era isso, mergulhar a batata no milk-shake, mas eu preferia com certeza com o milk-shake de chocolate, até que vi o Ty me olhando esquisito. Fiquei tão nervosa que comecei a rir e corar, após 5 segundos meu rosto já estava mais vermelho que tomate.

           - Cara, se eu comer isso vou passar mal e ficar todo vermelinho como você.

          Ignorei o fato de ele desprezar a comida mais gloriosa, nem em Vahalla tem algo mais gostoso. Corri até a sala onde o Jesse e Marie decidiam o jogo de Xbox que fomos jogar. Ficamos jogando “Call of Duty” por mais tempo que pude imaginar, quando fui ver, faltavam apenas duas horas para eu ir embora. Sentiria tanta falta desses retardados... Encarei Tyler nos olhos e percebi que ele não se parecia com Jesse, mesmo a diferença sendo o cabelo badboyzinho jogado pro lado e os olhos castanhos, o gosto musical e o interesse pela leitura, uma vez entrei no quarto do Ty e uma parede era repleta de livros, não sei de Jesse leu nem sequer um. Ty odiava... Batata e milk-shake, Jesse não viveria sem. Foi aí que tive uma idéia. Entrei na cozinha e peguei o milk-shake que havia sobrado e um pacote de fritas, levei pra sala. Ty olhou pra mim como se fosse vomitar em cima do controle, mas estava muito entretido no jogo. Tentei fazer minha mente calar a boca, ela só pensava: “o cabelo do Ty está tão lindo hoje”, “será que ele vai me dar um beijo de despedida?” e o pior de todos “será que eu vou dar um beijo nele, assim, do nada?”. Me concentrei pensando em unicornios e zumbis, me acalmando olhei séria para os olhos negros do Ty e minha voz saiu um pouco mais sexy do que eu esperava:

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