Capítulo 3

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Levanto-me de manhã, ainda com um intenso cheiro a tabaco em toda a casa. Deixo a cama por fazer, e dirijo-me à casa de banho, e o cheiro dela ainda se encontra aqui. Tão bom. Tomo um banho rápido, visto umas calças pretas, uma t-shirt cinzenta e o meu habitual casaco preto. Olho para o canto das sapatilhas, e calço as primeiras Air Max que vi.

Saio de casa, phones no ouvido, e caminho à procura de respostas. Este caso está-me a dar mil e uma voltas à cabeça, está-me a consumir de uma maneira inexplicável. E cá estou eu, à porta da morgue, prestes a descobrir a verdade. Ou uma parte dela.

- Boa tarde, Dr. Johnson. – digo eu, com um tom de voz de quem está com medo do que está prestes a descobrir.

- Boa tarde, Sr?

- Bruce. Bruce Joseph.

- Prazer. Então de que se trata esta ocasião? – pergunta ele, com um estranho sorriso na cara.

- Queria fazer-lhe umas perguntas acerca de um caso em que estou a trabalhar. Ora, 6 corpos de raparigas jovens foram encontrados à umas semanas atrás. Queria fazer-lhe umas questões acerca desse assunto.

Começo a perguntar-lhe acerca dos fragmentos de unhas encontrados debaixo das lesões que levavam a acreditar que o nosso cliente é culpado, acerca da maneira em que os corpos foram encontrados e acerca da cena do crime. A respiração do médico legista começa a acelerar e começa a suar. Sinto que me está a esconder alguma coisa ou que sabe alguma coisa e não pode ou quer dizer.

- Está tudo bem consigo? – pergunto-lhe.

- Sim, sim, está. Porquê, sr. Bruce? – responde ele, atrapalhado.

- Nada, dr. Johnson. Obrigado pela ajuda.

Saio do escritório do médico legista e continuo a pensar o porquê de ele ter ficado assim tão nervoso. "Ele sabe de alguma coisa e não me disse. O que é que será que aconteceu?", penso eu.

Pego no telemóvel e ligo ao Stefan. O Stefan faz parte de um grande grupo de hackers, e acima de tudo, é meu amigo.

- Stefan?

- Bruce! Tão bom ouvir a tua voz, como é que estás?

- Está sempre tudo bem, amigo. Preciso de um favor teu. Preciso que me envies os movimentos da conta bancária do médico legista James Johnson. Tenho que tirar uma situação a limpo.

- Daqui a bocadinho envio-te isso. Fica bem Bruce!

Sento-me na esplanada de um bar, peço um Jack Daniels com duas pedrinhas de gelo, acendo um cigarro e vejo o e-mail. Aparentemente, o dr. Johnson recebeu uma grande quantia de dinheiro de uma empresa chamada Queens' Corp. Porque é que um médico legista iria receber uma quantia de dinheiro destas de uma empresa no dia em que os corpos foram encontrados? Perguntas e perguntas começam a circular na minha cabeça, cada vez me deixa mais doido.

O que mais me irrita é o facto desta empresa pertencer ao irmão da minha professora. "O que é que se passa aqui?" Não é que possa chegar ao pé do irmão da minha professora e fazer-lhe perguntas acerca da sua empresa, posso perder o meu trabalho, posso perder tudo. Mas não posso ficar quieto, sabendo que a história é muito mais do que apenas o meu cliente ser acusado de um crime que nunca cometeu.

Levanto-me de repente, e decido ir encontrar-me com uma familiar das vítimas do meu caso. Continuo com a esperança de que consiga saber a verdade, o que realmente aconteceu.

- Sra. Hailey Jackson, a sua irmã estava ligada de alguma forma à Queens' Corp?

- Não. – responde ela, com as lágrimas a começarem a escorrer pela sua cara. – Eu acho que o que a levou à morte foram as verdades todas sobre empresa que ela sabia. Tudo o que sabia sobre a empresa, e o seu proprietário.

- E o que é que ela sabia? – pergunto eu.

- Ela nunca me chegou a dizer. A justificação era porque me queria manter protegida, sem estar sujeita a ser magoada, ou até morta. E no final de contas, ela morreu a proteger-me. – responde ela, com o rosto lavado em lágrimas que pareciam nunca mais querer parar.

- Peço imensa desculpa por ter passado aqui, peço mesmo. – respondi eu, com um sentimento de culpa por ter vindo tocar em assuntos que nem sequer me devia estar a preocupar.

- Não peça desculpa. Apenas encontre o psicopata que fiz isto à minha irmã e ás suas amigas. Elas não mereciam aquilo que tiveram. Não mereciam mesmo.

Saio de casa da sra. Hailey, e respiro fundo. Algo de muito mau está a acontecer aqui, algo de muito estranho mesmo. Caminho para casa, e encontro Emily à porta do prédio. Subo as escadas com ela, e ela entra em minha casa. Ofereço-lhe uma cerveja, e ficámos ali os dois a beber e a conversar, enquanto ela fumava o seu charro de erva.

- Pareces stressado, o que se passa? Queres fumar disto? – pergunta-me ela, enquanto olhava para mim com os seus lindos olhos fechados e vermelhos.

- Este caso está-me a dar voltas à cabeça, sabes? Aparentemente a empresa do William Queen está envol....

Mal acabo de dizer o nome do irmão da minha professora, William Queen, Emily deixa cair a sua garrafa de cerveja, olha para mim com uns olhos assustados, levanta-se e diz:

- Desculpa Bruce, tenho mesmo que ir.

E sai de minha casa, assim de repente. O que é que acabou de acontecer?

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