Meu Futuro Problema

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Quando eu acordei Hil ainda estava dormindo. Tive outro pesadelo igual ao que eu tinha quase todas as noites. Nele eu estava sozinha em uma floresta com árvores muito altas, e o lugar era muito escuro. Eu fugia de alguém ou alguma coisa que não sei bem o que era. Era sempre igual e eu sempre acordava assustada e com medo.
Estava sentada na cama quando comecei a escutar gritos de pessoas que pareciam muito assustadas. Me levantei e sai do quarto pra ver o que estava acontecendo. Quando abri a porta ele foi a primeira coisa que eu vi. Jack Wild, meu futuro e não distante problema. Ele olhava pra mim como se sentisse pena e eu não conseguia tirar meus olhos dos olhos dele. Não sei o que, mas alguma coisa neles me atraia. Eram escuros e profundos, e você podia ver a maldade estampada neles. Sem perceber reparei no rosto dele por alguns minutos. Uma de suas sobrancelhas estava levemente arqueada e ele continuava me olhando, com um sorriso debochado nos lábios, que por sinal eram tão atraentes quanto seu olhos.
Parei de olhar pra ele quando percebi que Hil estava do meu lado, com os olhos cravados no chão e com lágrimas escorrendo pelo rosto. Finalmente percebi que ela não era a única, mas todos a minha volta tinham a mesma reação. Perguntei sem entender nada:
-Ei, o que houve?
Ela apontou para o fim do corredor sem dizer nada, daí eu pude compreender o que se passava. Mesmo de longe deu pra ver que se tratava de um cadáver. O corpo de uma garota estava esticado no chão com marcas que me fizeram estremecer e pensar se eu realmente devia estar ali. Naquele momento só consegui sentir medo e a cena me lembrou instantaneamente do meu pesadelo. Não sei como, mas eu sentia que quem havia feito aquilo com a garota não só podia, mas iria fazer comigo. As marcas pareciam ter sido feitas por um cachorro ou um lobo. Eu achei (pelo menos naquela hora) que aquela seria a pior coisa que eu veria na vida. Eu infelizmente estava enganada.
Os alunos começaram a se dispersar quando minha mãe chegou. Quando ela viu a garota no chão (mais tarde eu descobri que ela se chamava Elizabeth) olhou com um nível crítico de desconfiança para Jack. Ele, que já não olhava mais pra mim, deu de ombros e foi andando pelo corredor enquanto todos o olhava com desprezo.
-Quem viu, exatamente, o que aconteceu? -Minha mãe perguntou
Embora algumas pessoas tivessem visto alguma coisa, ninguém queria dizer nada pelo medo que sentiam de terem o mesmo fim.
-Tudo bem. -Ela disse. -Ane, preciso que venha comigo.
Eu fui. Enquanto os alunos voltavam para os seus dormitórios, Elizabeth era retirada do corredor. Minha mãe me levou para a sala do Departamento de Magia. Me sentei no lugar onde ela disse que era meu e observei todos que estavam lá dentro. Eram todos velhos e tinham cara de rabugentos. Minha mãe estava sentada do meu lado. Estava silêncio. Ninguém falava nada.
-Mãe, o que tá acontecendo? -Perguntei
-Nada.
-Como nada?
Eu fui interrompida quando ele, Jack, entrou na sala. Todos os olhares, inclusive o meu se voltaram pra ele:
-Vocês vão ficar me olhando com cara de idiotas? Porque se forem, eu tenho mais o que fazer. -Ele disse com um ar arrogante.
-Jack, por favor, sente-se. -Minha mãe disse.
-Hunf! Olha aqui, eu sei muito bem o que vocês tão pensando. Não fui eu!
-Eu não disse que foi. Jack, por favor, senta.
Ele se sentou, contra sua vontade.
Enquanto isso, eu reparei bastante em todos dentro da sala e cheguei a conclusão de que metade dos presentes eram confiáveis (eram os Angs) e a outra metade em hipótese alguma (os "renegados", Krafs). Depois que os ânimos se acalmaram um pouco minha mãe prosseguiu:
-O... -Ela procurou o termo adequado para se referir a situação- Acontecimento dessa manhã foi de fato lamentável. Elizabeth era uma ótima aluna, amiga e principalmente uma ótima filha, o que me lembra que os pais dela já foram avisados e estão vindo pra cá. Eles, assim como nós, querem saber como tudo aconteceu.
Eu acabei perdendo a paciência.
-Alguém quer, por favor me dizer o que tá acontecendo?!
-Ane, por favor mantenha a calma. Ninguém aqui sabe direito o que aconteceu. Ou pelo menos eu espero que ninguém saiba. -Minha mãe respondeu com os olhos fixados em Jack.
-Que droga! Eu já disse: dessa vez não fui eu.
-Dessa vez? Como assim dessa vez?
Minha mãe esperava uma resposta. "Dessa vez" deixou ela furiosa, e era bem difícil fazer ela se zangar. Percebi que a situação era mais séria do que eu imaginava.
-Senhores, e senhoras, creio que estamos aqui pra falar sobre o ocorrido de hoje. Os acontecimentos passados devem ficar no passado. -A resposta veio num tom de voz frio e grosso. Aquele era Robert Wild, pai de Jack Wild e ele era tão bonito quanto o filho. Mas (assim como Jack) bonito só por fora, também era possível ver a maldade em seus olhos negros como um buraco.
-No passado? Seu filho acaba de confessar que ele foi o responsável pela morte de um aluno e você acha que isso não tem importância?
-Não foi isso que eu quis dizer minha cara. Mas acho que devemos nos concentrar em fatos mais recentes. Como você mesma disse, os pais da garota estão chegando e eles vão querer saber de tudo.
Todos concordaram, naquele momento, que ele tinha razão.
-Certo. Por enquanto é melhor nos concentrarmos em Elizabeth. Mas depois tomarei as devidas providências.

Ane: Entre o Bem e o MalOnde histórias criam vida. Descubra agora