Hello San Diego... Hello.

253 9 0
                                    

      Adoro viajar de avião. A sensação de estar quilômetros do chão, voando e lendo seu livro favorito poderiam estar no meu dia-a-dia. Mas há sempre aqueles pousos bruscos. Seu coração vai a mil e o frio na barriga aumenta a cada segundo, então para tudo e você sai calmamente até o bagageiro.

     Caminhei rápido demais para acabar não achando minha mala, chamativa aliás. Queria voltar ao passado e dizer a mim mesma para não escolher uma mala rosa-chiclete pois sua mãe nunca comprará uma nova.

      Eu já havia rodado o aeroporto inteiro quando avistei numa cafeteria a moça ruivissíma com a mala nas mãos e um café na outra. Ela acenava pra mim alegremente mas tudo que passava pela minha  mente era: “espero que ela derrame o café nesta blusa colorida”.

      - Que moça, hein? Não te vejo desde 2009! Tão linda, jovem... – blah, blah,  blah. Sempre as mesmas conversas ao encontrar um parente distante. Acabei aceitando a oferta do café (um Latte péssimo na verdade) que pareceu jogar-se na minha blusa no instante que o segurei. Karma is a bitch.

     Rosemay era realemnte bonita. Com os cabelos trançados até a cintura e suas saias longas jurei não saber o porque  dela estar solteira. Enquanto ela falava suas mãos se mechiam freneticamente, sacundi os milhões de anéis envoltos em seus dedos.

     - Não sei se está animada para morar comigo por esses dois anos, um até, aliás, não sei nada sobre você! – riu.  – Estava pensando: o que acha de irmos a uma loja de decoração e escolher algo que você goste para deixar o quarto do seu jeitinho? Quando eu tinha a sua idade eu odiava aquelas paredes cor de creme com camas perfeitinhas, tudo muito comercial do dia.   

     Acabei me animando e não sei quantas vezes disse sim.

     Seu carro não era bem o que eu esperava. Ela abriu a porta de seu Mercedes abrindo também minha boca de tão surpresa.

     -Nossa, que carro incrível! Não sabia que... Wow.

      Ela me olhou risonha estendendo as chaves e disse, calma:

     - Já tem 16 e imagino que saiba dirigir. Te ajudo nas direções de você acha isso um problema, ok Ginger? Nós ruivas temos noções de controle melhores. Girl power!

     Segurei as chaves mais leves que já segurei em toda minha vida  (ou era o nervosismo que a fazia quase cair fazendo-a levíssima). Abri o porta-malas e enfiei minhas tralhas com ajuda de Rosemay. Fui até o acento do passageiro, quase me esquecendo, mas dei um loop até o acento da direção.

     -Não sei se consigo tia Rosemay, sinceramente...

     - “Nós somos ruivas e temos o poder” é meu mantra. Você devia torná-lo seu.

     Depois dessa não tive escolha e liguei o carro – se é que eu posso chamar apenas de “o carro”. Tive uma pequena dificuldade para sair e logo estávamos na estrada.

      A estrada não era apenas uma estrada. Via-se palmeiras, skatistas, surfistas, cachorros com roupas ridículas e ninguém parecia estar triste. Sorrisos aos montes em cada esquina. Vi alguns dos meu cafés preferidos de Seattle e outros entrariam na minha lista. Foi então que tudo ficou perfeito ao Rosemay ligar o som e começar a cantar “Mercedes Benz” da Janis Joplin.

Oh Lord, won't you buy me a Mercedes Benz?

My friends all drive Porsches, I must make amends.

Worked hard all my lifetime, no help from my friends,

So Lord, won't you buy me a Mercedes Benz?

Ginger CakeOnde histórias criam vida. Descubra agora