Capítulo 4

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Era sábado ensolarado. Renata acordou e dessa vez não estava chorando. Por um momento, lembrou-se da noite passada, e do olhar da garota. Era estranho ficar pensando naquilo, ainda mais uma garota que sempre namorou com homens. O que estava se passando no coração dela?

Ela fritou um ovo e preparou um sanduíche. Enquanto isso, ligou a televisão, e ficou aterrorizada com a notícia de que mais um rapaz havia sido morto por um homofóbico. Ela desligou a televisão e ficou pensativa. Apesar de o pai odiar gays, ela não tinha nada contra.

Em seguida, pegou o envelope com as fotos, e saiu em seu carro para ir ao apartamento do Erick. Ele estava tomando banho, mas se enrolou na toalha e foi atender a porta.

Ela entrou e ele perguntou:

— Bom dia, meu anjo! O que deu em você para acordar tão cedo em dia de sábado?

— É que tem coisas que não me deixam dormir.

— Tipo o quê? O seu neguinho aqui?

— Não. A sua falta de vergonha na cara!

— Do que está falando, Tatá?

Renata jogou as fotos em cima da mesa e o perguntou:

— Então, o que acha? Eu fotografo bem? Posso investir na carreira de fotógrafa?

Ele olhou as fotos e ficou sem graça.

— Renata, você anda me espionando?

— Sim. Além de fotógrafa, eu estou pensando até em ser uma espiã profissional.

— Isso é ridículo!

— Eu concordo.

— Desculpe, Tatá. Eu nem sei o que dizer...

— Comece dizendo por que você procura esses tipos de garota. Eu não estou te satisfazendo?

— Não é isso. Eu gosto muito de você, mas as vezes temos que inovar. Eu sou homem!

— E por isso você tem que me trair?

— Aquelas garotas fazem coisas que você não gosta de fazer em mim.

— Claro. Elas são mulheres da vida, e eu não.

— Eu te peço perdão e prometo que isso não vai mais se repetir.

— Claro que não vai se repetir. Você voltou lá ontem, né? E a garota não te quis. Por que será?

— Porque ela é como você. Não gosta de fazer tudo que um homem deseja na cama.

— Você é muito nojento! Os tempos são outros. As mulheres não precisam mais ser submissas ao homem.

— Ok. Então vai embora e ache um panaca para você.

— Eu vou mesmo. Idiota!

Renata entrou no carro e foi para a casa de Carlos. Ele estava sozinho, porque o seu marido ainda estava viajando. Ela o abraçou chorando e contou o que houve.

— O Erick é muito cruel. Como ele pode fazer isso com você, Tatá?

— Eu o odeio. Não quero mais vê-lo na minha frente.

— É assim que fala, garota! Você é linda e com certeza vai arrumar um bofe melhor que ele.

— Eu só queria um amor assim igual ao seu...Você é tão feliz.

— Eu sei, Tatá! Eu me sinto tão bem com o Josh.

— Ele ainda não voltou de viagem?

— Pior que não. Ele anda muito para vender esses remédios homeopáticos.

— Tem uma coisa que aconteceu lá ontem no ponto das prostitutas...

— Me conta!

— O Erick conversou com uma das prostitutas, e ela não quis fazer sexo com ele.

— Que estranho! Eu pensei que esses tipos de mulheres aceitavam tudo.

— Eu também. Mas tem alguma coisa diferente nessa mulher e eu não sei o que é.

— Você está apaixonada por ela? — Ele ficou rindo.

— Claro que não. Eu sou hétero, Carlos. Por que essa pergunta agora? Sempre namorei homens.

— Eu também — Ele disse, dando outra gargalhada.

— Isso é sério! Eu não gosto de mulher.

— Ok. Se você diz...Quem sou eu para dizer ao contrário? Só não se esconda se caso o seu coração dizer que gosta dela.

— Isso não vai acontecer. Ok? Podemos mudar de assunto? Hoje, você não está falando coisa com coisa.

— Ok, gata. Sem estresse. — Ele disse, sorrindo.

— Mas já que tocamos nesse assunto... Como soube que gostava de homens?

— Quando eu tinha dez anos, entrei no time de futebol, só para ver os meninos sem camisa no vestiário. Quando um deles notou a minha intenção, me expulsou de lá a pontapés. Depois me agrediu no colégio, e falou um monte de xingamentos como "bixinha" e "viadinho". Ele foi até expulso por causa disso.

— Eu gostaria de ter te conhecido nessa época. Porque eu iria acabar com a cara dele!

— Eu também, amiga. Você é muito especial para mim.

— Você também é.

Os dois se abraçaram e conversaram mais um pouco. Depois Renata foi para casa. Ela estava pensando em tudo o que o seu amigo havia lhe dito. Por que ela não conseguia parar de pensar naquela mulher?

Algo estava errado ali. Então, ela foi novamente à rua das prostitutas. A mulher que ela havia visto estava na calçada observando os carros passarem. De repente, um homem de uns quarenta anos mais ou menos se aproximou dessa prostituta. Ao se dirigir a ele, ela notou que Renata a olhava. Nesse momento, Renata fingiu estar olhando outra coisa. A mulher voltou a olhar o homem e saiu com ele.

Renata saiu de lá, mas ficou uma dúvida no ar: Será que ela realmente era hétero? Por que ela não parava de olhar aquela mulher?


Eu te amo até o fim (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora