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|Capítulo 23|

2011

Dezasseis anos. Foi aos dezasseis anos que muita coisa mudou. Uma pequeno ato deu inicio a um novo estilo de vida. Quem diria que tudo o que ela já tinha passado iria levar a que ela fizesse coisas de que se arrependeria?

Ofender-se a si mesma já era rotina. Scarlet não perdia uma oportunidade. Fosse de dia quando se olhava ao espelho ou à noite quando estava deitada na cama e a chorar, a loira estava constantemente a rebaixar-se.

Ela tinha prometido a si mesma nunca se rebaixar por causa do seu físico, mas isso era impossível. Apesar de tentar ter hábitos mais saudáveis, Scarlet podia jurar que engordava um quilo por semana. As hipóteses de ela conseguir ser como as modelos das revistas eram mínimas, e isso entristecia a menina.

As suas notas não tinham piorado, mas também não tinham melhorado. Scarlet continuava com duas negativas e notas razoáveis. Ela não iria chegar a lado nenhum com umas notas assim, e irritava-lhe o facto de não conseguir obter resultados melhores. Scarlet sentia-se inútil.

A maquilhagem parecia não esconder as suas imperfeições e isso era frustrante. Porque não podia a loira ter o seu acne e pontos negros tão bem escondidos como as outras raparigas tinham? Não era justo.

O seu grupo de amigos estava sempre a insistir em que ela fumasse. Eles tinham dito que nem precisava de fumar um cigarro inteiro, era só experimentar. Mas Scarlet não queria ficar viciada e recusava, mas também receava que os seus ditos amigos a esquecessem e desprezassem porque ela não quis ser como eles.

A sua avó estava cada vez menos tempo em casa e a moça não tinha ninguém que lhe desse abraços e que lhe dissesse como estava bonita naquele dia. Scarlet precisava da senhora de idade mais do que nunca, mas ela não estava lá.

Ainda havia gente que a atormentava falando da morte dos seus pais. Diziam que o seu pai era um cobarde e psicopata. Diziam que ela seria igual ao seu pai. Diziam que a sua mãe era tão culpada como o pai. Como poderiam as pessoas ser tão cruéis? Ela tinha perdido as pessoas mais importantes na sua vida, e ainda haviam aquelas pessoas que gostavam de brincar com a sua dor.

Todas essas pequenas coisas juntas (e mais outras) provocavam uma enorme dor de cabeça a Scarlet.

Ela estava no meio de uma aula enquanto revia os problemas que a sua vida tinham. O que o professor dizia era irrelevante e Scarlet nem tentava prestar atenção. A relação entre os alunos e os professores era péssima naquela escola, por isso nunca reclamavam ou tentavam perceber quando algum aluno não queria saber da aula. Sabendo disso, a loira tinha os cotovelos em cima da mesa e apoiava a cabeça nas mãos. Os seus olhos estavam fechados, mas ela decidiu abri-los. Ao olhar para a folha que tinha por cima da mesa, reparou que estivera a chorar. A não ser que tivesse suado muito, a água que preenchia a folha era água salgada que tinha caído dos seus olhos.

Sem pedir autorização, levantou-se, agarrou nas suas coisas e saiu da sala de aula. Não podia sair da escola, pois o porteiro iria perguntar o porquê de ela estar a faltar às aulas, e ela não tinha uma resposta plausível.  Sendo assim, dirigiu-se à casa de banho feminina.

Depois de andar pelo corredor vazio, ela entrou na casa de banho, verificando que estava vazia. Olhou-se ao espelho e fez uma careta ao ver o seu aspeto. O rímel estava esborratado e tinha escorrido pelas suas bochechas. Apesar da maquilhagem, as suas olheiras não tinham desaparecido. O seu cabelo estava despenteado e a sua pele mais pálida do que o habitual. Scarlet estava horrível.

Como não estava ninguém, ela não se preocupou em fazer pouco barulho ou em ser discreta. Sentou-se no chão, entre os lavatórios e as cabines. Scarlet olhou para cima e contemplou o teto branco. Devido à cor do teto, parecia que ela estava num hospital psiquiatro e, talvez, esse fosse o sitio onde ela deveria estar. A loira estava mesmo a dar em doida.

Scar | a.i.Onde histórias criam vida. Descubra agora