Capítulo dois

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( Parte Dois )

O céu já estava escuro e conseguia ouvir aos pequenos insetos com seus cantos e barulhos, já estávamos significadamente longe da matilha e eu precisava agora achar um lugar para deixá-la.

A longa caminhada não me fez cansar, mas temia não conseguir ir muito mais além. Fazia algumas horas que a segurava em meus braços, estava quase nos limites da alcateia e sabia que poderia ser perigoso.

Andava com cuidado para não tropeças, o cheiro do sangue impregnava em minhas narinas e me atormentava, mas me mantinha sóbria tentando focar meus pensamentos apenas em algum lugar seguro.

Não demorou muito para eu encontrar uma grande árvore de um tronco muito mais grosso do que a arvore onde eu a tinha encontrado. Eu poderia deixá-la lá e ir tratando do seu ferimento sem que ninguém soubesse, era muito arriscado eu deixá-la em algum lugar próximo a uma cabana ou casa. Ainda assim, aqui seria um lugar melhor, conseguia ver não muito longe um riacho onde a lua deixava refletir toda sua luz, com isso poderia limpar seu ferimento.

Com cuidado eu depositei seu corpo sobre o solo, encostando-o sobre o tronco da arvore. Queria ter certeza de deixá-la confortável e então fui em direção ao riacho. Ela já não estava tão assustada como antes, mas conseguia sentir estremecer de dor quando dava um passo incerto e balançava-a sem quiser.

Eu não sentia a dor que seu corpo sentia e fiz de tudo na longa caminhada para não piorar sua dor.

Quando cheguei ao riacho, pude ver água cristalina que brilhava com a luz da lua e sem me conter, entrei pisando devagar naquela água que estava gelada. Parecia muito boa, queria me abaixar e beber da minha descoberta. Eu nunca havia vindo até aqui e encontra-la foi um presente.

Abaixei-me e com as mãos em conchas peguei uma porção de água, tomando cuidado para não derrubar, voltei até onde a corsa se encontrava e me agachei ao lado dela, deixando a água escorrer em seu ferimento vermelho.

A água escorria e caía sobre o solo ainda um pouco vermelha, a corsa parecia querer chorar de dor, mas se mantém forte. Ainda precisei pegar água no riacho umas quatro ou cinco vezes para ver seu ferimento limpo. Não era algo muito fácil de ver, não para alguém que não estava acostumada com isso.

Minha garganta continha um nó, do qual não conseguia me livrar. Foi estranho para eu perceber a grande marca que cortava suas costas em direção à barriga. Era profundo e parecia não parar de sangrar, me levantei novamente com meus olhos lagrimejando e fui pegar mais água no riacho.

Quando voltei e deixei com que a água escorresse pude ver detalhadamente as três marcas de garras, parecia muito profundo e eu me perguntei o porquê o causador daquele ferimento não terminou seu trabalho, era muito estranho. Olhei para trás ainda com os olhos lagrimejando ao ouvir algum barulho, mas deve ter sido algo da minha cabeça, pois nada tinha.

Eu não havia como cuidar dela naquele estado, não sabia nem por onde começar e então teria que ir embora sabendo ao menos que ela estava segura. Estava nua e assim não tinha nem um pano para conseguir estancar o sangue e só podia confiar para que desse tempo até amanhã.

Eu não tinha escolha, teria que voltar para casa, e meu pai já devia estar preocupado e nervoso.

Colei nossas testas deixando com que uma lagrima escapasse e antes de me arrepender, me virei e fui embora. Voltaria amanhã com algo para fazer um curativo, agora não tinha mais o que eu fazer por ela.

Em alguns segundos, minhas garras já pisavam o chão com força a cada passo da corrida. Tentava não pensar no que o meu pai falaria, com certeza iria reclamar até eu fazer 30 anos e isso me fez aumentar minha velocidade.

Com o incentivo para chegar cada vez mais rápido, veio também o medo do que aconteceria, mas não tinha tempo para hesitar. Quanto mais tarde eu chegasse em casa, mais meu pai iria brigar comigo.

Meus pés travaram quando eu vi a minha casa. O térreo onde ficava a sala, a cozinha e o escritório do meu pai, tinham suas luzes todas acesas. A lua brilhava alta e o céu já não estava tão azul, isso era mal, muito mal.

Correndo, voltei a minha forma humana e entrei esbaforida pela porta dos fundos, eu sabia que estava com certeza em maus lençóis.

Meu coração parou quando ao tentar atravessar a sala para seguir em direção da escada e estar finalmente segura em meu quarto, encontrei os olhos enfurecidos do meu pai. Ele estava sentado em sua poltrona grande e se levantou quando eu parei.

Eu temia qualquer coisa vinda do meu pai, poderia qualquer coisa acontecer por conta da sua impulsividade.

Estávamos a um passo um do outro. Seus olhos fervendo de raiva contra os meus medrosos e lagrimejando. Foi rápido, e depois de conseguir processar o que aconteceu finalmente sentir arder o lado esquerdo do meu rosto. Encarava o chão com medo de receber outro tapa. Sua força era tanta que meu rosto havia virado bruscamente.

- Você não sai mais. - Suas palavras saíram estranhamente calmas.

Senti meu rosto estremecer e minha visão ficar turva por conta das lagrimas, seu corpo cedeu a passagem e eu corri em direção ao meu quarto.

Em minha cabeça só conseguia pensar em como sou inútil, como não sirvo para nada e só trago decepção para minha família.

Demorei a dormir sentindo meu rosto esquentar e minha bochecha arder durante toda a noite.

Eu não fiz por mal.

Entãooo... O que acharam? o final do segundo capitulo está ai e os proximos prometem ;)

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Desculpem os erros

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