18 - Avalanche

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3:00pm. Apartamento.

Chad's POV

Estávamos sentados na sala assistindo Downton Abbey. Na verdade, Alyson estava assistindo, enquanto eu estava apenas sentado ao seu lado encarando o celular em minhas mãos. Tão focada no balde de pipoca pousada em sua barriga, ela não pareceu perceber os minutos que saí para falar ao telefone com minha mãe. Ouvi sua voz me chamar no fundo da minha mente, mas o diálogo que havia acontecido estava sendo repassado na minha cabeça. "Vamos fazê-la mudar de ideia, querido. Eu tenho certeza de que vocês ainda podem ser uma família", ela ficava falando há duas semanas. - Chad! - Alyson puxou meu braço e chamou minha atenção. Ergui os olhos do celular com a tela apagada e olhei para sua expressão descontente. - O que há com você? Estou te chamando. - Sua voz era irritadiça.
Haviam se passado duas semanas desde o primeiro encontro com o casal candidato a adoção, e apesar da sua alegria constante ao vê-los, nos últimos dias as explosões hormonais tinham mudado seu humor de estou-muito-feliz-com-tudo-isso para eu-vou-gritar-quando-eu-quiser, passando por crise-de-choro-o-tempo-todo. Parecia às vezes, que eu era um mero figurante no relacionamento e ela a protagonista.
- Desculpa, eu estava distraído. O que você disse? - Perguntei mantendo o tom de voz baixo e a respiração constante. Os personagens da série continuavam conversando ao fundo. Ela rolou os olhos, colocou o balde em cima da mesa de centro e pausou a televisão, nos imergindo em um silêncio não absoluto devido ao barulho dos carros do lado de fora.
- Você está calado desde ontem. Aconteceu alguma coisa? - Sua pergunta não era uma pergunta. Era uma constatação.
No dia anterior tínhamos ido até o escritório do advogado da minha família para assinar alguns dos contratos da adoção. Eu ainda não sabia como tive força, ou quem sabe, coragem, para colocar meu nome em todos aqueles papeis. Até mesmo ela pareceu abalada. A ficha estava caindo.
- Eu só... Estou pensando. - Dei de ombros e me ajeitei no sofá. Ela bufou.
- Já sei no que você está pensando. - Ela pousou sua mão na testa antes de continuar. - Você está tentando encontrar algum problema com o casal que vai adotar nossa filha.
Um caminhão buzinou do lado de fora, fazendo uma barulheira insuportável.
- Nossa filha. - Murmurei. Mais buzinas escandalosas de volta. Ela arqueou uma sobrancelha, confusa. - Você disse nossa filha. - Repeti.
- Ah Chad, nem começa. - Seus dedos mexeram em seu cabelo e ela fechou os olhos, respirando fundo. - Sério. Eu já te disse que não vamos ficar com ela, por que você insiste em dramatizar a situação? Para eu me sentir mal? Porque nas últimas semanas é tudo o que você tem feito é fazer eu me sentir mal! - Suas mãos gesticularam compondo o tom crescente da sua voz. - Nós já assinamos a droga da papelada, não tem volta!
Para não gritar de volta, levantei do sofá e andei até a janela. Lá embaixo um congestionamento inexplicável tornava a rua, que era geralmente tranquila, intransitável.
- Eu só não sei se gostei daquele casal. - Finalmente falei.
- Porque eles são gays? Eles são um casal perfeitamente aceitável. Eles são maravilhosos. - Ela apertou. - Você não tem ideia do quanto eles estão sendo legais e como estão ansiosos para receber a... - Sua fala poderia se estender por horas, mas eu a interrompi.
- Há algo de errado com eles. - Insisti.
- Não. - Foi a vez dela se levantar. A barriga apontava em minha direção assim como o seu dedo. - Acho que há algo de errado com você. Você é o problema. - Ela ergueu os braços. - Durante todos esses seis meses você tem me atormentado, encontrando desculpas! Foi você quem insistiu que eu estava grávida. Eu teria ficado perfeitamente bem sem você me perseguindo. Foi você quem me impediu de abortar e agora é você que não consegue deixar a criança ir! Você não consegue se segurar! - Havia mãos por toda parte e cabelo esvoaçando na sua cara furiosa.
- Bom, adivinha? A filha também é minha. É ao meu ver é só você quem pode tomar as decisões! - Espalmei minhas mãos na altura do peito em defensiva, erguendo minha voz pela primeira vez.
- Porque eu sou a mãe! E eu não quero ser a mãe dela porque eu não quero ser uma mãe de merda! Eu só vou ser a mãe de alguém quando eu estiver pronta para isso, pronta pra cuidar e dar atenção exclusivamente para a minha filha! - Ela pisoteou o chão, andando em círculos.
- Você é orgulhosa demais para voltar nas suas decisões e egoísta demais para deixar que, vamos ver, uma criança que vai sair de você atrapalhe seus planos. - Deixei escapar. Ela olhou para mim e pela primeira vez naquela briga, não vi raiva em seus olhos. Vi decepção.
- Quer saber? - Ela respirou fundo, parando no meio da sala. Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, passou os dedos sobre os olhos e cruzou os braços. - Fica com a sua filha, pode ficar com ela. Mas você vai lá falar com eles para revogar a porra do contrato que assinamos ontem, quando você poderia ter dado esse piti.
- É, eu acho que vou ficar com ela. Infelizmente vou ter que contar que a mãe dela é egoísta a ponto de preferir uma faculdade estúpida a ela.
Em passos largos atravessei a sala, passando por ela. Além disso tudo, eu ainda tinha perdido a hora do compromisso da banda. Uma gravadora queria nos contratar. Peguei meu celular e as chaves e bati a porta, sem nem olhar para a trás. Quando cheguei na calçada, o caos estava instalado numa rua que usualmente beirava a paz.

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