Perdidos, A História do Inferno

1. O Princípio

Os livros científicos dizem que antes do Universo ser Universo, ele não passava de uma grande massa cósmica cheia de energia acumulada, semelhante a um ovo. E então, um dia essa energia explodiu dando início a uma era de reações químicas que construíam e destruíam coisas, planetas, estrelas, buracos negros, nebulosas, asteróides até chegarmos ao lugar que hoje chamamos de lar.

Outros livros irão dizer que houve um criador onipotente que, em seis dias, deu origem a todas as coisas e no sétimo dia descansou. E existe uma ou outra cultura que dirá que a criação do Universo se deu em eras que duraram éons e que as criaturas que hoje existem são fruto do acasalamento entre os deuses, titãs, monstros, espíritos, ninfas, sátiros e tudo o mais.

Os humanos, há alguns séculos, tem se dividido em facções defendendo uma teoria e abolindo a outra sem tentar conciliá-las; vêem apenas um lado ou outro da moeda sem nunca nem mesmo ter cogitado que ambos a fazem

Se quiser ouvir, irei lhe contar a história correta desde o início até o momento em que os livros de história de seu colégio poderão lhe revelar o resto, vai ser fácil para mim, afinal eu sei tudo o que se passou após a minha criação e se considerarmos que fui um dos primeiros a ser criado, não é pouca coisa.

Eis a história:

No princípio não havia nada, tudo era apenas um vazio infinito. E havia o Líder. Ele sempre fora grande e majestoso, tinha poderes inimagináveis mas estava só e odiava isso. Passou décadas a fio buscando no nada algo ou alguém para lhe fazer companhia e quanto mais andava, mais solitário sentia-se.

E essa solidão era tão enormemente grande que havia tomado forma física. Virou um aglomerado de energia que cresceu e cresceu até o momento em que a película que a cobria se rompeu e deu início a formação do Universo. O Líder viu-se motivado a fazer algo a partir daquele instante e por isso pôs-se a modelar as coisas conforme sua vontade. Criando as galáxias, os planetas e as estrelas e organizando-os e controlando-os. É difícil dizer quanto tempo levou para que este trabalho fosse enfim terminado, o Líder não contava o tempo e seus sinais não eram percebidos uma vez que ele é imortal.

Mesmo após essa enorme construção, a solidão ainda estava instalada nele e, ao olhar para tudo aquilo, percebeu que não havia sequer um alguém ali, apenas vários algos sem vida. Foi então que decidiu criar seres vivos.

Fui o primeiro. E não sei exatamente o que o Líder esperava, mas quando me viu, sua surpresa foi gigantesca.

- O que você é? - perguntou-me.

- Não sei - disseram meus lábios, mais rápidos do que minha mente recém nascida.

- Eu te criei...? - perguntou mais ao vento que a mim, e ele mesmo se respondeu. - Sim, eu te criei!

- Então você sabe o que eu sou?

- Não, infelizmente não.

- Você não pode me dar um nome?

- Sim... - hesitou. - Você será um Serafim, primeiro deles e seu nome será... Metatron

Após isso, mais seres foram sendo criados e estabeleceram-se hierarquias e funções entre nós; conforme íamos desenvolvendo nossas habilidades e poderes, passamos a dar forma física àquilo que podíamos perceber que éramos bons. Entretanto havia grande dispersão entre nossas criações e, por isso, o Líder ordenou que colocássemos tudo no planeta que ele nos designaria: era um planeta azul, não muito grande, que ficava numa galáxia qualquer orbitando uma estrela que também não era assim tão grande; haviam mais oito planetas orbitando aquela estrela, dois a frente, mais próximos da estrela, do Azul e seis a trás, distanciando-se dela.