Cap 2

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Joe

Meu Deus do céu, não é possível que em São Paulo, com 12 milhões de habitantes, não exista um ser humano que tenha os requisitos para preencher a vaga de minha assistente pessoal. A última, que ficou comigo 2 anos, resolveu brincar de casinha e engravidou. Resultado: me deixou na mão.

Todos os dias chegam centenas de currículos. Depois que colocamos o anúncio no jornal, eles não param de chegar.  Esses currículos são separados pela equipe de RH e as que se encaixam no perfil são chamados para uma entrevista seletiva, depois as que passam nessa entrevista são encaminhada até a minha sala para uma entrevista final.

O que tem acontecido é que as candidatas que chegam até mim são realmente muito qualificadas, só que a mais nova que entrou na minha sala tem 55 anos. Eu não quero uma avó para mim. Quero uma assistente pessoal linda, gostosa. Não que eu me envolva com elas. Nunca faço isso. Se fizer tenho que contratar uma por semana e já vi que isso não é tarefa fácil.

Mas eu gosto de ser visto com mulheres bonitas, já que estas muitas vezes me acompanham em jantares de negócios. E também porque olhar não faz mal para ninguém. Quem prefere trabalhar olhando para o deserto, se pode ficar olhando a praia?

Agora estou esperando por mais uma além das cinco que já passaram na minha sala hoje. Meu humor nesse exato momento está péssimo. Fico com minha cadeira virada pra vista maravilhosa de São Paulo que meu escritório proporciona. Escuto passos e percebo que a candidata se aproxima da minha mesa.

- Senhor Joe, a candidata está aqui. O senhor precisa de algo mais? - minha secretária pergunta.

- Não, Norma. Pode se retirar. Só ligue para Mike e diga que estou a fim de uma boa balada hoje. - digo isso sem me dar o trabalho de virar a cadeira, porque eu sei que meu humor só vai piorar quando eu fizer isso.

- Que horário devo combinar com Mike?

- Mande ele me esperar só isso. – digo, já perdendo a paciência. Mike é meu amigo e companheiro de baladas. Conhece todos os lugares onde tem mulheres bonitas.

O silêncio toma conta da sala quando Norma se retira. Respiro fundo e me viro para atender a avó do dia. Mas perco o ar quando dou de cara com o par de pernas longas mais bonitas que já vi na vida, longos cabelos dourados, um rosto angelical que só pode ter sido esculpido por Deus e, para completar, um par de olhos verdes que me encaram com certa hesitação.

- Boa tarde, Senhor Hesgher.

A voz? Um som para os ouvidos. Será que ela é real ou só estou delirando depois de um dia exaustivo?

- Bom dia, senhorita... - percebo que não sei seu nome. Pego o currículo que está sobre a mesa, mas antes de ver ela completa minha frase:

- Julie Orner.

Me levando tentando ser um cavalheiro e a cumprimento:

- Bom dia, Senhorita Julie Orner. - quando toco sua mão percebo que esta suada e trêmula. Ela está nervosa.

- Poderia me falar um pouco sobre seu currículo? Assim não preciso ficar lendo. Prefiro palavras ditas. – digo, olhando em seus olhos, tentando não perder a compostura.

- Não tenho experiência profissional na área, mas me formei em Administração em Harvard e estou buscando uma oportunidade. - ela diz.

- E por que, Julie, alguém formado em Harvard iria querer trabalhar pra mim de assistente pessoal? - dou um sorriso cínico, esperando realmente entender isso.

- Estou pedindo o emprego e você deve analisar se estou apta ou não. Os motivos para me candidatar são pessoais e não lhe interessam - ela retruca. Essa doeu.

- Você quer o emprego, mas tem a audácia de me desafiar? – pergunto,  nossos olhos estão fixos um no outro. A tensão é visível e o tesão que estou sentindo também.

- Me desculpe, não foi minha intenção te desafiar. - ela diz isso de forma muito amável, mas seus olhos mostram algo além que não sei decifrar. Uma mistura de ódio com paixão, talvez.

- Eu posso até te contratar, mas primeiro gostaria de explicar as regras que estão no contrato antes de você assinar, e também negociarmos o seu salário.

- Não precisa me explicar, eu aceito o trabalho, onde posso assinar? - percebo que ela olha para a porta e tem pressa para ir embora.

- Mesmo que eu pague menos do que você gostaria? Não quer saber nada? Qual o seu problema? Eu não mordo... aliás, você vai ter que conviver muito comigo se aceitar o trabalho e me parece que você está desconfortável com isso. - digo sorrindo. Estou gostando dessa coisa de gato e cachorro e começo a ter ideias disso entre quatro paredes.

- Na verdade estou cansada, cheguei de viajem ontem e estou tentando me organizar no Brasil de novo. - percebo que a canseira é visível em seu rosto. Apesar da maquiagem, são visíveis as olheiras.

- Se precisar de alguma coisa, a empresa está à disposição para ajudar. Então você assina aqui... - mostro o local exato do contrato de trabalho - ...e pode começar na próxima semana assim pode terminar de se estabelecer.

Enquanto Julie assina, percebo que, apesar do esmalte escuro, é possível ver que suas unhas estão roídas, revelando alguns traços de ansiedade. Sempre sou muito observador com meus funcionários, e apesar deles terem me apelidado de coração de gelo, busco do meu jeito ajudá-los sempre.

Eles não imaginam que eu sei sobre esse apelido ridículo, mas sempre sei de tudo. E alguma coisa me diz que preciso saber de algo da Julie. Não sei o que ainda, mas vou descobrir o que uma mulher tão bonita e inteligente está fazendo na minha sala praticamente implorando pra ser minha assistente pessoal, o que não vai acrescentar em nada em seu currículo. Sem falar do salário que é um dos mais baixos pagos pela empresa.

- Aqui está, Senhor Joe. Que horas devo me apresentar na segunda? - ela pergunta.

- Primeiro, vou pedir que me chame de Joe. Já que vamos trabalhar juntos, essa coisa de senhor fica meio irritante. Pode vir às 8:00. Peça pra Norma te entregar umas anotações com coisas que você precisa saber sobre o que não deve fazer quando estiver na minha presença.

- Muito obrigada, com licença. - ela pede e se retira da sala. Não perco a oportunidade de conferir seu corpo por trás. Essa mulher é linda e com certeza vai me trazer muitos problemas e banhos frios.

O doce sabor da vingança  ( degustação) Onde histórias criam vida. Descubra agora