Por: Daniel Rodrigo
O manto da noite cobria todo o vale de Mihal. A Lua ao longe brilhava escondida pelas montanhas e havia poucas estrelas. Pareciam tímidas. Rodrik contemplava o céu, muito mais escuro e frio, e pensava em seu passado. De repente se lembrou de sua falecida mulher, Alana, vítima de uma doença contraída pouco tempo depois de chegar a Mihal. Sempre culpava Lurien Wisengrall, irmão do rei Loren Wisengrall, o Punho de Ouro, pelo golpe que o destronou. Se isso não tivesse acontecido não teria perdido seu cargo e nem teria sido obrigado a partir da capital. Sentiu aquele desgosto que de vez em quando tomava conta de si e com raiva esmurrou a parede ao lado da janela. O baque seco chamou a atenção de Lorence, sua filha mais velha.
— Pai, aconteceu algo? — disse ela com a expressão preocupada.
— Não minha filha, não foi nada...
Ela deu um leve sorriso, enquanto olhava para a janela procurando algo.
— A Lua hoje está tão distante não é pai? — perguntou enquanto se aproximava dele. — Que estranho...
— Hum... — bufou Rodrik enquanto virava-se para a janela. – Nada mais é como antes...
— É uma pena...
— É sim...
— Pai — Lorence quase assustou Rodrik ao falar. – Porque o senhor não se casou mais?
Rodrik a olhou enquanto coçava a espessa barba ruiva que repousava em seu peito, em seguida ajeitou sua capa de couro enquanto se escorava para fora da janela. A pergunta o fez sentir um calor no rosto e um tremendo frio na barriga. Gaguejou duas vezes antes de falar e virou-se para o céu escuro. De repente sentiu o vento bater mais forte. Mas não era um vento gelado. Era sereno e leve.
— Bom minha filha, eu nunca encontrei alguém como sua mãe. E jamais encontrarei...
— Eu sinto muito a falta dela... — debruçou-se na janela e abaixou a cabeça. — Mas o senhor nunca tentou não é? Talvez em algum lugar desse vale tenha alguma...
— Não tem! — interrompeu Rodrik. — Não tem e jamais terá uma mulher como sua mãe! Nem nesse vale e nem em todo o mundo, não há!
Ao dizer isso ele pôde perceber a expressão triste da filha. Respirou fundo e mudou o tom de voz.
— Sabe quem escolheu seu nome?
— Mamãe? — perguntou levantando o rosto.
— Sim, ela mesma. Ela escolhia minhas roupas, tomava as decisões de casa... Eu simplesmente fazia o que ela mandava...
— Sério pai? — perguntou, depois de uma risada tímida. — O senhor sempre foi um bobão mesmo. Isso explica o péssimo gosto que o senhor tem em vestimentas...
— Mas que audácia! Como ousa falar assim com seu pai? — disse em tom descontraído. — Te jogarei para um katzën selvagem como castigo!
— Ah! Meu pai, eu o mataria somente com minhas mãos! Não tenho medo de gatinhos...
— Há! Há! Há!— riu em voz alta. — Você falou igual a sua mãe!
— Sério? Então me conte mais sobre ela, pai!
— É... Tudo bem. Vejamos, teve uma vez que sua mãe espalhou uma saca de cereais por toda a...
— Pai! O que é aquilo? — gritou Lorence enquanto olhava assustada para o vale. — Ali pai, ali!
Rodrik olhou para as mãos delicadas da filha que apontavam para mais abaixo do vale. Uma enorme sombra planava por cima dos campos de plantação. De repente, a sombra lançou-se violentamente contra um celeiro, destruindo-o. Ouviram-se gritos de desespero ao longe. Ele afastou Lorence da janela e correu para dentro do quarto onde a filha mais nova, Nance, dormia.
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Contos de Um Bardo Viajante
Fantasy'"Mágica, além dos olhos e da percepção. São os feitos de homens e mulheres que diante do medo, corajosos são.” Afortunados dos olhos que um dia viram a magia acontecer. Seja por alguns segundos ou pela eternidade, de certo, é algo que jamais será e...