||Capítulo 05||

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Eu estava deitada sobre lençóis macios. Meus dedos deslizavam pela seda e minhas narinas respiravam um perfume embriagante. Sabonete e hortelã. Talvez um pouco de tabaco, mas não deixava de ser o melhor cheiro do mundo.
Abri os olhos e encarei a escuridão. Senti uma pontada forte na testa e flashs de memória explodiram por trás das minhas pálpebras. Me mexi e esbarrei em um corpo. Um corpo forte, um corpo de homem. Gritei.
Ouvi um barulho estranho, provavelmente o corpo ao meu lado caindo no chão. Senti um cano ser pressionado na lateral da minha cabeça e as luzes serem acessas.
- Ah, é você - disse o garoto desdém
Gritei novamente. Eu estava em um quarto de paredes pretas com lençóis igualmente pretos e com uma arma na minha cabeça. Jace estava apenas de boxer e eu com uma camiseta enorme da Hugo Boss, que certamente não me pertencia.
- Quer parar de gritar? - disse ele com uma expressão furiosa no rosto - São quatro da manhã, vá dormir.
O garoto virou-se para guardar a arma e eu notei algumas tatuagens e cicatrizes em seus braços e costas. Levantei da cama, mas fiquei tonta e cai no chão.
- Qual é seu problema? Seu retardado mental te impede de obedecer uma simples ordem? Qual parte do "vá dormir" não entendeu? - rangeu ele
Suas mãos me puxaram do chão com agilidade e fui posta na cama novamente.
- Fica aqui - ordenou ele
Jace saiu do quarto e minutos depois voltou com um copo de água e alguns comprimidos.
- Toma, vai ajudar com a tontura e a dor de cabeça. E já que eu tenho certeza que você não vai voltar a dormir, vou fazer algo para comer, assim o efeito da droga passa mais rápido.
- Droga? E-eu fui drogada? - perguntei desesperada
- Drogada, embebedada e quase estuprada. Você desmaiou nos meus braços, não achei que fosse conveniente te largar em algum sofá, então te trouxe para o meu apartamento.
Mais flashs. Easy me dando uma bebida, fumaça azul em um tubo de vidro, pessoas dançando, uma mão no meu braço, a sensação de desespero, um peso sobre meu corpo, meu vestido com a alça rasgada e olhos negros e frios. Comecei a chorar.
- Escuta garota, não precisa de tanto drama, ok?
- Não foi você que quase perdeu a virgindade a força com um desconhecido. Sei que o apartamento é seu, mas posso ficar um pouco sozinha?
- Tanto faz, vou fazer algo para comer.
O garoto saiu do quarto fechando a porta atrás de si. Estava me sentindo suja, com nojo de mim mesma. Quando já não possuía mais forças para chorar, fui até o enorme e luxuoso banheiro que havia no cômodo, arranquei a blusa que estava usando, minhas roupas íntimas e o curativo mal feito na minha canela. Entrei no box e tomei um banho demorado. Enquanto secava meu corpo e meu cabelo com uma toalha preta pesada, notei vários bolos de dinheiro pelo local, todos com notas de cem dólares. Tinha notas amassadas até na pia do banheiro.
Vesti as mesmas peças que estava usando antes. Sai do quarto e desci as escadas me guiando apenas pelos barulhos que o garoto fazia. Quando cheguei na cozinha ele estava com uma calça de moletom cinza e uma frigideira na mão. Por mais triste que estivesse, por mais enrascada que estivesse por não ter dormido em casa, por mais que eu quisesse chorar o resto do dia, não pude deixar de sorrir com aquela cena. Ele cantarolava uma música qualquer e mexia a frigideira de modo que a panqueca desse pequenos saltos. Seu corpo era realmente musculoso.
- Posso te fazer uma pergunta? - perguntei me sentando no banco próximo a bancada
- Às quatro e meia da manhã? Vai fundo.
- Como meu vestido foi substituído por essa camiseta?
Jace riu e desligou o fogão virando-se para mim. Ele me encarou de um jeito ávido e olhou para o chão rindo.
- Olha, eu já passei por muita coisa, acho que sei trocar a roupa de uma garota sem olhar nada. Mas não estou dizendo que não olhei.
Senti minhas bochechas queimarem. Estava pronta para discutir e desferir um tapa bem no seu rosto, mas eu devia agradecer por ele ter me salvado. Jace colocou uma panqueca e calda de chocolate em um prato e o estendeu para mim. Dei uma garfada na panqueca e soltei um gemido de satisfação. Aquilo estava realmente gostoso. O garoto riu e me encarou.
- O quê foi? - perguntei nervosa
- Nada, é só... é que... - Jace se aproximou e passou seu polegar na lateral da minha boca - calda de chocolate - ele deu de ombros.

Encarei aqueles olhos negros. Tudo nele era perfeito, o cabelo levemente bagunçado, o nariz como as estátuas dos antigos deuses gregos, a boca carnuda e rosada, o corpo esculpido por músculos salientes, e aqueles olhos. Tão frios, tão intensos e assustadores. Pareciam maus, mas ao mesmo tempo, tão atraentes.

Jace escorregou seu dedo pelo meu lábio e acariciou o mesmo. Fechei os olhos e senti seu hálito frio embater na minha pele. Seu lábio raspou no meu cuidadosamente, deixando um formigamento na pele. Levei minha mão ao seu peito e o empurrei levemente.
- E-eu preciso ir para casa - disse me lembrando que meu pai devia estar babando larva vulcânica de nervoso - você pode chamar um táxi, por favor?
- Eu te levo, não tenho nada interessante para fazer mesmo.
Depois de trocar a enorme camiseta da Hugo Boss pelo meu vestido - tive que prender a alça rasgada com um clipe -, Jace me conduziu pelo predio luxuoso até a garagem, onde estava seu Camaro conversível branco, e me levou para casa, seguindo minhas coordenadas. Pedi para ele parar uma esquina antes e quando vi seu carro sumindo na rua, encarei a entrada hesitante. Se estava com medo de entrar? Muito.
Meu pai não era do tipo de cara compreensivo, muito menos que perdoa quem desobedece suas reagras; se ele diz "não mexa nisto", não chegue nem perto, e se ele estabelece um horário para que você chegue em casa, acredite, nem um minuto de atraso será perdoado.
Com passos leves entrei. O relógio de madeira na parede marcava cinco e meia da manhã, o que justifica o silêncio na casa. Caminhei como quem pisa em ovos em direção ao meu quarto, mas ouvi meu nome assim que cheguei na base da escada.
- SERENA! - gritou Leyla, depois olhou para os lados e terminou sua bronca aos cochichos - isso é hora? Onde você dormiu? Sabia que seu pai ficou te esperando?
Leyla, que estava com um roupão branco e um copo de água nas mãos, me empurrou até meu quarto e fechou a porta atrás de si.
- Sabe qual foi sua sorte? Sua sorte é que seu pai dormiu antes de dar uma hora. Onde você estava? - perguntou ela
- E-eu estava cansada e acabei dormindo na casa da minha amiga - menti
- Olha, se você diz que é isso, eu acredito em você - disse ela sentando ao meu lado na cama - mas não se esqueça de que eu não sou seu pai, e que nem sempre terá tanta sorte assim. Não sei nem como ele te deixou ir a está festa!
- Tudo bem, não vai acontecer de novo.
Leyla se levantou e ajeitou o roupão no corpo.
- Certo, então fingimos que você chegou na hora - ela piscou - durma mais um pouco, depois se ajeite e desça para o café normalmente, você ainda tem aula hoje.
Ela deixou um beijo no topo da minha cabeça e saiu do quarto.
Olhei para meu mini cacto e deixei minha costas cair no colchão. Procurei visualmente pela minha bolsa e não achei. Droga, esqueci no carro de Jace.

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Quem gostou levanda a mãozinha!...
...e aperta a estrelinha, claro!

O que vocês acharam desse capítulo? Eu achei o Jace meio fofo, meio babaca, meio gato demais... comente aí o que vocês acharam!

Hurt || HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora