Parte Um

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Odeio esse vazio. O vazio do copo, da cama e da casa. O silêncio me incomoda, não há como e com quem gritar. Odeio madrugadas solitárias, onde meu copo de vinho já está vazio, assim como minha cama e meu peito.

Virei a garrafa de vinho na taça e percebi que aquele seria o meu último copo. Pensei três vezes antes de atirar a garrafa vazia na parede, mas quem iria limpar depois seria eu e pela primeira vez, consegui evitar uma destruição, já que de resto já não conseguia evitar mais. Deixei a garrafa de lado e sai da mesa onde a janta pelo qual eu passara a tarde toda preparando, estava posta, mas que agora tudo esfriava. Nunca fui de cozinhar, mas para ele eu dava um jeito.

Entrei no meu quarto dando alguns goles no vinho e fui até a janela sentando em cima do parapeito. Peguei o maço de cigarros que ele esquecera ali, abri pra pegar um. Não fumo, aliás, odeio cigarro. Odeio aquele cheiro, o gosto, tudo. Mas acendi apenas para senti-lo perto de mim. Tirei o celular do bolso e procurei a mensagem que ele mandara há uma hora. “Baby,” odiava ser chamada assim, mas por ele... ah por ele... “Carla chegou mais cedo, não poderei jantar com você como prometido, outro dia a gente se vê, beijos.” Deixei o celular apoiado na minha perna e me acomodei ali na janela para observar os carros.

Por conhecê-lo há tantos anos, não conseguia lembrar ao certo se existe alguma época de nossas vidas em que não tínhamos um ao outro. Éramos amigos de infância, daquele tipo em que não nos desgrudávamos por nada. E foi assim até os nossos dezoito anos quando resolvi fazer intercambio para o Canadá e dando alguns jeitinhos permaneci lá durante seis anos. Quando resolvi voltar, ele estava de casamento marcado com uma garota que ele conheceu na faculdade. 

Lembro de ter ficado incomodada com toda essa história de casamento, mas na época acreditava que era por ele não ter me contado nada do que estava acontecendo aqui no Brasil. Desde o primeiro contato com a sua futura noiva, ela fizera questão de demonstrar que não ia com a minha cara, por tantas vezes perguntei o motivo dela sempre virar a cara ao meu encontro, que resolveram me contar que ela sentia ciúmes de mim. Parecia que Gabriel não parava de falar sobre mim quando eles estavam juntos.

Perto de acontecer o seu casamento, resolvemos jantar juntos para colocar os assuntos em dia, já que desde a minha volta não conseguimos isso por ele tá todo ocupado por causa do casamento. Depois do jantar, resolvemos voltar andando pra casa, a noite estava com um clima agradável e não estávamos tão longe assim para gastar com taxi. Foi quando ele falou que tava com vontade de beber um pouco, dissera que Carla não o deixava beber nem um gole de álcool, pois era prejudicial a sua saúde, que piada. Olhei o relógio e pouco passava das onze, um pouco de bebida não faria mal algum né?

- Uma tequila, apenas uma tequila para fazer minha vida ficar doce de novo. – Ele falava.

- Credo, Gabriel, até parece que nunca bebeu na vida.

Ele parou na minha frente me fazendo parar de andar também e segurou meus braços.

- Mas é praticamente a mesma coisa, Bruna. – Ele falou – faz tanto tempo que eu não bebo que até o gosto do álcool eu não lembro mais.

- Alcoólatra. – falei fazendo-o rir.

Resolvemos parar em um barzinho que era badalado naquela região, se fosse pra tirar aquelas teias de aranha da garganta de Gabriel, então teria que ser em um lugar que valeria a pena.

Na primeira tequila ele falou que me amava. Na segunda, disse que não sabia o motivo de estar se casando. Na terceira falou que me odiava por ter o abandonado durante seis anos. Na quarta disse que não viveria sem mim. Na quinta confessei que era apaixonada por ele. Na sexta ele me beijou.

VazioOnde histórias criam vida. Descubra agora