Capítulo 4

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William Queen. O presidente da maior empresa da cidade está de alguma forma envolvido no homícido de 6 raparigas. O mais preocupante é que ninguém faz as perguntas certas a ninguém, só eu. Talvez o mundo em que vivemos viva à base de medo. É estranho.

Mais um dia de trabalho, mas desta vez, no tribunal. É o primeiro julgamento do meu cliente em tribunal. Tenho medo, muito medo. Com as provas que foram apresentadas (anonimamente, o que me faz pensar ainda mais nisto) posso perder o caso. A minha professora é a advogada dele, eu só estou encarregue do caso, mas memso assim, é uma grande responsabilidade. Não quero que a minha professora perca um caso por causa de mim, provavelmente perderia o trabalho, ou então ela nunca mais iria olhar para mim da mesma maneira.

Ao chegar ao trabalho, encontro a minha professora:

- Como estás, Bruce?

- Estou bem, sra. Jessie. Porque haveria de estar mal? – pergunto eu.

- Seria normal andares perturbado. É um grande caso nas nossas mãos, temos que provar que este homem é inocente. Não te preocupes, vai correr tudo bem ali dentro. As provas podem apontar o contrário, mas eu acredito que este homem seja inocente. Sabes Bruce, se acreditamos em alguma coisa na vida, temos que defender isso, a que custo for.

Entramos na sala de audiências, cheia de pessoas, os familiares das vítimas e eu sinto-me em baixo. Sinto que tenho a grande responsabilidade de encontrar quem fez isto, sinto que tenho a grande responsabilidade de dar paz a estas pessoas.

- Silêncio em tribunal, por favor. – diz o juiz.

Toda a gente olha para o meu cliente com uns olhos de quem está com raiva, uns olhos de quem quer mesmo que ele seja preso e condenado pelos crimes que, supostamente, cometeu.

- Michael Douglas, 60 anos, reformado. O senhor está acusado de homícido em massa, onde, alegadamente, tirou a vida a seis raparigas, com idades entre os 17 e os 23. Jessie, alguma coisa em defesa do arguido?

- Ele não matou ninguém. – diz a professora, com um ar confidente, enquanto que toda a gente olha para ela com uns olhos de ódio. – Porque é que um homem de 60 anos iria matar seis raparigas, sem razão nenhuma? É verdade, sim, as gravações das câmaras de vigilância colocam o meu cliente na cena do crime, mas responda-me, é na hora em que os crimes aconteceram? O médico-legista apontou que as raparigas faleceram pelo menos duas horas depois do meu cliente aparecer na gravação das câmaras. Não se leva duas horas para matar alguém, mesmo num beco em que quase ninguém passa. Dá tempo suficiente para encenar um crime, dá tempo suficiente para o meu cliente sair do beco e alguém ir lá e assassinar essa pessoa.

Porra, ela é boa nisto. Não acredito que ela está realmente a conseguir usar as provas que podem levar o meu cliente preso em sua defesa. Não me admira nada que ela seja uma das mais respeitadas advogadas da cidade. Quem me dera um dia ser como ela.

Horas passaram, e o meu cliente conseguiu ultrapassar o primeiro dia em tribunal.

- Bruce! – chama-me a professora. – Viste? Conseguimos ganhar hoje, há esperança. Contudo, não temos muito tempo para provar que o senhor Michael não matou aquelas pessoas. Faz tudo o que for preciso para arranjares provas que consigam provar que ele não matou ninguém. Mas fá-lo legalmente, senão não nos vai valer de nada.

Saio de ao pé da professora, um pouco melhor do que andava nestes dias, e decido ir dar uma volta a pé pela cidade. Onde é que eu vou arranjar provas? Onde é que eu vou provar que o meu cliente é inocente? Não tenho pistas para seguir, nada. Não vou conseguir ganhar isto.

É complicado viver na linha entre a justiça e injustiça. Nesta cidade, todos vivemos afogados num mar de medo. Não conseguimos saber se os polícias daqui querem ajudar, ou simplesmente são pagos por famílias de crime. Não conseguimos saber se todas as empresas daqui estão a contribuir para uma cidade melhor, ou apenas estão a construir algo para destruir a cidade em ruínas. Ninguém está a salvo aqui. Ninguém.

E, de repente, lembro-me da única pessoa envolvida que me pode ajudar nisto. James Johnson, o médico-legista do caso. Então pego em mim, e vou até o escritório dele:

- Bruce! – diz ele, surpreendido. – Não o esperava ver por aqui hoje. Em que posso ajudar?

- Porque é que recebeu uma enorme quantia de dinheiro vinda da Queens' Corp no dia em que os corpos foram encontrados?

Ele começou a suar, começou a gaguejar e ali eu entendi que havia ali uma ligação. Estou certo, a Queens' Corp está envolvida nisto.

- Por favor sr. Bruce, saia do meu escritório. – disse ele.

As coisas na minha cabeça começam a esclarecer-se melhor. Agora apenas tenho de ir falar com William Queen, o que vai ser o maior desafio.

Então dirijo-me ao bar onde costumo ir, peço o habitual Jack Daniels com duas pedras de gelo e relaxo. Na verdade, foi um dia confuso, nem tenho palavras para o descrever. E de repente, o telemóvel toca. Começo a jurar por tudo que seja Emily, queria poder falar com ela outra vez, mas não sei. Foi estranho o que aconteceu na outra noite. Mas não, foi apenas uma notificação do Twitter. Sinto o meu coração a despedaçar-se cada vez mais.

Saio de bar, ando uns metros e chego ao prédio. E quando acabo de subir as escadas do prédio, a porta de casa de Emily está aberta. "Isto não é normal." Então eu entro, e vejo-a estendida no chão. E escrito na parede do quarto está "Pára de fazer perguntas Bruce".

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