Naquela gélida manhã de 30 de janeiro de 2012, todos adentraram a unidade escolar, depois das férias de dezembro. Para alguns, aquelas cinco horas de aula seriam as mais entediantes. A outros, todavia, tal evento desencadeou uma forte corrente psicológica.
Matthew, garoto inteligente, de estatura mediana, olhos castanhos e cabelo escuro e liso, sentou-se numa fria cadeira de madeira, aproximou-se de sua mesa e analisou todo o ambiente ao redor.
Diagnosticou diversas pessoas. Reencontrou velhos amigos, reconheceu outros e, alguns, porém, chegaram em sua vida apenas a partir daquela data.
Minutos mais tarde, mais pessoas passaram pela porta. Várias caladas. Outras, com seus amigos. Um menino, entretanto, parou seus passos, trocaram olhares tórridos e rápidos e, Peter, seguiu seu caminhar lento até sentar-se.
Matthew, homossexual assumido publicamente, permaneceu vibrado ao menino que tinha a mesma tonalidade dos olhos e cabelos, mas era um pouco mais baixo.
Para ele, seu sonho era conhecer alguém completamente branco, feito um albino, mas aquela pele, dois tons acima do que esperava, era como algo lindo e brilhava, como se holofortes a iluminassem.
Com uma aparência incrível, manteve-se resistente a vontade de dialogar com ele.
Desencorajado, perguntou a uma amiga:
- Mary, como ele se chama? - apotando para o menino, que, no momento, escrevia.
- O nome dele é Peter. Fizemos, ano passado, um teatro juntos, encenamos a peça Sonho de uma noite de verão. - respondeu sua amiga
Agradecido, continuou a almejar, no mínimo, uma simples conversa com Peter.
Na aula seguinte, um novo professor sugeriu uma troca de posição de alguns alunos. Matthew foi sentar-se na fileira ao lado de quem observava há uma hora, presente há poucos metros dele. Mesmo assim, já guardava o sentimento de idolatria, e, talvez, amor.
Com pensamento forte, seguiu até seu destino, sentou-se na carteira atrás de Peter e perguntou:
- Qual seu nome? - mesmo inseguro, já sabendo a resposta.
- Sou o Peter. - hesitou enquanto dizia as sílabas de seu nome.
- Sou o Matthew - apresentou-se, com um olhar nas nuvens da janela ao seu lado.
Ambos disseram, simultaneamente, "prazer em conhecê-lo". Com medo de fim de diálogo, Matthew continuou conversando, a fim de saber mais sobre ele.
Conversaram sobre assuntos que os dois demonstraram interesse, por alguns minutos.
Três dias se passaram, e Matthew, como de cotidiano, cortou-se, com uma faca. Peter, rapidamente localizou o corte no pulso do amigo e questionou-lhe o motivo daquilo. Mostrando-lhe seu braço, explicou que já cortava-se há alguns meses. Contou também, que encontrava enorme prazer em sentir dores propositais, e tinha apogeu de felicidade ao visualizar o sangue sendo expelido do ferimento.
Confuso, Peter disse que experimentaria tal gesto proposital. De qualquer modo, manteve-se maravilhado com a cicatriz, como marca de uma queda temporária de humor.
Meses passaram-se e ambos desenvolveram uma enorme relação de amizade. Matthew, porém, com seus conflitos psicológicos, divulgou com seu amigo que já tentou-se matar. Como gesto de consolação, imediatamente, conversaram sobre os quesitos bons da vida, assim como também fez seu professor de História, durante uma aula completa.
Dias mais tarde, Matt, como era carinhosamente chamado, continuou seus cortes por impulso. Um, em sua perna, criou enorme espanto, mas, ao mesmo tempo, curiosidade, por parte de seu amigo.
A partir dessa data, compartilharam a vontade de realizar alguns cortes, imaginando que reduziria algum ruim pensamento.
Felizmente, com o passar do tempo, toda essa vontade de reduziu a praticamente zero, e eles a falar sobre outras coisas, como música, arte, entre outros.
Peter, em uma ida a casa do seu melhor amigo, ficou maravilhado com o som de cada doce nota de piano, tocada por Matthew, que explicou algumas coordenadas e lições básicas para o aprendizado do instrumento.
Com mais algumas visitas, a paixão dos dois pelos sons, que podiam expressar tudo, como um momento mais ávido, representado pelas graves notas da sinfonia Inverno, da composição de Vivaldi, ou um momento mais delicado, tocado na 14ª sonata de Beethoven.
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Paraísos Escondidos
RomanceNa vida, não há nada mais ávido e maluco que a adolescência. Ao mesmo tempo, simplória e complexa, essa fase carrega inúmeras histórias, boas e ruins, mas que nunca serão esquecidas. Acompanhando o começo e o fim da puberdade, Matthew, que tem paixõ...