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Lia mordia o travesseiro com toda a força que tinha, sua face estava comprimida ao máximo nele, seus braços o envolviam com um desespero extremo na inútil tentativa de encobrir o barulho que saia do despertador.

Ela jogou o braço em uma arremeço limpo e o derrubou no chão, o barulho acabou logo depois. Tarde de mais, ela podia ouvir os passos ecoando pelo corredor, vindo da porta mais indesejada de hoje.

Olhou de canto para a maçaneta e a viu girando, a porta foi empurrada dando espaço para um homem alto, cabelo acinzentado e olhos azul trajando um uniforme azul marinho e em sua mão um chapéu, era seu pai, delegado na cidade e o cara mais durão desse lugar - se não do país.

É um exagero da parte dela pensar dessa forma, mas Lia sempre foi exagerada para tudo e todos. Seu pai a encarava na porta com um olhar neutro.

- Hoje é segunda. - ele disse.

Ótimo. Ela queria responder, pegou sua coberta e a levou para cima, cobrindo o resto de seu corpo.

- E?

- E é dia de ir para a escola. E mesmo você dizendo que não quer ir, ou que não pode eu digo, você vai.

De baixo da coberta quentinha Lia não via nada, mas podia imaginar o olhar carrancudo do seu pai sobre ela, então não haveria escolha, ela sabia, mas deixou-se ser iludida, alimentada pela mentira de que ele a deixaria ficar em casa por mais um dia.

Levantou a coberta e sentou na cama, seus olhos piscaram ao ter contato com a luz do quarto ao ser ligada. Nada muito charmoso, mas acolhedor para ela, a sua frente um guarda-roupa branco imbutido ao lado de uma porta com um enorme espelho no meio dela que dava para o seu banheiro, a sua esquerda uma mesinha branca com uma mochila de couro azul e seu laptop - ela fala assim porque sabe que é errado dizer notbook, que significa caderno em inglês, e bem, aquilo não tem nada a ver com um caderno.

- Você tem vinte minutos. - avisou seu pai e saiu.

Vinte minutos... vinte minutos...

Procurou segamente seu chinelo com a ponta do seu pé, mas foi em vão, resolveu ir descalsa mesmo ao banheiro, descendo da cama ela sentiu o carpete quente e macio. Abriu a porta, despiu-se de sua única peça, uma camiseta preta com a estampa de um desenho do Piu-Piu fumando um cigarro.

A água estava morna e deliciosa, cada gota que caia sobre ela causava um arrepio que ela particulamenta se deliciava, pegou um sobente líquido e passou sobre ela bem devagar, vapor saia da sua pele branca e lisa.

Depois do banho ela secou-se e pôs uma calça jeans clara, uma blusa de moleton preta com decote V bem justa e um salto agulha do mesmo tom escuro da blusa. Olhando no espelho, encarando seus olhos azul escuro ela pôs uma gargantilha com uma pérola vermelha. Arrumou a cama e pegou a mochila antes de bater a porta do quarto.

Desceu as escadas e passou pela fachada da casa sem pressa parando ao lado da viatura do pai. O vento soprou forte fazendo com que seus cachos loiros batessem violentamente na sua pele pálida.

- Podemos entrar? Está meio frio aqui...

- Um minuto!

Seu pai arrumou o cinto e abriu uma porta da viatura, segundos depois a outra porta abriu fazendo um click. Lia entrou e fechou-a, arrumou o cabelo e fingiu um sorriso para seu reflexo no para-brisa.

SoulanchorOnde histórias criam vida. Descubra agora