Achado Não é roubado

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Achado Não é roubado

   Escondi o diário dentro do casaco preto e voltei para sala. Tentei segurar o riso quando passei pelas patricinhas. O professor já havia chegado e fui sentar no meu lugar de sempre no fundão.

 – O que aconteceu? Você me deixou sozinho no intervalo hoje! – disse Diego fazendo manha. Eu adorava tudo nele, e principalmente seu jeito de não ligar para o que as pessoas achavam dele, assim como eu.

– Você não vai acreditar! – falei me virando para encará-lo. Seu sorriso era sapeca como se soubesse que eu estava aprontando alguma coisa. E na verdade eu estava. Ele me conhecia muito bem.

 – Me conte agora Dona Helena! – exigiu ele alterando a voz, mas ainda assim mantendo a voz fanhosa como a de uma garota.

 – Você que vai me contar Sr. Diego. Qual é a resposta desta questão? – O professor apontou para o quadro e esperou a resposta de Diego. Nenhum professor se importava com minha presença, era como se eu fosse insignificante e nenhum teria coragem de perguntar algo para mim ou se incomodar quando eu conversava, mas, é claro, que eu não falava sozinha e por isso sempre pegavam no pé de Diego. Eu tinha que intervir.

 – A resposta é trinta e dois. – falei para ele sem duvidas. Ele me olhou pelo canto do olho e balançou a cabeça confirmando. Eu sempre defendia o Diego e sei que ele faria a mesma coisa por mim, mas ele era a parte frágil e não eu. O professor me olhava com dúvida, provavelmente pensando o porquê eu não me saia bem nas provas já que eu sabia o assunto. Eu não me importava de ficar em recuperação, não mesmo. Eu sabia da matéria, mas simplesmente não ligava.

 – Obrigado. – disse Diego quando o professor não estava mais olhando. Eu apenas sorri.

    Enquanto as últimas aulas passavam-se tentei me controlar, mas não resisti à tentação e folheei o caderninho.

 – Não acredito! – Levei à mão a boca tapando-a. O diário era da Cindy e dizia coisas terríveis. Tipo assim, tinha algumas besteiras escritas, mas a maioria das folhas estavam referindo-se a mim,literalmente. Várias e várias páginas me xingando ou dizendo frases bobas...

14 de Abril de 2010 

Querido Diário,

  Eu odeio tanto aquela garota. Ela é tão cínica e estúpida. A Helena é a pessoa mais falsa do mundo. Ela age como se não soubesse o que fez. Argh... Como eu a odeio!

 p.s: Hoje o Matheus olhou para mim. Talvez, finalmente, ele tenha reparado em mim.

21 de Abril de 2010

Querido Diário,

  Affs! Hoje meu dia foi um saco. Começando com aquela mocréia da Helena que esbarrou de propósito em mim. Eu tenho nojo daquela menina!

 Ain... Daqui a pouco vai ter a reunião das lideres de torcidas aqui em casa... Achei que tinha escutado a campainha tocar, mas não era ninguém. Preciso preparar um lanche para as meninas...

p.s: Eu to com muito ódio do Matheus! Ele praticamente me humilhou na frente de todos os amigos dele. Quem ele pensa que é? Eu sou a garota mais bonita da escola, a mais popular, a chefe das lideres de torcida... Por que ele não olha pra mim? Nós temos tudo pra dá certo. Ele é o capitão do time de futebol, o garoto mais bonito da escola, o mais popular...Sinceramente não sei porque ele não liga pra mim, mas ele vai me pagar por tá fazendo isso...pode apostar!

  Olhei pasma para as palavras que estavam escritas. Eu não conseguia acreditar. Eu sabia que ela me odiava e tals, mas não a ponto de gastar as folhas do seu diário falando de mim. Caramba, pra mim ela era só mais uma que eu odiava, nem fazia diferença.

  O sinal tocou me trazendo de volta a realidade. Não agüentei e fui direto falar com Cindy que estava encostada na porta com as outras lideres de torcidas ao seu redor. Senti nojo. Coloquei-me na frente delas e estalei os dedos chamando a atenção para mim.

 – Qual é o seu problema garota? – Falei com puro ódio. – Por que me odeia tanto? O que fiz pra você? – perguntei aos berros. Todas olhavam para mim com olhos curiosos e amedrontados, menos Cindy que tinha uma cara de cínica.

 – Do que está falando idiota? – Disse Cindy sorrindo para mim, debochando. Levantei a mão para socá-la, mas sabia que não valia à pena. Soquei a parede a centímetros de seu rosto deixando-a assustada.

 – Disso aqui vadia! – exclamei abrindo o casaco e mostrando o diário para ela. Sorri triunfante ao ver a cara de pavor dela. – Não deveria deixar isso rolando por ai, afinal um diário contém os segredos mais secretos de uma garota. – disse sorrindo. Ela olhou feio pra mim e pediu para suas amigas saírem. Elas hesitaram, mas acabaram saindo. Cindy puxou meu braço e levou-me para o banheiro. Verificou se não tinha ninguém ali antes de falar.

 – Quero meu diário de volta! – disse ela.

 – E eu quero que você me explique isso sua piriguete. – Balancei o caderno na sua frente e suas mãos tentaram alcançá-lo, mas as minhas foram mais rápidas.

 – Não ti interessa! – Ela disse revirando os olhos. Eu fui pra cima dela pronta para dá uma tapa na sua cara falsa.

 – Espera, espera, espera. – Falou desesperada com a voz fresca. Eu hesitei olhando-a. – Eu tenho uma proposta. – disse ela sorrindo nervosamente. Revirei meus olhos e avancei, mas ela segurou meu braço antes de encosta em seu rosto.

 – É sério! Me escuta. – disse ela choramingando. Eu sorrir debochado e recusei-me a escutá-la.

 – Ai garota se enxerga! Eu não quero fazer acordo nenhum com você. – disse a ela recuando.

 – Você vai gosta do que eu tenho pra dizer. – Ela sorriu com malicia. – Quero que você conquiste o Matheus.

Meus Contra-AcasosOnde histórias criam vida. Descubra agora