Capítulo 1 sem título

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CAPÍTULO UM

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             Era somente mais um entediante sábado, o dia predileto de todas as pessoas aos quais conheço menos para mim quem sempre acho um marasmo. Aquele em específico estava garoando, uma chuva calma que tranquilizava até a alma, com aquele barulhinho suave no telhado, pingo após pingo.

             Minha vida era comum, uma garota de cabelos rebeldes, precisamente encaracolados, com bochechas rosadas, magra como um alfinete e muito tímida. Talvez o começo de uma futura fobia social? Quem sabe, eu não saberia, não consigo lhe responder. Tão jovem e sempre me sentia diferente, deslocada, injustiçada e avoada.

             Acordara então ás dez da manhã para começar a faxina em meu quarto. Lavar os tênis usados do colégio durante a semana, as camisas do uniforme, tomar o café que longe da realidade das princesas era somente um copo de leite com achocolatado e margarina. Tentar domar os cabelos que viviam rebeldes era a parte mais difícil do dia, me olhar ao espelho fazia me sentir hedionda e desprezível.

             Meus pais quase não tinham tempo. Filha de uma professora em tempo integral- manhã, tarde e noite- e de um motorista autônomo, ele realizava viagens com cargas explosivas. Sempre tive poucos amigos, os poucos eram advindos de relação bairro versus colégio, nada muito íntimo. A minha intimidade era segredo até para mim. No geral posso considerar como minha grande amiga somente a Odete- minha felina siamesa de olhos azuis acinzentados.

            Ao terminar de arrumar as minhas obrigações matutinas, tratei logo de sair para respirar um ar puro, pós-chuva, umidificando toda a minha garganta. Logo consigo avistar a Ana, uma garota bacana de classe social média alta, filha de médicos, cabelos escuros, branca, pouco sonhadora, porém muito vaidosa. O advérbio de intensidade correto seria demais, a garota era muito ligada a imagem.

             Todos já conversavam sobre o que aconteceria de legal naquela noite. Cidade pequena no interior paulista, com poucas opções de entretenimento. Havia uma pequena praça, onde os políticos locais para conseguirem votos e fiéis, programavam shows gratuitos e era muito comum o pessoal do colégio aparecer em peso. Ana, já estava combinando qual roupa usaria para combinar com seus sapatos novos. Todas queriam usar o mesmo número que ela, sua imensidão de opções nos deixaram boquiaberta.

               Ao voltar em casa logo fui ao quarto pensar em uma roupa e então surpreendida.

              - Filha, venha jantar não gosto que se atrase já está tarde. Aliás, onde a senhorita andou Mia? Não gosto que fiquei até este horário na casa de vizinhos.

              - Estava com a Ana mãe, aliás, vamos sair um pouco à praça a chuva parou desde cedo, arrumei o que me pediu e já fiz minhas tarefas, eu mereço não é?

               - Talvez, mas não tenho certeza você é muito nova. Não quero que tenha a mesma vida que eu. Que trabalhe por dois para sustentar uma casa de cinco. Você não é a Ana senhorita Mia. O pai dela ganha meu salário mensal a cada plantão noturno. Já te disse para descer do salto.

                Odiava e fazia um mortal duplo quando ela jogava esse sobrepeso de suas frustrações amorosas e profissionais em minhas costas. Afinal, eu não sou ela e gosto de repetir isso para não perder o foco. A verdade é que sou uma prisioneira, só sou obrigada ao meu banho de sol que logo já intitulo como colégio e mais nada.

              - Como assim mãe, o que por acaso uma volta à praça vai mudar na minha vida profissional? Se divertir não é pecado e nem crime.

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⏰ Última atualização: Aug 20, 2015 ⏰

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