Capítulo 3

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 Pois é Diário, eu estava começando a me livrar daquela confusão emocional, já havia parado de pensar em como eu havia estragado aquela relação (na minha mente já era quase um relacionamento) onde aquele ser, que como diziam nas histórias que eu desprezava, era perfeito pra mim como ele, simplesmente some de um dia para o outro sem dar pistas, sem mandar um SMS, sem sequer se preocupar em como eu ficaria ao ser abandonada. Tudo bem, talvez esteja sendo um pouco dramática mas, em uma situação como essa quem não seria?

 Esses seis meses foram ótimos só pra uma coisinha,me ajudaram a conhecer e amadurecer uma parte de mim que eu sequer conhecia.

 E olhando o visor do meu celular, aquele nome me causou outra série de sentimentos, só que dessa vez era diferente, bem diferente do que eu havia sentido por ele antes, um mix de raiva, alegria, confusão e desespero dançavam dentro de mim, até que eu apertei o botão verde e deixei que aquela voz me possuísse por completo:

 - Alô, Lia? É você?

 Respirei fundo e... 

Sim Vic, sou eu.

Nossa! Você não sabe o quão feliz estou em ouvir sua voz, nossa, todo esse tempo, fiquei com medo que tivesse mudado o número do seu celular e eu não conseguisse te encontrar, como vo..

Pois é Vic, todo esse tempo. - interrompi antes que ele terminasse - Eu estou um pouco ocupada e ...

Sim, sim imagino, desculpe ligar assim, e depois de tanto tempo, precisamos conversar, eu senti muito sua falta esse tempo que passei em Portugal, vamos tomar um café, pode ser hoje às 18h no lugar de sempre?

Portugal? Lugar de sempre? Ele some por seis meses e me vem com "lugar de sempre", como se estivéssemos presos no "País das Maravilhas" e o tempo não tivesse passado lá fora? Mas é claro que eu não ia dar 'chiliqui', não era muito minha praia.

- Ok, por mim tudo bem, seis meses off, você realmente deve ter muito o que me contar. Ás 18h no - respirei fundo mais uma vez - lugar de sempre.

  Quando desliguei o celular, é que percebi o que acabara de acontecer. Eu tenho um encontro daqui à cinco horas, com a única pessoa que: (a) conseguiu diluir o ceticismo que me impedia de ver o amor romântico como um sentimento bom e benéfico, (b) Conseguiu destruir a boa imagem que ele mesmo havia construido sobre esse tal amor.

 Ótimo, eu havia esperado tanto por isso e agora estou prestes a ter um colapso nervoso, não sei o que vestir, não sei o que falar, não sei como me portar diante dessa situação... Já sei! Eu não vou, vou dar um bolo nele e sumir, vou pagar na mesma moeda, vou mudar o numero do meu celular, vou excluir minhas contas nas redes sociais, vou largar o emprego transferir a faculdade e me mudar para o São Paulo. Droga! Estou realmente tendo um colapso. Calma, calma Lia respire fundo e racionalize.

Deixei o laptop de lado, guardei os livros, tirei os óculos, fui até a geladeira peguei uma lata de chá gelado, sentei na cama, peguei meu celular e coloquei Please, Please, Please Let Me Get What I Want pra tocar bem alto e fechei os olhos até me acalmar.

Acordei 17h45 assustada como se tivesse atrasada para a aula, olhei no relógio e percebi que realmente estava atrasada mas não pra ir a faculdade e sim para tentar dar fim a uma dor que durou meses.

 Levantei, tomei banho e sentei-me no chão de frente para o guarda-roupas, tive um breve momento de indecisão quando percebi que a pessoa que eu estava indo ao encontro, não merecia uma super produção, pelo tempo que me fez esperar, sequei os cabelos, vesti uma calça e uma camiseta da minha banda preferida, peguei meu tênis e disse pra minha mãe que ia tomar um café. Ela disse a frase de sempre: "Você poderia comprar um carro com o dinheiro que gasta em café, meu amor" Eu ri, peguei minhas chaves, a bolsa e saí.

Diário, isso não é sobre amor!Onde histórias criam vida. Descubra agora