Here we are now, entertain us

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         O amendoim tinha gosto de batata. Ouvia-se solos do Hendrix e todos os amigos de Rosemay dançavam.

     Fui obrigada a me sentar com o filho duma empresária. De todos os assuntos do mundo, ele escolheu falar apenas sobre finanças. Fiquei reparando então no fundo da sala onde Erick se encontrava vestindo calças de couro e um blazer. Ele conversava com a moça mais bonita vestida com um vestido tão vermelho que meus olhos cansavam de olhá-la. Ela ria de todas as piadinhas e tudo, tudo! Senti uma pontada de ciúmes e resolvi tomar um ar.

     Fazia frio e um vestido foi a péssima escolha para a ocasião. A festa de boas-vindas que Rose fez para mim só me deixou mais sozinha e com frio.

      O banco-balanço do jardim estava coberto por velas, então deitei-me no gramado. Peguei meu celular e re-li todas as mensagens que Ty havia me mandado. Todas elas me direcionaram para uma pergunta em questão: eu ficaria com Tyler ou teria minhas aventuras com Erick?

     Tentei apagar as mensagens mas não me importei muito com minha decisão de “deixar tudo para trás”. Oh well, whatever, nevermind...

     Voltei para a casa, passando por várias pessoas dançando até parar onde Erick estava da última vez que o vi. Fiquei procurando-o com os olhos. Ele não estava dançando, então  desisti e fui para a copa onde comidas árabes estavam servidas. Agarrei alguns potes com pastinhas e torradas e fui me isolar no meu pequeno cafofo (quarto).

     Entrando, me vi no espelho. Foi uma das únicas vezes que me vi de verdade. Meus poros, cada fio de cabelo, os olhos claros, pernas longas, torso curto... Desviei meu olhas e percebi Erick calado no canto do quarto com desenhos espalhados a sua volta. Minha pele branca se tornou tão rosa que achei que iria explodir.

     - Você nunca me disse que desenhava.

     - Comecei depois... Am, deixa pra lá.

     - Esse sou eu?

     O desenho nas mãos de Erick era ele sim. A jaqueta detalhada, o cigarro nunca aceso, botas de motoqueiro com ele encostado-se numa parede de tijolos. A data “3 de Janeiro” estava escrita no canto da página.

     - É.

     - A jaqueta. Gostei da jaqueta. Tem cada detalhe... Até o broche que ganhei da minha avó!

      - Essa jaqueta é o máximo mesmo. Conheço tudo sobre ela.

Janeiro 2011

     O sorvete de baunilha derretia nos chãos de Seattle. Sentamos naquela lanchonete suja que minha mãe odiava cantando uma música do Joe Strummer.

     - Love kills... Love kills!

     Ele beijou a ponta do meu nariz sujo de sorvete e me disse:

    - Comprei dois ingressos para aquele museu de cera. Está havendo uma parada de desenhar corpos e esculpir, achei que você iria gostar.

     - Que horas nós vamos? Quero comprar um presente para a minha mãe, não dei o de Natal para ela e tal.

     - Vamos às 19h Ginge, posso aguentar você tentando achar um presente por umas duas horas.

    - Uma hora e vinte minutos.

    - Tá, tá – disse calando minha boca com um beijo.

    Achamos uma xícara escrito “Mom, love you more than coffee”, embrulhei com um papel brilhante de 99 centavos e fomos andando até o museu.

     Passamos uma meia hora lá até avisarem que o evento iria encerrar. Fomos até a saída quando Erick virou e correu o mais rápido que pôde por um corredor sem seguranças. Passou por baixo da placa de “Não passe” e me chamou. Bobamente, o segui.

     Paramos numa sala grande, lá haviam camas grandes, mesas grandes, tudo era grande. Senti-me como uma anã perto daqueles moveis.

    - O que é aqui? – perguntei.

    - Ainda não terminaram, meu amigo me mandou uma mensagem hoje cedo contando sobre isso aqui. Porra, mais foda do que eu tinha imaginado!

     Com a sua ajuda, subi na cama gigantesca. Pulamos, demos cambalhota, gritamos. Parecia que ninguém podia nos encontrar lá.

     - Vem cá! – me puxou. Deu um beijo na minha boca enquanto nós pulávamos. Acabei mordendo seu lábio inferior e não sei quantos desculpas e disse.

    - Tudo bem, só preciso de um beijo para sarar, o...

     Ficamos nos beijando por um bom tempo, a cama não se mexia mais, todos aqueles objetos grandes continuavam grandes, mas Erick não parecia o mesmo.

    - Tudo bem?

    - Ginge. Ginge, ginge, ginge...

    - Eu? – ri.

    - Eu gusto de você Ginge.

     - Eu também gosto de você Erick.

     - Mesmo está sua franja bizarra.

    Fiquei séria e fiquei de costas para ele. Dando a volta, ele deitou na minha frente e disse:

    - Eu gosto gosto de você.

     - Tá.

    - Amo – me deu um selinho – você.

     Fizemos amor naquela cama enorme. Após todos aqueles toques procurei um papel de caderno na minha bolsa. Comecei a desenhar você, não o acabei mas o cabelo bagunçado pós-sexo estava lindo e combinaria tanto com a minha ideia para aquele desenho.

     O desenho não foi feito no dia 3 de Janeiro, no dia 3 minha ideia inicial foi formada e após dias e dias tentando, aprendi a desenhar você para mim.

     - Você gosta mesmo da minha jaqueta né?

     - É.

     - Gosta dos meus cigarros também? Quer um?

     - Não fumo – disse sem graça.

    - Nem eu, mas tenho certeza que você vai gostar desse.

     No cigarro que ele me dera seu número estava escrito.

     - Se quiser sair amanhã, me liga.

     - Ok.

     O desenho foi entregue a mim e Erick saiu. A música da festa de boas-vindas invadiu meus ouvidos e decidi então ter um presente de boas-vindades. De verdade.

     Disquei o número e Erick atendeu no primeiro toque.

     - Já?!

     - Bem-vindo ao meu mundo. 

Ginger CakeOnde histórias criam vida. Descubra agora