||Capítulo 03||

377 37 7
                                    

      Acordei com o barulho estridente do despertador. Pulei da cama e fui ao pequeno banheiro que havia no meu quarto. Tomei banho, escovei meus dentes, hidratei meu corpo e vesti um conjunto de lingerie azul escuro simples. Fui ao meu armário e peguei uma calça jeans e um top pretos, e uma regata cavada cinza. Estava bem, mas a mancha roxa no meu braço me fez colocar uma jaqueta por cima. Maldito Jace.
       Calcei meu all star e fiz um rabo desleixado no cabelo.  Passei um pouco de base na pele, rímel e um pouco de batom vinho. Peguei minha mochila e desci para a cozinha.
    Leyla estava arrumando a mesa e meu pai estava no telefone. Ele estava nervoso,  dava para perceber pela saliva que saltava da sua boca a cada palavra agressiva que dizia e pela veia saliente no pescoço. Me sentei em um lugar na mesa e fiquei na minha. Quando ele estava assim era melhor nem chegar perto.

        — Adivinha quem era? — perguntou meu pai — era sua mamãenhezinha.

         Tremi. Meu pai e minha mãe haviam se separado quando
eu tinha doze anos e sempre que ela aparecia ou dava sinal de vida,  meu pai ficava alterado.

          — Pai, eu não...

          — CALADA SERENA! — ele gritou, depois olhou para Leyla encolhida perto da pia — calada Serena — repetiu sussurrando.    
     O resto do café da manhã foi inteiramente tenso e silencioso,  assim como o caminho para o colégio.

          — Você quer mesmo ir aquela festa hoje a noite? — perguntou meu pai parando na frente da instituição

          — Uhum — murmurei

          — Pega o endereço que eu te levo.  

          — Não precisa,  eu vou com uma amiga. Tchau — disse
rapidamente pulando para fora do carro.

          Eu me sentia culpada por manter uma raiva secreta do meu próprio pai. Não éramos muito de conversar, não tinha o que dizer, e eu sentia medo dele, principalmente quando minha mãe aparecia.
        Minha mãe... esse era outra questão difícil. Ela havia me abandonado tantas vezes que pensar nela como 'mãe' parecia forçado.
       Talvez também soe forçado dizer que não me importo,  que isso não me afeta. Mas às vezes eu choro; choro quando a dor se torna insuportável com a presença das lembranças.        Atravessei o pátio lotado de adolescentes em direção a sala de sociologia,  minha primeira aula. Faltavam quinze minutos para o sinal tocar, mas eu queria ficar sozinha e a sala estaria vazia.             Fui ao fundo da sala e me sentei isolada. Deitei a cabeça na mesa e fechei os olhos. Meus pensamentos não eram sobre nada específico, e acabei pegando no sono.
      Eu vi seus cabelos castanhos ondulados, como os meus, e seus olhos azuis. Senti seus dedos nos meus cabelos os trançando. Me sentia leve e um calorzinho gostoso no coração, mas então eu vi seus cabelos voando com o vento na porta, e então ela se foi.       Acordei e vi todos guardando seus pertences. Eu nem havia visto a aula começar e ela já havia acabado. Peguei minha mochila e sai da sala também. Fui ate meu armário e fiz a combinação para que abrisse. Joguei a mochila para o fundo, estava tão calor que tirei a jaqueta e a enfiei ali também.

         — O que é isso no seu braço? — ouvi a voz de Harper         

         — Que susto! — digo levando a mão ao peito — nada de mais, eu bati no vão  da porta — menti.

         — Pronta para a festa hoje? Tive álgebra com o Easy hoje, e advinha? O cara descobriu que te conheço e não parou de falar sobre você.

       — Você deve estar exagerando — disse rindo — preciso levar esses papéis para o diretor Willie, nos vemos no almoço?

        — Claro, ou o Tiyler me mataria "Onde está minha musa? Oh Harper, você espantou meu anjo!" — ela fez uma imitação grotesca de Tiyler e eu ri.

       Depois do episódio com Jace ontem, o diretor Willie me pediu para levar para ele algumas copias dos meus registros da outra escola, na Califórnia, o que era desnecessário. Acho que ele apenas quer me explicar o que foi aquilo tudo; eu mereço uma explicação,  certo? Nenhum aluno pode ser agredido nas dependências do colégio,  porque eu tenho uma marca roxa no meu braço. Ainda mais por um cara que não é nem aluno da escola.
      Elaine, a secretária do diretor Willie, estava conversando com alguém no telefone e mexia na papelada espalhada pela sua mesa. Esperei que ela terminasse a ligação e quando finalmente polsou o telefone no gancho, puxou os óculos da ponta do nariz para mais perto dos olhos e me analisou com uma expressão de desespero.

       — Uhm, eu preciso falar com o diretor Willie — anuncie       

        — Infelizmente ele não vai poder atendê-la agora, ele está com os pais das garotas do segundo ano — ela colocou a mão perto da boca como se fosse me contar um segredo —  aquelas da briga — sussurrou.

        Balancei a cabeça mesmo não sabendo a quem ela se referia.

        — Você pode sentar e esperar, eu preciso verificar o estoque de salada, está sempre faltando — disse ela.

         Virei na direção dos bancos e recebi um sorriso sedutor que congelou todos os meus nervos. Jace estava sentado na ponta da fileira de assentos. Ele vestia camiseta, jeans e coturno, tudo em cor preto. Tomei coragem e me sentei na outra ponta da fileira,  deixando quatro bancos nos separando.

         — Sinceramente, esperava que nosso próximo encontro você ainda estivesse com aquela roupinha de ginástica — disse ele olhando para o nada.

        — Você é um idiota — me arrependi das palavras assim que elas sairam. Pensei que ele iria avançar em mim e me matar de tanto me bater, mas ele apenas riu. Era impossível,  mas ele ficava ainda mais bonito rindo. Ajeitei meu corpo no banco, me sentindo desconfortável com esse pensamento.

        — Você é louca, ou não tem medo de morrer — ele me encarou — isso no seu braço — ele apontou para a marca roxa — isso foi...

        — E, foi sim — disse o cortando.

        — Se você tivesse me ouvido e não tivesse me provocado, isso não teria acontecido, mas parece que você é mesmo louca — disse ele irritado.

         — Escuta garoto, se tem algum louco aqui é você,  e... ah, quer saber? Não vale a pena, você e simplesmente irritante!         
     Nesse momento  dois casais de senhores saem de dentro da sala do diretor Willie. Jace espera eles sairem e se levanta para entrar no local,  mas então ele para no vão da porta e me encara.

        — Serena é um nome tão doce, não combina nada com pessoas com desequilíbrio mental, e, sinceramente,  volte para a roupinha de ginástica, você fica mais suportável.

        Abri e fechei a boca varias vezes sem palavras. Ele era louco, doente e extremamente irritante,  além de agressivo. Podia até não o conhecer, mas sabia que ele merecia todos os adjetivos negativos existentes. Por fim ergui o dedo médio, mas ele já havia fechado a porta.
        Levantei e fui para sala. Não queria mais explicações, Jace era um desequilibrado e eu deveria me manter distante, a menos que quisesse outra marca roxa na pele.
     O resto da manhã passou rápido. Mark, que havia se tornado um super amigo desde quando eu entrei no colégio,  ficou me mandando varias mensagens com frases engraçadas do Twitter durante as aulas. Ri bastante e quase fui pega, mas pelo menos isso me fez esquecer o nervosismo do meu pai e a loucura do Jace. A final,  eu não tinha que me importar com a opinião de Jace, eu nem o conhecia, e o estresse do meu pai iria desaparecer junto com a minha mãe, que, por mais doloroso que seja, nunca se importou o suficiente para ficar.

____________________________________________________________

Oi pessoal!
   Coitada da Serena! Cercada de gente perturbada!
O que vocês acharam do capítulo? Gostaram? Acharam o pai da Serena agressivo? Querem bater no Jace? Comenta aí, não esqueçam de votar!
    Beijos
     — Debla

Hurt || HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora