Capítulo 4

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Endireitei-me na cama ainda confusa com suas palavras, no meu celular marcavam 2:13, olhei pra Rafael que ainda estava parado na frente da porta me olhando, não acredito que ele realmente estava aqui.

"Senta" minha voz traiu-me e ajeitei a coberta sobre as minhas pernas na intenção de disfarçar.

Ele sentou-se ao meu lado na cama com a cabeça encostada na cabeceira e as suas mãos descansadas ao lado da cintura, na posição de índio. O encarei sem saber o que dizer, ele quer me conhecer mas não acho que uma única noite nos tornaria 'melhores amigos'.

"Eu te faço uma pergunta, você me faz outra e assim vamos nos conhecendo." Assenti com a cabeça ainda não me conformando com sua ideia

O perguntei sobre as coisas que ele gosta, segundo o mesmo, ele nunca foi de ter muitos amigos, sempre gostou de jogos, não namora e eu não faço a mínima ideia do por quê.

Ele não costuma pensar no que pensam dele, e é sempre sincero e impaciente. Rafael me contou da sua família, ele mora sozinho e simplesmente ama café. Disse que era o anti-social da família pelo fato de não gostar muito de se comunicar com os outros e que isso mudou com o tempo, apesar de sua comunicação maior surgir sempre da internet. O único problema é que mesmo o conhecendo mais ou sabendo de um monte de coisas inúteis sobre o mesmo, é como estar forçando uma amizade, como se eu não o conhecesse de verdade, mesmo com todas as informações que já sabia.

"Assiste séries? " era a sua vez de me perguntar algo, seus olhos estavam cansados e dava pra ver que ele estava com sono.

"Isso não da certo" falei em um suspiro ignorando a sua pergunta "não importa se passarmos um dia inteiro a fazer perguntas um ao outro, eu nunca vou saber o que sei do Felps, por exemplo. É como forçar uma amizade, se eu sorrir e disser que estou bem, você não vai saber discordar. O fato de eu saber milhões de coisas sobre você não faz com que eu saiba quem é você de verdade." o olhei podendo ver sua expressão de surpresa e derrota.

"Você tem razão." Ele suspirou e levantou da cama, eu não queria que ele saísse, mas não discordei de sua atitude.

"Boa noite" ele se aproximou de mim me olhando, e por um mínimo instante eu senti uma vontade incontrolável de beija-lo.

Ele encostou os lábios em minha testa e eu apenas forcei um leve sorriso fechando os olhos. Sabia que ele estava com sono e meu estado não era diferente, por isso o respondi já me ajeitando na cama.

Coloquei a cabeça no travesseiro podendo ouvir apenas o som da porta se fechando, depois disso não me lembro de nada até o meu celular despertar.

O coloquei duas horas mais cedo e por isso apertei a opção de soneca e voltei a tentar dormir. A noite de ontem se passou como um clarão em minha cabeça e por mais que eu tentasse, não conseguia voltar a sonhar.
Me pergunto repetidamente se Rafael vai agir estupidamente comigo, ou se vai ser como ontem, que, apesar das perguntas em vão, nós rimos e conversamos. E apesar de sua risada ser um tanto quanto ridícula, é ótimo poder ouvi-la de uma forma tão sincera.

"Principalmente pra alguém que se mostra viver cercado de muros construídos contra si. " relembrou meu subconsciente que me fez afastar todos os pensamentos sobre Rafael.

Sinceramente eu não sei o porquê me importo.

Levantei-me em um pulo e arrastei-me até o banheiro prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo frouxo para fazer as minhas higienes.

No meu celular marcavam 8:34, o que me fez repreender-me mentalmente por não ter me permitido dormir mais. O evento começa as 10 e não deve ter ninguém acordado agora.

Sad Song - Rafael Lange (Cellbit)Onde histórias criam vida. Descubra agora