Cap. 1

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Quinta-feira, 7:30 da manhã. O sol brilha, os pássaros cantam... e eu tremo como uma vara verde enquanto espero o resultado da reunião, que já durava um pouco mais de trinta minutos, entre minha mãe e o diretor da escola, acabar.

Eu juro, do fundinho do meu coração, que eu não queria ter feito aquilo. Não queria mesmo. Sério, não queria. Mas, sabe como é, foi um desafio. E ficou bem engraçado, no final das contas.

Imagino o que você deve estar pensando: como assim, Clara, se te pedissem pra se jogar da ponte por um desafio você faria? Calma, deixe-me explicar.

  Lá estava eu, fim de tarde, tédio total, celular recém pifado, quando Lucas, meu irmãozinho lindo (leia-se endiabrado) e que parece um anjo com seus cachinhos (leia-se ninho de ratos quando ele esquece de pentear), disse que ia rolar uma festa na casa da namorada dele, a Samantha, e que ela tinha me convidado. Tudo bem, eu devia ter suspeitado de algo bem ali. Mas, poxa, eu estava sem acesso às redes sociais, minha melhor amiga tinha viajado para a Noruega como presente de aniversário e não haviam muitas pessoas na escola que realmente estivessem dispostas a falar comigo. Então, sim, eu podia ter suspeitado de algo, mas acho que eu realmente não queria.

A festa realmente rolou, claro. Não foi como naqueles filmes adolescentes em que convidam a menina até a casa para fazê-la pagar mico. Pelo menos, não no princípio. Depois de um tempo ficou claro que tudo o que eles queriam era: 1- beber; 2- ficar com alguém; 3- constranger totalmente pessoas mais tímidas (leia-se eu). Tá, tudo bem, eu não sou exatamente tímida, acho que essa parte é bem perceptível, mas eu meio que travo em frente à pessoas desconhecidas. Sério, eu travo. Não é uma cena muito bonita. E, infelizmente, se mostrou verdade muitas vezes naquela festa. Mas o verdadeiro porquê de ter me metido nessa furada: um incidente com uma garrafa de vinho de 200 dólares (culpada), uma tv rachada (quase culpada) e totalmente constranger meu irmão quando perguntei se ele já tinha tomado seu remédio para alergia (ei, não me culpe, tá, pode ocorrer um sério fechamento em sua glote). Depois disso tudo, a turma do meu irmãozinho decidiu que eu tinha que pagar pelo que fiz. Não literalmente, claro, mas de forma pior. Num voto unânime, eles decidiram que eu devia pôr pó descolarante no shampoo caríssimo que o diretor deixava em seu banheiro particular.

E o resultado disso se mostrava completamente quando o diretor colocou sua cabeleira amarelo-ovo para fora de sua sala e estendia um dedo em minha direção.
- Agora o nosso assunto é com você, mocinha.

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