Para começar, fui criada pela Dª. Dulce desde, praticamente, sempre. Para mim ela não é apenas a Dª. Dulce, é como se fosse minha mãe. Ela é, sem dúvida, a melhor pessoa que já conheci em toda a minha vida. Vivemos numa casa bastante pequena e muito acolhedora. O meu quarto é, na verdade, um sotão. A casa foi feita à medida para ela e para o Sr. Joaquim (que morrera faz algum tempo). Como não tencionavam ter ou até mesmo adoptar crianças (imprevistos acontecem!), não tinham nenhum quarto propriamente dito para mim. Mas não me estou a queixar, de todo! Até porque, se não fosse ela, muito provavelmente estaria ainda hoje num orfanato. Pois, é verdade. Pelo que me disseram, a minha mãe abandonou-me no hospital no exato momento em que me teve e, desde então, não sei o que é feito dela. Como nunca a conheci, a sua ausência nunca me fez muita diferença. Tenho poucos amigos na escola, não posso dizer que sou popular, porque, convenhamos, nem de perto. Mas os que tenho valem 1000x mais do que toda a popularidade que alguma vez poderia ter! E o meu pai? Pois, é algo que tenho vindo a questionar durante estes anos todos.
- Shaiii! - ouvi a Dª. Dulce chamar.
- Sim? - respondi pouco depois.
- Anda cá abaixo, está aqui alguém que diz precisar urgentemente de te ver.
- Já vou! - disse, dirigindo-me imediatamente para o pequeno espelho pregado na parede afim de dar um jeitinho no cabelo. Mas quem será para vir a minha casa a esta hora da manhã? A Nina é impossível, às 10h está no 3º sono... Talvez o Joe? Não pode... Ele tem os ensaios da banda. Não estou mesmo a ver quem pode ser.Desci num ápice e vi que a visita se tratava de um homem alto e magro, de olhos de verdes, barba cortada e cabelo bem penteado. Dou-lhe 45 anos, no máximo. Não dou mais. Mas quem é este?
- Olá! Sou o James, muito prazer. - estendeu-me a mão.
- Shailene. - disse tentando esboçar um sorriso enquanto lhe apertava a mão. Em vão. - Não quero parecer mal educada, mas posso saber o porquê da sua visita?
- Acho melhor nos sentarmos todos para conversar melhor, o que acham? - a Dª. Dulce propôs. Oh, Meu Deus. A última vez que ela mandou uma visita sentar-se, foi quando me contaram o que a minha mãe fez. Isto não vai ser bom. Isto não vai ser nada bom. Isto vai ser péssimo.
- Acho uma excelente ideia! - o homem disse sorridente....
- Então... venho falar-te sobre um assunto delicado. Bastante delicado.
- Sim? - disse, começando logo de seguida a temer o pior.
- É que... Bem... Quando era mais novo, tive uma namorada e do nada, ela desapareceu. Sem dizer para onde é que ia ou até dizer-me que ia. E no mês passado, quando fui deixar a minha contribuição para o orfanato que vai abrir na minha cidade, disseram-me que fora uma pena que tenha dado a minha filha para adoção. E fiquei sem saber o que responder. Pedi ajuda à polícia para que procurasse a filha que nunca pensara ter e a mãe da mesma. Quando me disse quem era, juntei as peças do puzzle e entendi o porquê da fuga. Claro que não pude deixar de te procurar. Tenho andado a tua procura este mês todo e finalmente te encontrei. Shailene, minha filha, desculpa por não ter estado aqui para ti. Mas quero mesmo recompensar todo o tempo perdido.
- O... o quê? - de boca aberta e com lágrimas a caírem-me cara abaixo, fui a correr para o meu quarto. Aquele cenário não chegava, nem de perto nem de longe, ao pior dos piores que eu tinha imaginado.
- Desculpa... - ouvi o homem dizer baixinho.
Continua...
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O Diário da Mudança
Teen FictionJá li livros de muitos tipos. Já li contos de fadas, onde a fada madrinha ajuda a Cinderela. Já li romances de finais felizes, e outros, nem tanto. Já li ficção. Mas nunca li um único livro que contasse a minha história. Não que alguém quisesse fala...