Depois da entrevista e de comprar meu café da manhã, fui para o carro para não me atrasar para a aula, o trânsito estava bom, então pude chegar na faculdade sem desespero. Estacionei, sai do carro e fui para o porta-malas, o abri e tirei meu trabalho de lá, fechando a porta sem jeito com a apenas uma mão, por fora era apenas uma grande caixa de papelão, mas por dentro poderia dizer que estava orgulhosa de mim mesma.
Estranhei quando a professora nos mandou esquecer as roupas e focar nas técnicas e na teoria de todo o trabalho e objetos em volta, mas no meio do processo consegui entender o que ela queria nos mostrar: que de forma simples tudo se encaixa e no fim nossas roupas podem refletir tudo isso. Mas como ela mesma havia ordenado: nada de roupas.
Equilibrei os cafés e o saco de papel com a comida em cima da caixa, coloquei minha bolsa no ombro, travei o carro, para então entrar no prédio equilibrando as coisas, o dia estava ensolarado e bonito, e não sei se era eu, ou as pessoas realmente pareciam que estavam de bom humor, de qualquer forma tudo indicava que seria um bom dia.
Abrindo a porta com as costas, entrei na sala e olhei rapidamente em volta algumas pessoas ajeitando seu trabalho, uns ocupavam mais espaço, outros menos (outros nenhum), mas estava ansiosa para ver todos, vi Laura sentada em uma cadeira acenando com um mão para mim e tirando a bolsa do assento que deduzir estar lá apenas me esperando, fui até ela e deixei a caixa sobre a cadeira, pegando um café e lhe estendo, ela pegou e deu um gole soltando um "hmmmmmm" com olhos fechados apreciando o sabor. Ela amava isso.
Eu amo isso, você é incrível! -Ela parecia tão animada quanto eu, soltei uma risada baixa pegando meu café, ela me estendeu o dela e entendi o que queria, estendendo o meu e toquei no dela, como se brindássemos.
- Acho que consegui o emprego. -Disse como se não fosse nada demais e dei um longo gole na minha bebida que agora já estava morna.
- O que? Está brincado? Eu sabia que você conseguiria, Mare, sério, eu disse, não disse? É claro que eu disse e eu sempre acerto. -Ela dizia como se estivesse se gabando, e estava, porque sim, ela disse. Ri de sua reação, e as palavras dela apenas me deixaram mais animada. - Eu falei, você estava nervoso atoa, você é incrível e mesmo que não conseguisse esse, outra oportunidade lhe bateria a porta.
- Ata, até parec... -Antes que eu pudesse completar a professora entrou na sala, e ela não era o tipo que dava a vontade de desafiar conversando na aula.
Glória era a nossa professora, ela nos ensinava sobre a moda através dos séculos e em partes como tudo estava ligado a isso. Tudo mesmo. Acreditem, tudo. Esse trabalho que ela nos passou valeria 30% da nota, um dos motivos de sala estar completa hoje, ninguém perdeiria tantos pontos para dormir até mais tarde.
Tirei minha caixa da cadeira e me sentei no lugar, olhando em volta e vendo as pessoas se acomodarem, a professora foi até a mesa e puxou a cadeira que estava lá para o canto da sala se sentado nela.
- Muito bem, vamos ver o que temos para hoje. - Ela sorriu, parecia ansiosa para ver o trabalhos, pegou uma lista e começou a ler os nomes. - Alex, Morgana e Mikael, vocês fizeram juntos, certos? - Do lugar onde estavam, os donos dos nomes se levantaram e foram a frente, o trabalho deles era simples, um quadro do Charlie Chaplin de várias formas que não a original, bigode rosa, sem bigode, chapéu florido, acabei rindo de algumas, será que eles me dariam esse quadro para pendurar na parede do meu quarto se eu pedisse com jeitinho?
De qualquer forma foi uma aula divertida, tivemos muitos momentos de surpresa e risadas e a grande maioria conseguiu nota máxima, uns se destacaram mais que outros, como Clarisse que sempre andava como um perfeita princesa, roupa sempre limpar bem passada, cheirosa, saia e laços no cabelo loiro, sempre impecável, pegou uma latinha de refrigerante, bebeu de uma vez e deu acho que o maior arroto que eu já ouvi na minha vida, aquilo até recebeu um minuto de silencio com bocas abertas em O. Por fim foi a vez de Laura, ela foi lá confiante como sempre, todos a conheciam e sabiam que ela não decepcionaria, com as mãos vazias ela me deixou ainda mais curiosa, mas apenas esperei torcendo por ela silenciosamente.
- Pode começar. - A professora disse a encarando, esperando o que veria a seguir, mas o que aconteceu foi um choque, para todos.
- Cala a boca! - Laura disparou contra a mulher, como se estivesse inconformada com algo, mas antes de Glória dissesse algo, ela atacou novamente.- É isso mesmo o que eu disse, ca-la a po-rra da sua boca. Não aguento mais ouvir você falando tanta merda, não vejo a hora de me forma e tacar fogo nessa sala, e em vocês. - Ela apontou para a plateia, agora assustada, em geral.- Odeio todos, seus invejosos sem criatividade e quer saber? - Laura foi em passos firmes até a professora e se abaixou, deixando o rosto a mesma altura do da mulher.- Me beija. - Ela soltou decidida apontando com o dedo indicador para os próprios lábios e depois abriu um sorriso malicioso.- Sua velha, ridícula. -Nesse ponto eu estava com olhos arregalados, surpresa, esperando a reação da velha rid... Quer dizer, da professora, coisa que mais uma vez me pegou de surpresa.
Glória abriu um sorriso, olhando nos olhos de Laura, satisfeita e soltou em tom de humor.
- Dez.
Todos na sala ficaram sem reação, até compreenderem o que estava acontecendo, ninguém esperava aquilo, e esse era o ponto, ninguém esperava aquilo. Lau ajeitou a postura e voltou a seu lugar com os olhares de admiração a seguindo, essa era Laura.
Por fim chegou minha vez e eu sabia que depois disso metade dessa sala me odiaria, mas iria até o fim. Peguei minha caixa e o sorriso animado de Laura me animou ainda mais, chegando na frente da sala, todos os olhares se focaram em mim, aquilo não era um problema, nunca havia sido tímida, não era hoje que começaria ser, suspirei e prossegui, coloquei a caixa na mesa e em silencio a abri, tirando dela um embrulho de jornal redondo, abri o papel e lá tinha mais papel, eu tinha usado muito jornal, então até desenrolar tudo... Em certo ponto eles pareciam não aguentar mais me ver desenrolando tanto jornal e então, fim.
Enrolado em tanto jornal uma cruz, aquelas que todos conhecem mesmo, todos esticaram o pescoço para ver o que tinha ali e ergui a cruz para que todos vissem, peguei a mesma e a joguei com força no chão, ela quebrou e a curiosidade foi substituída por surpresa e em certo ponto, julgamento, olhei para a professora e ela sorriu e acenou com a cabeça. Nota máxima. Voltei para o meu lugar ignorando todos o olhares, quando me dei conta estava tremendo um pouco, ainda absorta em choque com o que tinha conseguido fazer, até a voz de Laura me acorda do transe.
- Demais! Você se supera, sério, essa noite vamos bebemorar!Des·sa·cra·li·zar - Conjugar
(des- + sacralizar)
verbo transitivo
Tirar ou perder o .caráter sagrado. ≠ SACRALIZAR
Palavras relacionadas: dessacralização, dessacralizador, dessacralizante, sacralizar.
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Reféns do Destino
RandomMare é uma jovem estudante de moda que para continuar em seu curso precisa começar a trabalhar, com uma oportunidade única ela aceita um emprego de babá na casa dos Abramovitch, uma família com status inabalável. O que ninguém esperava é que com a...