Capítulo 3

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Estávamos a caminho da casa em que estávamos hospedados, o trânsito, como sempre, estava horrível e o silêncio que pairava o táxi chegava a ser constrangedor. Rafael havia me guiado até o táxi e aberto a porta para entrarmos, eu dei o comando ao taxista e desde então se passaram pelo menos 15 minutos que nenhum de nós não falamos absolutamente nada.

"Então" Falamos virando a cabeça para nos olharmos no mesmo instante, um riso saiu de sua garganta e eu logo me juntei a ele.

"Você primeiro " Ele me olhou cortando as risadas deixando apenas um leve sorriso pairar no seu rosto. A primeira vez que realmente reparo neste, pra ser sincera.

Seus olhos azuis brilham e ele tem seu cabelo bagunçado de uma forma "charmosa", seu sorriso é convidativo e encantador, uma de suas sobrancelhas está levemente arqueada como se ele demonstrasse interesse no que eu estava prestes a falar e observando tudo junto, por mais que seja uma visão rápida, da pra concluir que ele realmente é atraente pra quem ri como um doente mental.

"Medo de táxi?" Arqueei uma sobrancelha ainda curiosa sobre esse fato. Me recuso a acreditar que isso é verdade.

"É uma longa história." ele sorriu "Minha vez?"

Assenti com a cabeça e ele acomodou-se no banco do carro.

"Anã fora da lei?" Rimos.

"Felps é um idiota" revirei os olhos "Eles me chamam de anã por causa do meu nome, ou sei lá" ri "o fora da lei é o Felps sendo um idiota"

"Isso não faz com que você não seja anã" ele brincou

"E ser educado não faz com que você não seja um idiota que nem eles" revidei na brincadeira

"Bom, você também faz parte do grupo" ele diminuiu o tom de voz ao completar a frase "apesar de eu não saber exatamente o que faz lá"

O que ele quis dizer? Que eu não deveria estar no "grupo"? Que eu não deveria ser amiga dos amigos dele? Sua resposta foi como uma singela facada, ele havia acabado de fazer uma brincadeira e agora isso?

Pisquei algumas vezes afastando meus pensamentos, a última coisa que eu quero é brigar com alguém que acabei de conhecer, apesar de repreender-me mentalmente por confiar facilmente demais nas pessoas. 

"Acontece que a única coisa que nos liga são eles. Não te conheci antes assim como você também não me conheceu. E quer saber de uma coisa? Era bem melhor assim"

Ele riu ironicamente, o que me irritou ainda mais. Qual é o problema dele? A alguns minutos atrás ele estava sendo educado e rindo, e depois simplesmente decide supor que eu não deveria ser amiga dos amigos dele?

Eu o olhei fuzilando-o, não sou a pessoa mais paciente do mundo, o que me torna um alvo fácil para irritações. Mas mesmo querendo explodir com ele, posso me subjugar a ponto de saber que o meu orgulho é muito maior do que qualquer pessoa que queira me irritar, o que levemente aumenta a minha paciência. E eu não devo brigar com ele, não devo dar motivos para ele realmente não gostar de mim.

"Você apela fácil, agora entendi o irritante." Revirei os olhos

"Não apelei. Só disse que te conhecer não foi exatamente a melhor coisa que já me aconteceu." O olhei "você é convencido" abaixei meu tom de voz dessa vez olhando pra baixo. Uma das coisas que também devo repreender-me é por ser boa demais com os outros, ou me sentir mal por revidar algo. 

"Ta, você é a melhor amiga dos meus melhores amigos, então eu não posso simplesmente te prender e fingir que você resolveu voltar pra São Paulo. Eu preciso te aguentar e ser legal, porque de alguma maneira você faz bem a eles, mas isso não muda o fato de eu não gostar de você"

Sad Song - Rafael Lange (Cellbit)Onde histórias criam vida. Descubra agora