Capítulo 8
Dezembro, 1969 – Véspera de Natal
Anita já estava impaciente, aguardando na estação a chegada da Maria Fumaça. Já era 16:03 e nada... De repente, ouviu um barulho vindo de longe, o som que indicava a aproximação do trem. Ivan estava chegando! Ansiosa, passou as mãos novamente nos cabelos, para ajeitá-los. Não queria nenhum fio desalinhado quando ele a visse.
Fazia calor naquele dia. Trajava uma saia curta rosa, de cintura alta, definindo bem sua cintura fina, e uma camisa branca sem mangas, com botões até o pescoço. Na cabeça, uma larga faixa branca. Seus cabelos agora cortados um palmo abaixo dos ombros tinham as pontinhas viradas para fora. Um penteado no estilo gatinha.
O trem parou, os passageiros desciam. Ela esticou o pescoço a procura de Ivan. Estava sem salto e sua pouca altura dificultava a visão. Ao mesmo tempo, os dois se enxergaram. Viram-se e sorriram, correndo para os braços um do outro. Saudosa, Anita acomodou sua cabeça no peito de Ivan. Sentindo-se agora segura, ela suspirou com alegria. Ele estava lindo, cada vez mais lindo. Os cabelos negros reluziam no sol. O sorriso perfeito no momento era exclusivo para ela. Abraçada a ele, era como se todos os seus problemas tivessem terminado.
- Trouxe as nossas alianças, amor. – ele sussurrou no ouvido dela.
Ela levantou a cabeça e lhe deu aquele sorriso especial, o sorriso que ele tanto gostava. Mas havia algo estranho em seu olhar, algo que não estava lá no último encontro. Ivan ficou ainda mais tenso. Engoliu em seco.
- E então, está tudo bem? – ele tentou puxar uma conversa, desejando que ela falasse o que ele gostaria de saber.
- Tudo... – ela respondeu sem coragem de olhá-lo.
- Anita – ele se afastou e a segurou pelos ombros com delicadeza – O que houve, amor? – com uma mão em seu queixo, fez com que ela o encarasse. Não havia alternativa, tinha que ir direto ao assunto - O que o Igor fez com você? – Ivan indagou amoroso, controlando sua raiva. Porque sua raiva não era dirigida a ela.
- Nada. – ela prosseguiu e baixou a cabeça.
Ivan respirou fundo. Tinha que se controlar. Não podia descarregar nela, ela não merecia. Mas ele precisava saber!
- Vem, vamos andar. – ele disse e engatou seu braço no dela.
Havia muita gente na estação e Ivan precisava conversar. Precisava esclarecer aquele assunto antes que enlouquecesse. Só que para isso, tinham que ir a algum lugar mais tranqüilo. Em silêncio, caminharam até uma praça, onde sentaram embaixo de uma árvore, sobre os grandes troncos retorcidos.
- Recebi essa carta ontem. – entregou o envelope branco a ela. Anita não precisou ler o remetente, reconheceu a letra da cunhada. – Por que você não me disse nada, Anita?
- Eu... – ela levantou a cabeça e olhou nos olhos dele – O que diz ai?
- Leia.
- Tá bom. – assentiu num fio de voz. Já imaginando seu conteúdo, seu coração bateu agitado. As palmas de suas mãos suavam, e ela as secou na saia rosa.
"Querido irmão,
Eu não te disse nada sobre esse assunto antes, para não te perturbar, para não te deixar nervoso. Espero que entenda...
Desde que a Anita chegou, desde o primeiro dia, Igor se interessou por ela. No início era até aceitável, porque ele não sabia que ela era tua namorada. Mas então eu contei, e ele disse que não fazia mais a menor diferença, já que ele estava louco por ela. Igor deixou bem claro que lutaria por Anita.
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A força de Anita (completa)
Ficción históricaSinopse: No auge da ditadura militar, no ano de 1969, a adolescente Anita é obrigada a crescer quando se vê sem os seus pais. Jornalistas, os dois desaparecem de forma misteriosa, algo comum para a época. Em meio ao caos, Anita conhece o Ivan, e é...