Quando cheguei na portaria, o senhor Lorenzo me disse que tinha chegado um móvel para mim, eu o agradeci por ter recebido e perguntei se teria algumas ferramentas para me emprestar, ele pegou as ferramentas e me entregou. Seu Lorenzo era o porteiro e um dos moradores do prédio, o conhecia a poucos dias, mas já gostava bastante dele, seus cabelos eram brancos, estatura média, era um pouco gordinho, tinha sempre uma expressão feliz, muito simpático e ativo.
Ele me ajudou a subir com o pacote, era minha mesa de desenho, fiquei muito feliz por ela ter chegado. Deixei no cantinho do quarto onde ia ser meu "escritório", era um espaço pequeno, mas muito aconchegante e tinha uma luz ótima. Na verdade meu quarto era quarto, sala de TV e escritório, o apartamento tinha a sala de estar separada, mas só seria mais usada quando chegasse alguém, gostava de ter esses três ambientes em um só e quando desenhava deixava a televisão ligada pra não me sentir tão sozinha assim.
Tomei um banho e resolvi dar uma arrumada nas coisas antes de comer e montar minha mesa. Assim fiz, terminei tudo o mais rápido que pude. Peguei a comida que já tinha esfriado e coloquei no microondas para esquentar, peguei um suco na geladeira e fui pro quarto comer enquanto assistia um pouco. Depois lavei a louça e fui montar minha tão esperada mesa.
É incrível como me dou bem montando móveis, pouco tempo depois já estava prontinha. Queria muito usá-la ainda hoje, mas estava extremamente cansada e fui dormir.
Acordei um pouco mais tarde que o habitual, hoje não teria aula pra mim, como trabalho só a tarde tenho a manhã livre. Decidi conhecer as proximidades do prédio, estava fazendo um dia de sol lindo e muito convidativo para uma volta. Levantei, tomei banho, café, peguei minha bolsa com caderno de desenho, lápis e sai.
Andei um pouco e me deparei com uma pracinha muito linda em uma rua por trás do prédio, não era muito grande, mas tinha um bom espaço pra crianças brincarem, um vendedor de algodão doce, outro de pipocas, e uma senhora vendendo flores perto de um chafariz que tinha no meio da praça com bancos ao redor. Sentei em um desses bancos e fiquei observando as coisas que se passavam naquele ambiente, tinha muitas crianças brincando, umas acompanhadas com as mães e outras com babás. Os vendedores de pipoca e algodão doce parecia que não se suportavam, pois um ficava em uma ponta da praça e o outro na outra ponta, sempre trocavam olhares feios principalmente quando chegava cliente no carrinho do outro, eles pareciam ser bem divertidos e atrapalhados. Já a senhorinha que vendia rosas tinha uma barraquinha muito linda, rosa com detalhes verdes desenhados, e um letreiro que dizia "Fiori della Nonna", tinha vários buquês de flores já prontos, baldinhos espalhados no chão com outras dentro, alguns jarros com mudas e outros com plantas já crescida. Ela tinha uma expressão amável e doce, todos que eu vi chegando na praça ou saindo dela a cumprimentaram, as crianças a abraçavam com um amor muito grande. Um garotinho loiro com cabelos encaracolados chegou perto senhora e pediu que lhe contasse uma história, então a senhora disse que ele chamasse todos os coleguinhas que estavam na praça mesmo que não conhecessem alguns pra que ela pudesse começar a contar.
Fiquei surpresa pois a criança veio logo em minha direção e disse:
- Andiamo! La nonna racconterà una storia! - (Venha! A vovó vai contar uma história!) Ele estava tão agitado que nem esperou que eu falasse nada e logo foi chamar todos que estavam na praça, sorri da situação e quando olhei a senhorinha sorriu e acenou para mim, assenti em retribuição.
Resolvi desenhar a barraquinha dela, era muito fofa tinha me chamado atenção.Quase todas as pessoas da praça se sentaram ao redor da senhora e ficaram quietos esperando que ela contasse a história e eu comecei a desenhar. Como tinha costume de desenhar ouvindo a televisão consegui ouvir toda a história, era sobre o nome da praça que se chamava Amici, ela disse que a muito tempo 3 amigos que moravam naquela rua sonhavam em ter pelo menos uma pequena praça cheia de flores de diversas cores e formatos com bancos para trazer vida e alegria a rua, pois as casas eram todas em tons cinzas nos quais passavam uma impressão de tristeza, sofrimento, medo, parecia mais uma rua mal assombrada. Isso intrigava as crianças, elas não gostavam de brincar do lado de fora já por esse clima tenso que tinha, então prometeram que iriam construir uma praça ali e dar mais vida aquele lugar, fizeram desenhos de como queriam que fosse e deram um jeito de ir até o gabinete do prefeito, quando chegaram lá foram barrados, mas deram a sorte do prefeito está chegando no momento e fizeram questão de entregar seus desenhos e pedir pra que ele construísse a praça. O prefeito concordou em fazer uma visita a rua depois para ver se seria viável esse projeto. As crianças saíram muito felizes de lá, falaram pra todos da rua que o prefeito viria fazer uma visita para construir a praça, ninguém acreditou neles, o que os deixou muito triste. Passaram-se dias e mais dias e nada da visita acontecer, todos faziam chacota dos três amigos e eles ficavam mais tristes ainda. Então quando as esperanças já estavam acabando os três amigos estavam sentados na calçada quando viram o carro da prefeitura estacionando na rua, dele desceram o prefeito, seu assistente, e mais dois homens que as crianças não conheciam. Os quatro foram em direção aos pequeninos e pediram que eles lhes mostrasse a rua e explicasse os desenhos que fizeram, então seis meses depois disso a praça estava pronta e recebeu o nome de Amici (Amigos).
As crianças gritavam quando ela terminou a história e pediam freneticamente pra que contasse novamente, ela disse que outro dia lhes contaria mais, eles não ficaram muito felizes mais concordaram, uns voltaram a brincar, outros foram para casa.
Eu estava terminando meu desenho quando meu celular tocou, era uma mensagem da minha irmã.
"Lorena??? Preciso falar com você!!"
"Oi Elisa?? Aconteceu algo??"
"Sim... quer dizer não... talvez..."
"O que foi?? Você está me deixando preocupada..." - sabia que minha irmã era exagerada e podia até não ser nada demais, mas como estou longe de casa fiquei com medo de ter acontecido algo realmente sério com alguém da família.
"Eu encontrei e falei com a Luna agora a pouco!" - ao ler a mensagem lágrimas saíram dos meus olhos, fiquei completamente paralisada, em choque.
"Lorena???? Cadê você??? Me responde..."

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A nossa volta
RomanceTem uma música que diz que o pra sempre sempre acaba, mas na verdade ele só acaba se nós acabarmos com ele. A amizade entre Luna e Lorena era pra ser para sempre, mas após uma briga, as duas garotas que antes eram amiga-irmãs e não sabiam viver sepa...