Por dias eu evitei as ligações dele. Estava me sentindo culpada por tudo que aconteceu. Mas não pude evitá-lo quando ele apareceu na porta da minha casa. Fui pega de surpresa, mas permiti que ele entrasse na minha casa.
- Achei que você tinha morrido, Bruna, que saco. - Ele falou mostrando a raiva que sentia. - Acha certo sumir desse jeito de novo? Já tava achando tinha voltado pro Canadá.
Eu cheguei a pensar nisso.
- Não é a primeira vez que eu bati aqui na sua casa também. Mas você não estava, ou fingiu não estar.
Fui até a janela da sala e fiquei olhando pro lado de fora enquanto ele falava o quanto estava preocupado comigo.
- Por que você sumiu?
Gabriel foi até a mim e colocou a mão no meu ombro e eu segurei sua mão. Virei para ele e fitei seus lindos olhos verdes. Sua expressão triste me preocupou.
- Me responde, Bruna, eu fiz alguma coisa que a chateou? Aconteceu alguma coisa naquele dia que você não gostou?
Ele não lembra. É claro que ele não se lembra de nada. Se lembrasse ele saberia por que eu sumi. Fechei a cara e me afastei dele indo pra cozinha. Ele foi atrás de mim, chamando pelo meu nome.
- Bruna, você pode dizer alguma coisa? To cansado de tentar descobrir as coisas sozinho. Colabora, po.
Abri a geladeira e peguei uma garrafa de água. Enchi o copo e guardei a garrafa. Peguei o copo e bebendo voltei pra sala fazendo-o me seguir.
- Bruna - ele falou puxando meu braço.
Puxei meu braço e dei o ultimo gole de água. Fiquei olhando seu rosto enquanto ele não parava de falar que não estava entendendo o meu silêncio.
- Você não se lembra de nada né? - Falei cruzando os braços.
- O que? - ele falou - como assim? Lembrar do que? - Ele perguntou confuso.
- Não se lembra de nada do que aconteceu no dia que a gente saiu?
- Claro que lembro, saímos pra jantar, depois paramos no barzinho pra beber um pouco.
Como eu imaginava.
- Gabriel, por gentileza, vai embora. - falei apontando para a porta.
- O que? Por que? Vim aqui pra gente conversar. E vamos fazer isso.
- Não temos nada o que conversar. VAI EMBORA. - Eu gritei.
Gabriel não se mexia então resolvi empurrá-lo para fora da minha casa. Já não bastava ter que lidar com essa culpa, agora que eu descobri que lidava sozinha com ela, então tenho todo o direito de não querer a presença dele ali comigo.
- Tá bom garota, eu vou embora. - Ele falou saindo da minha casa
A raiva subiu pelas minhas veias, e aquele copo que ainda estava em minhas mãos, atirei na parede fazendo com que ela se espedaçasse no chão. Senti algumas lágrimas querendo sair e não sabia direito o que era pior: limpar o vidro caído no chão ou o coração no meu peito.
Escutei a batida na porta, logo veio na minha cabeça que era algum vizinho intrometido perguntando se tudo estava bem no meu apartamento. Mas ao abrir vi o Gabriel de cabeça baixa.
- É claro que eu me lembro de tudo.
Ele falou antes de dar um passo para frente e me beijar.
Depois desse dia, ele falou que ia terminar com a Carla pra ficar comigo, mas de alguma maneira, eu falei que não era pra ele fazer isso. Pois eu iria voltar pro Canadá o que nunca aconteceu. Não falei isso por não gostar dele, pelo ao contrário, eu o amava tanto que eu queria tê-lo na minha vida pra sempre, e tinha medo de ter um relacionamento com ele, eu acreditava que isso iria acabar com esse negócio tão especial que temos.
Era difícil segurar a tensão entre a gente quando estávamos juntos. E aos poucos, depois daquele não-quero-ficar-com-você rendemos aos nossos sentimentos e voltamos a ficar juntos.
Mês seguinte ele se casou.
E eu prometi que nunca mais me apaixonaria na vida.
No dia do seu casamento, conversamos muito sobre a nossa pequena relação. E, faltando apenas dez minutos para dar início à cerimônia, resolvemos não continuar com isso. Não iria fazer bem ao seu casamento se ele continuasse com essa vida "dupla" e eu ainda recusava a oferta dele de terminar o noivado pra ficar comigo.
Sentada no meio daqueles milhares de convidados - me recusara a ser madrinha deles - eu vi Carla entrando na igreja com seu vestido maravilhoso. Seu sorriso iluminava, o meu sumia. Lágrimas caiam pelo rosto dos convidados de alegria e emoção, no meu era de tristeza.
Era o dia mais feliz da vida dela.
Era o dia mais triste da minha.

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Vazio
Krótkie OpowiadaniaOdeio esse vazio. O vazio do copo, da cama e da casa. O silêncio me incomoda, não há como e com quem gritar. Odeio madrugadas solitárias, onde meu copo de vinho já está vazio, assim como minha cama e meu peito.