Entre Escolhas e a Escuridão

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Por: Patrique Mamedes


Três pontos negros surgiram no horizonte do vasto campo verdejante que cobria aquelas colinas. Por todos os lados via-se katzënyanos cuidando das criações, plantando grãos para consumo e escambo no comércio, muitos deles interromperam seus afazeres para observar os três homens de vestes negras e cabelos acinzentados que passaram indo em direção ao palácio real.

O sino soou e o grande portão do castelo se abriu. Guardas enfileirados criaram um corredor de recepção, e na medida em que os misteriosos homens passaram, a fileira se desmanchava e os acompanhava. O rei Garehn, sucessor dos Wisengrall, família de uma grande linhagem na realeza, encontrava-se aposto em seu trono quando os três homens curvaram-se aos seus pés.

— Procuramos Cêdric Baldon. — suas vozes possuíam um tom atípico e gélido.

O rei intrigado consentiu com a cabeça.

—Traga-o até aqui. — ordenou o rei ao homem robusto que estava a sua direita.

***

A comitiva de cavaleiros abria caminho pelas vielas do reino. Passaram por ruas estreitas abarrotadas de pessoas, e pararam em frente a uma humilde morada. Na entrada viam-se belas telas penduradas por todos os cantos.

Um soldado desmontou de seu cavalo e entrou pela porta que estava entreaberta. Dentro da moradia estava um solitário jovem de cabelos claros e vestes manchadas, que mantinha sua atenção presa à pintura.

— Bela tela Cêdric, mas terá que terminá-la depois. O rei exige sua presença — informou o cavaleiro e notou o descontento do jovem pintor.

— Jovem Cêdric, não sei o que aprontou dessa vez, mas você sabe muito bem que as ordens do rei devem ser cumpridas. Ele não ficará nada satisfeito se eu voltar sem você.

Então não me restam alternativas, espero que ele esteja de melhor humor hoje... Pensou Cêdric que resumiu a responder:

— Que seja! Quanto antes for mais rápido estarei de volta.

***

No castelo o rei caminhava de um lado para o outro apreensivo. Mirava os três indivíduos que permaneciam inertes contemplando a paisagem além das janelas. O Reino de Katzënya possuía uma beleza única, com grande extensão de pastagens verdes que contrastavam com as coloridas árvores de quellúrias e seus frutos avermelhados. De longe se via os rios que cortavam o vale inteiro e acima era possível avistar as misteriosas ilhas flutuantes. Mas a atenção dos homens de trajes sombrios voltou-se para o salão principal com a chegada do jovem.

Cêdric seguiu à frente dos soldados e caminhou em direção ao rei, que se acomodava inquieto em seu trono.

— Majestade, não sei por que estou aqui, creio que trata-se de um pequeno equívoco. Posso garantir que minha conduta nos últimos dias foi inquestionável, e qualquer acusação contra a minha pessoa seria de pura falácia.

O Rei Garehn olhou-o imponente e ordenou.

— Ajoelhe-se imundo. Mostre um pouco de respeito por essa coroa. Não se trata de nenhuma galhofa que aprontara nos últimos dias. Na verdade, quem o requisitou foram os três sábios do reino.

— Necessitamos conversar com você jovem — disse o mais alto e esguio dos sábios aproximando-se de Cêdric. O trio olhou para o rei e de novo o mais alto continuou — Creio que necessitamos falar em particular com o jovem.

— No meu reino não existem segredos. Tudo deve ser partilhado com a coroa —exaltou-se o rei.

Os sábios aproximaram-se dele e murmuraram algumas palavras inaudíveis aos demais que o fizeram tremer, em seguida o monarca ordenou que todos saíssem da sala do trono.

Contos de Um Bardo ViajanteOnde histórias criam vida. Descubra agora