||Capítulo 01||

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       Eu estava com minha miniatura de cacto na mão.
      Sabem o que dizem sobre os cactos; são plantas fortes, tem aqueles espinhos que ficam dias na pele, e por possuir grande quantidade de água em seu interior,  podem sobreviver ao clima seco do deserto, e ao sol escaldante da Califórnia. Mas eu não estava mais na Califórnia.
     Sentei em cima da minha mala e esperei meu pai verificar se não havia nenhum animal dentro da casa. Mandamos junto com a equipe de mudanças uma equipe de limpeza, para fazer a faxina, mas como nossa nova casa ficava próxima a uma reserva ambiental, não era estranho a residência ter "invasores".

       — Está tudo bem aí? — gritei para ele, mas não obtive resposta. Bufei.

      Olhei para o meu pequeno cacto em seu vazinho marrom. O clima do Arizona não era muito diferente do meu antigo estado, então ele não sofreria com a mudança.

       — Tudo bem, podemos entrar. — disse meu pai saindo de dentro da casa.

       Leyla, minha madrasta, balançou seu cabelo de tintura vermelha  e arrastou sua mala para fora do carro. Meu pai não fez nenhum esforço para ajudá-lá, ou à mim. Pelo menos não nos obrigou a carregar as suas malas também. 
      Caminhei para o fim do corredor e abri a porta de madeira. Deixei meu mini cacto no criado, coloquei minha mala no chão e me joguei na cama. Era um quarto legal e afastado dos outros, o que era tudo que eu precisava, já que meu pai não me deixa respirar em paz. Privacidade e liberdade eram palavras inexistentes em seu dicionário.
       Nem sei por quanto tempo fiquei a encarar o teto antes de pegar no sono. Não tinha nem notado o quanto estava cansada. Essas últimas semanas havia me esforçada o máximo para passar na prova que me garantiu uma bolsa no meu novo colégio,  e também tinha toda aquela confusão da mudança. Despedida dos amigos, despedida lugares favoritos, despedida de tudo que eu conhecia e amava. Mas não importava mais, meu pai não era do tipo que deixa escolha, o que importava não era meus sentimentos,  nem os de Leyla que ficaria longe de sua família, o que importava era que ele havia conseguido um emprego novo, e que pagaria melhor. Mas tudo isso foi ficando distante com a chegada do cansaço, e encarando o teto eu adormeci.

           O despertador soou me tirando da cama. Me arrastei até o pequeno banheiro que tem no quarto escovei os dentes e despi toda minha roupa. A água morna caia sobre minha pele com um efeito relaxante, mas — por mais que quisesse — não poderia demorar muito, por isso agilizei o processo. Lavei meu corpo e cabelo, passei a loção hidratante pelo corpo e peguei a gilete para eliminar os pequenos pêlos. Enxaguei e sai do banheiro.
             Me sequei, hidratei minha pele, vesti um jeans azul desbotado, uma regata branca, camisa verde musgo por cima e calcei meus coturnos meio destruídos.  Meu cabelo castanho claro ondulado estava no meio da costas, o que me lembrava que eu precisava cortar. Fiz um rabo de cavalo desleixado,  ficando com alguns fios fora do elástico, e passei algumas camadas de rímel nos cílios, para destacar meus olhos verdes. Não era adepta de muita maquilhagem, mas como era meu primeiro dia de aula, arrisquei passar  batom vermelho nos lábios e um pouco de base na pele.
               Desci para o café e tratei de comer alguns biscoitos e tomar um pouco de suco, já que não tinha jantado ontem, mas eu realmente não sentia fome. Talvez fosse a ansiedade.
               Meu pai havia dito que me levaria até a escola, e dentro do carro eu já sentia uma pressão dentro da barriga. Era um misto de ansiedade e medo de fazer algo estupido, ou não ser bem recebida por ser bolsista. Ele parou na entrada da construção moderna e elegante.

      — Certo, chegamos.

      — Tchau pai — disse saltando do carro

      — Tchau. Juízo, em? — advertiu ele

Hurt || HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora