Vozes que clamam

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Todos os dias sou obrigada a acordar com a cara pálida da minha irmã praticamente do meu lado, a pouco menos de 1 metro de distância. Seus cabelos ruivos estão praticamente penteados, e seus olhos negros me observam, tentando detectar algum sinal de loucura... Não encontra. É muito difícil eu perder o controle quando acordo, porém não impossível. Mas não digo que perco o controle, eu apenas libero o verdadeiro eu, o que muitas pessoas não tem coragem de fazer. Por sorte, eu não sou essas pessoas. Na verdade eu incentivo-as para se libertarem do medo, e se deixar fazer o que as vozes em nossas cabeças nos pedem. Podem até me achar louca, pirada e lunática, mas eu não ligo. Nunca liguei. Quero mais que se dane o mundo, e todos que estão nele, com muitas poucas excessões.

Me levanto da cama e vou direto para o espelho, que revela a mim uma jovem tão pálida quanto sua irmã, olhos da cor d'água, e cabelos negros ondulados um pouco longos. Porém apesar da notável beleza, possui uma aparência pertubada, despenteada e com leves olheiras, quase imperceptíveis, devido a noites e noites de insônia. Vou para o banheiro, escovo os dentes, tomo banho e coloco meu uniforme do colégio e um casaco preto, onde estou a pouco tempo, junto com Jordan e minha irmã. Estamos lá por motivos pessoais, temos um objetivo a cumprir.

No caminho vejo Jordan e vou até ele, deixando minha irmã um pouco para trás, e vamos juntos até o colégio. Jordan é muito gentil, mas também consegue ser alguém muito intimidador e perigoso... mas nunca tive medo dele, pois eu quem incentivou ele a ser assim, aos 12 anos. Muito cedo pra ser um assassino? Talvez... mas eu sou desde os 10 anos.

Minha primeira vítima foi a cozinheira do Orfanato Garreland, uma mulher fria e aproveitadora, que tirava as doações das crianças para vender, pedia "favores" a nós, e quando negavamos ela nos repreendia nos ferrindo com faca ou queimaduras em alguma parte de nosso corpo. Eu aturei isso por 1 ano, e então, no meu aniversário me deram uma faca para cortar o bolo, mas no lugar disso, eu cortei o crânio de Dona Louise, nossa "amada" cozinheira... as vozes pediram. E então, naquela noite, eu e Sarah fugimos de lá, e depois de dois dias na rua, Encontramos Jordan. Ou melhor, ele nos encontrou...

-Vínia, será que dá pra me responder?- pergunta Jordan

Fiquei perdida em meus pensamentos outra vez...

-Eu perguntei qual o nome dele -ele diz

Demoro um pouco pra perceber sobre o que se trata, até que me lembro de nosso objetivo.

-Grangs. Richard Grangs. -Eu respondo. Enquanto termina de falar, escuto a voz de Johanna:

Mate-o. Ele assassinou aquelas adolescentes, faça o mesmo com ele. Mate-o. Mate-o. Mate-o.

E ficou dizendo isso sem parar, sem interválo. "Mate-o. Mate-o." Johanna, uma das vozes de minha cabeça, a voz da matança não parava de dizer a mesma coisa. Isso estava me levando a loucura, me deixando inquieta. Eu tento colocar a mão nos ouvidos, mas de nada adianta. "Mate-o. Mate-o."

-Cala a boca Johanna. -Eu grito, com as mãos nos ouvidos, tentando em vão faze-la ficar quieta.- Para. Para. Por favor. Eu vou fazer. Eu vou.

Já posso sentir os diversos olhares de pessoas na rua me julgando com os olhos, me repreendendo por culpa de Johanna. Sempre é culpa de Johanna, um dia ela me levará a loucura. Olha para Jordan e Sarah, ambos sabem o que aconteceu, eles sempre sabem. Não é mais precisso mentir para eles.

-O que ela te mandou fazer dessa vez? -Pergunta Sarah, que tinha se mantido quieta até então. Eu lhe conto o que ela disse e Sarah simplesmente diz. - Ela não precisava ter falado nada dessa vez, ele já está marcado pra morrer.

Eu concordo, mas apenas eu consigo entender perfeitamente meus "amigos imaginários", porém devo admitir que as vezes acho que nem eles próprios se entendem.

Chegamos ao Central College, e somos cumprimentados por alguns alunos, olhados por outros, alguns trocam sussurros quando passamos. Não me sinto confortável com tanta atenção, pois sempre fui do tipo que prefere ficar quieta e sozinha, apenas com Jordan, e algumas vezes Sarah. Avisto um rapaz de cabelos loiros e curtos, com uma jaqueta preta e calça me observando intensamente, até que depois de um tempo vem caminhando em minha direção. Ele me encara firmemente com seus olhos esverdeados. Isso me deixa irada, por quê não para com isso? Eu porém não desvio o olhar, e ele se aproxima lentamente, até ser interrompido por um rapaz, que começa a conversar com ele.

-É ele? Richard? -pergunta Jordan, com uma aparência insegura, mexendo em seus cabelos castanhos claros encaracolados, os deixando de uma maneira rebelde, e fixando seus olhos da mesma cor que os meus para o rapaz loiro- Ele é nosso objetívo?

-Sim. - eu confirmo- Ele é a vítima.

-Oque ele fez Vínia? - pergunta Sarah - E como que você vai fazer isso?

-Ele é um assassino podre, como nós aparentemente, mas ele, pelo o que li, matou adolescentes inocentes. Diferente de nós, que caçamos os que querem fazer mal.

-Entendo... -Sarah diz

-Eu vou ser a próxima vítima dele, mas quando ele for fazer o serviço dele, eu vou fazer o meu com minha faca. -Digo, e então surge um leve sorriso em meu rosto.

Jordan se vira pra mim, e ficamos frente a frente, ignorando Sarah outra vez.

-Agora entendi o motivo das jovens terem se deixado seduzir por ele. -Diz Jordan, em um tom quase incomodado.

-E qual seria o motivo?- Eu pergunto, já imaginando a resposta.

-Olha pra ele Vínia, seja sincera, até você, se não fosse pela meta, iria querer ter a atenção dele. -O motivo dele me pareceu simplesmente bobo, e sem nexo, e soou com um toque de insegurança.

-Não iria. -Respondo firmemente. -E é obvio que você sabe disso Jordan.

Ele se aproxima um pouco mais de mim, e me abraça suavemente, e sinto meu rosto emitir um leve calor, que logo me deixa corada.

-Não custa nada ter certeza.

Nos afastamos depois de um tempo, e nós três observamos Richard se aproximar, enquanto as vozes borbulham ideias macabras em minha mente, que pretendo colocar em prática o mais breve possível.

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⏰ Última atualização: Sep 19, 2015 ⏰

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