Prólogo

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Nunca passou pela minha cabeça a possibilidade de sentir o choque do meu corpo contra o vidro de um carro, acho que ninguém fica imaginando como seria sua morte, mas quando você lê sobre essas coisas tenta imaginar, nem que por uma fração, o que a outra pessoa sentiu.

Interessante isso, somos os únicos seres na Terra que conseguem se colocar no lugar do outro e sentir suas dores, seus momentos felizes, conseguimos canalizar sentimentos iguais aos dos outros e senti-los, mas na prática a coisa muda de figura.

No instante do impacto é como uma estante caindo sobre você só que ao invés de livros ela está lotada de pedras, e cada fibra do seu corpo sente o vidro gélido, mas o pior é quando ele, o vidro, rasga o seu corpo em vários lugares, não tem sensação mais desagradável do que sentir o fio do vidro fazer cortes milimétricos e de precisão cirúrgica no seu abdômen. É difícil descrever essa dor. Mas é tudo tão rápido. Foi tudo muito rápido.

Não sei como consigo separar todos esses acontecimentos do acidente, porque a última lembrança concreta que tenho são de luzes vermelhas e azuis, o chão estava frio o que me aquecia era o sangue que escorria por todo meu corpo como um manto escarlate feito sob medida. Eu podia ouvir o grito estridente das sirenes que corriam nas vias tortuosas e desertas que estávamos, a luminosidade era fraca devido as densas e majestosas árvores que nos cercavam como uma multidão de curiosos, o sol estava se pondo e minha esperança estava indo junto com ele. Não poderia continuar sem eles, não sem eles. Eles tinham que estar bem. Eu estava finalmente entregue.

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